A isenção da tarifa de importação de café cru, em vigor desde sexta-feira (14), não trará alívio à inflação brasileira. Segundo o Conselho Nacional do Café (CNC) e a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), a medida não tem efeito prático devido à escassez global do grão e às rígidas regras fitossanitárias.
O Brasil, maior produtor e exportador mundial, já enfrenta dificuldades com a oferta interna após safras frustradas, e importar não é viável. Apenas Vietnã e Peru poderiam fornecer café ao Brasil, mas os custos logísticos e sanitários tornam a operação inviável. Mesmo sem a taxa de 9%, o produto não chegaria a preços competitivos.
Em 2024, os preços do café ao consumidor já subiram 70%, impulsionados por exportações recordes e baixa produção global. No primeiro bimestre de 2025, a alta continuou acima de 20%. Apesar disso, os dados de importação mostram um movimento misto: em janeiro, as compras de café torrado (NCM 09012100) somaram $13,28 milhões, mas caíram 11% em fevereiro, para $11,82 milhões. No entanto, o volume importado aumentou 21%, indicando um recuo no preço médio do produto adquirido.
Silas Brasileiro, presidente do CNC, afirma que o problema não é a tarifa, mas a falta de produto disponível no mercado internacional. Ele critica a isenção do governo e defende ações para reduzir os custos internos da produção, como juros mais baixos para grandes produtores e menor carga tributária sobre insumos como combustíveis.
A expectativa para 2025 é de uma safra entre 60 e 62 milhões de sacas, segundo o CNC, acima das previsões do IBGE e da Conab, que estimam cerca de 52 milhões. Com uma colheita regular, os preços poderiam cair até pela metade, estabilizando o mercado.
O setor trabalha com o governo para aprimorar a previsão de safra, utilizando dados de satélite e revisando o tamanho do parque cafeeiro.