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Aço: alta exportação da China pressiona mercado brasileiro

Written by Redação Logcomex | 7.10.2024

O setor de aço no Brasil vive um momento desafiador, marcado por uma concorrência crescente com o aço importado da China a preços subsidiados. 

Essa situação tem gerado discussões como a ocorrida na reunião da Associação do Aço do Rio Grande do Sul (AARS), onde o presidente de uma grande siderúrgica brasileira abordou o tema e destacou os impactos para a cadeia produtiva brasileira. 

Segundo ele, quando há importação de aço chinês em larga escala, também se está importando mão de obra, já que os empregos deixam de ser gerados no país.

Na reunião foram apresentados dados relacionados à produção de aço da China, que evoluiu de 25% para mais de 50% na produção mundial, enquanto o Brasil manteve-se estagnado. 

Em números de produção, o Brasil passou de 33 milhões de toneladas em 2004 para 22 milhões até agosto deste ano. Já a China foi de 273 milhões de toneladas para 691 milhões. 

Aço chinês: desafios e impactos nas empresas brasileiras

Este cenário revela uma perda de competitividade global e um impacto direto na geração de empregos. Além disso,  o consumo per capita de aço no Brasil é um dos menores entre os países em desenvolvimento, o que limita o crescimento do setor.

Outro ponto que merece destaque é relacionado à prejudicialidade da entrada massiva do aço chinês para empresas como fabricantes de veículos, máquinas agrícolas e rodoviárias, que podem optar por importar produtos mais baratos, reduzindo a demanda pelo aço nacional.

Empresas que atuam no comércio global, como portos e operadoras de frete, podem se beneficiar com o aumento do volume de importações.

Porém, ao mesmo tempo, a falta de demanda por produtos industriais brasileiros prejudica a relação com clientes locais, afetando contratos de longo prazo e previsibilidade de negócios.

Oportunidades

Por outro lado, a pressão da concorrência pode ser uma oportunidade para as empresas brasileiras investirem na modernização industrial, buscando maior eficiência produtiva e sustentabilidade. 

O uso de tecnologias avançadas como automação e inteligência de dados pode ser um caminho para otimizar a produção.

Com a economia em crescimento, as empresas brasileiras têm a chance de capturar essa demanda crescente, especialmente em setores estratégicos como infraestrutura, que podem se beneficiar de políticas governamentais de incentivo à produção nacional.

Diante deste cenário, é preciso se posicionar estrategicamente para aproveitar as oportunidades que surgem com políticas de defesa comercial. 

A diversificação de mercados e a adoção de tecnologias inovadoras podem ser fatores determinantes para o crescimento do setor.

Aço: entenda o cenário do comércio global

De acordo com dados da Logcomex, de janeiro a agosto de 2024, as importações de aço provenientes da China apresentaram um aumento 25% em relação ao peso e um discreto aumento de 3% em relação ao FOB movimentado. 

Este cenário mostra que a quantidade das importações brasileiras aumentou por um preço mais baixo.

A NCM 7210.61.00 referente à produtos laminados planos, de ferro ou aço não ligado, de largura igual ou superior a 600mm, revestidos de ligas de alumínio-zinco, embora apresente o maior valor FOB de US$ 285 milhões, registrou queda de 13% nas exportações em comparação com o mesmo período de 2023.

Em contrapartida, a NCM 7208.39.90 – outros produtos laminados planos, de ferro ou aço não ligado, de largura igual ou superior a 600mm, não folheados ou chapeados, nem revestidos, em rolos, simplesmente laminados a quente, de espessura inferior a 3mm – registrou crescimento exponencial de 302% (US$98 milhões) no valor FOB exportado e de 320% (167,2 toneladas) no peso em Kg líquido, comparado com o mesmo período de 2023.

Ranking principais NCM exportadas pela China para o Brasil 

Conheça, a seguir as principais NCMs exportadas de janeiro a agosto de 2024 pela China:

  • NCM 7210.61.00 - Produtos laminados planos, de ferro ou aço não ligado, de largura igual ou superior a 600mm, revestidos de ligas de alumínio-zinco

Registrou queda de 13% no FOB movimentado (US$ 285 milhões) e discreto aumento no peso, saindo de 383 no período analisado em 2023, para 391 toneladas este ano.

  • NCM 7210.49.10 - Produtos laminados planos, de ferro ou aço não ligado, de largura igual ou superior a 600mm, folheados ou chapeados, ou revestidos, galvanizados por outro processo, de espessura inferior a 4,75mm

Essa NCM registrou discreto aumento de 9% no valor FOB exportado, US$ 246,5 milhões, e de 28% no peso, saindo de  277 toneladas de janeiro a agosto de 2023, para 246,5 toneladas no mesmo período de 2024.

  • NCM 7210.70.10 - Produtos laminados planos, de ferro ou aço não ligado, de largura igual ou superior a 600mm, folheados ou chapeados, pintados ou envernizados

Já essa NCM apresentou aumento de 32% no valor FOB exportado, representando US$ 125 milhões e de 55% no peso, em comparação com o mesmo período de 2023.

  • NCM 7208.39.90 — Outros produtos laminados planos, de ferro ou aço não ligado, de largura igual ou superior a 600mm, não folheados ou chapeados, nem revestidos, em rolos, simplesmente laminados a quente, de espessura inferior a 3mm 

Registrou crescimento exponencial de 302% no FOB exportado e de 320% no peso. No período analisado de 2023, o FOB saiu de US$ $24 milhões, para US$ 98 milhões em 2024.

  • NCM 7225.11.00 - Produtos laminados planos, de outras ligas de aço, de largura igual ou superior a 600mm, de aços ao silício, denominados magnéticos, de grãos orientados

Esta NCM apresentou redução de 32% no FOB exportado, saindo de US$ 89 milhões em 2023, para US$ milhões em neste ano.

Quais são os Estados brasileiros que mais importam?

O Estado de Santa Catarina aparece em primeiro lugar com US$ 690 milhões de FOB movimentado e uma representatividade nas operações de 51%.

Cidades como Joinville e Blumenau abrigam grandes empresas de metalurgia e fabricação que utilizam aço para produzir componentes industriais e produtos acabados. 

Além disso, o aço também é fundamental para a indústria de construção civil, que é uma parte significativa da economia catarinense.

Seguindo no ranking, o Amazonas (AM) vem em segundo lugar com US$ 170 milhões de FOB movimentado e 13% das operações.

Ceará (CE) está em terceiro lugar no ranking com US$ 149 milhões movimentados e 11% das operações, enquanto São Paulo (SP) aparece em quarta posição com US$ 87 milhões e apenas 6% de representatividade das operações.

O Piauí (PI) vem em quinta posição com apenas US$ 48 milhões e 4% de participação nas importações.

Principais Unidades de desembaraço aduaneiro no Brasil

O Porto de São Francisco do Sul é o principal terminal portuário que movimenta as importações das NCMs de aço advindas da China, representando 54% das operações e valor FOB de US$ 724 milhões.

Já o Porto de Manaus aparece em segundo lugar com 12% das operações e movimentação de US$ 164 milhões de janeiro a agosto de 2024

A IRF Porto de Pecém ocupa a terceira posição com US$ 118 de FOB movimentado e 9% das operações, seguida do Porto de Santos com FOB movimentado de US$ 104,5 milhões e 8% de representatividade.

Conclusão

A situação atual do setor no Brasil reflete um ambiente competitivo cada vez mais agressivo.

A concorrência do aço chinês subsidiado e comercializado a preços desleais vem pressionando as indústrias a buscarem soluções urgentes para evitar a perda de participação no mercado global.

No entanto, é possível reverter este cenário e fortalecer a economia local. A integração de práticas sustentáveis aliadas à implementação de tecnologias de ponta também contribuem para a competitividade do aço brasileiro que poderá passar a ser mais independente de importações da China.

Embora a volatilidade econômica e os desafios existam, as empresas podem e devem identificar oportunidades para agir e se destacar, principalmente em um cenário onde a digitalização está no centro das decisões dos gestores de comércio internacional.

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