Incêndios voltam atenção ao transporte de cargas perigosas.

O transporte marítimo é passível de sinistros devido à sua natureza, mas nenhum deles é tão grave quanto um incêndio a bordo. Caso a tripulação não controle o fogo, ele pode se alastrar rapidamente não só comprometendo a carga, mas a integridade da tripulação e estrutura da embarcação. Somente no mês de março deste ano, a Maersk Line, maior transportadora de contêineres do mundo, passou por dois incêndios.

O navio Maresk Honam, um ultra-large container ship (ULCS), de 353 metros de comprimento total e 15.272 TEUs de capacidade estava indo de Cingapura para Suez, quando um incêndio teve início em um de seus porões de carga, no dia 6 de março. Sem sucesso, a tripulação enviou o sinal de distress, um alerta de emergência e pedido de socorro; 23 pessoas foram evacuadas para outro navio, mas o incidente deixou mortos e feridos.

Onze dias depois, em 17 de março, um incêndio logo abaixo do convés do Maersk Kensigton, embarcação para 6.188 TEUs, e foi contido pela tripulação, que utilizou todos os sistemas de CO2 existentes a bordo. A empresa informou que todos os 26 tripulantes encontram-se bem, em segurança e sem ferimentos.

É possível que possa haver relação entre os incêndios com o transporte de cargas perigosas que infelizmente, em muitos portos, ainda não são embarcadas com a documentação e identificação corretas. Existem cargas que quando submetidas ao calor da embarcação, somado ao clima local e ainda dentro de um container, estão suscetíveis à combustão espontânea.

O detalhamento das cargas deve constar no BL (bill of lading), de acordo com as regras internaconais (Hamburg, Hague ou Hague-Visby) porém, independente da regra, todas exigem o detalhamento da carga, com sua descrição, natureza, quantidade, qualidade e com a informação das leading marks (marcas e números de identificação).

Fora as regras de emissão do BL que valem para qualquer tipo de carga, o transporte de cargas perigosas é regido pelo International Maritime Dangerous Goods Code (IMDG), que oferece maiores cuidados e menor risco de acidentes à carga, pois estabelece todas as condições para acondicionamento, embalagem, rotulagem, documentação, estiva e todo o processo até o destinatário que sejam relativas às mercadorias perigosas. Seguir o IMDG Code corretamente garante a entrega da carga conforme o que foi contratado, visto que erros podem ocasionar atrasos no embarque e desembarque.

Para operações marítimas, é necessário disciplina e conhecimento não apenas técnico, mas da documentação de carga, legislação aplicável podem fazer diferença na preservação do bem estar humano, do meio ambiente e das empresas envolvidas.

Atualmente, existem seguradoras especializadas em cargas. O seguro de transporte internacional cobre as mercadorias transportadas contra os mais variados riscos, desde acidentes, operação de carga e descarga, queda, incêndio, roubo, extravio, molhadura e avaria grossa. Em caso de sinistro, as seguradoras são responsáveis por intermediar e coordenar as medidas de proteção às cargas seguradas. Dependendo da apólice, as seguradoras ficam responsáveis também após o desembarque e no percurso complementar até o destino final.