A indústria siderúrgica global enfrenta uma crise já bastante conhecida, com a China, maior produtora de aço do mundo, no epicentro deste cenário. A situação, que já supera as retrações vividas em 2008 e 2015, foi descrita como um "inverno rigoroso" por Hu Wangming, presidente da maior siderúrgica do mundo, responsável por 7% da produção global de aço.
A crise tem suas raízes principalmente na desaceleração do setor imobiliário chinês, que, ao lado da menor atividade industrial, reduziu drasticamente a demanda interna por aço. Essa queda na demanda, somada ao excesso de capacidade produtiva, levou a uma desvalorização histórica dos preços.
Os futuros das barras de aço em Xangai caíram mais de 4%, atingindo seus níveis mais baixos desde 2017. Além disso, o mercado de minério de ferro também sentiu os impactos, com quedas acentuadas nos preços internacionais.
Diferente das crises anteriores, resolvidas com pacotes massivos de estímulos econômicos, o atual momento não oferece a mesma perspectiva de recuperação.
O governo chinês, sob a liderança de Xi Jinping, busca remodelar a economia do país, afastando-se das soluções tradicionais de estímulo ao crescimento através de investimentos em infraestrutura e construção. Essa mudança agrava a situação, pois limita as expectativas de um resgate econômico que impulsionaria novamente a demanda por aço.
Outro aspecto que intensifica a crise é o aumento das exportações chinesas. As siderúrgicas do país, incapazes de absorver sua produção no mercado interno, estão exportando em níveis recordes, o que pressiona os mercados globais.
Estima-se que as exportações de aço da China ultrapassem 100 milhões de toneladas em 2024, o maior volume desde 2016. Esse aumento agressivo nas exportações afeta diretamente as indústrias siderúrgicas da Europa, América do Norte e outras partes da Ásia, gerando uma competição desleal e desencadeando medidas protecionistas em diversos países.
A grande siderúrgica chinesa, ciente dos desafios, adotou uma postura defensiva. O foco agora é preservar o caixa e mitigar riscos, com a empresa reforçando os controles financeiros e pedindo a seus departamentos para protegerem seus fluxos de caixa.
O lema adotado pelo grupo reflete o momento: "cash é mais importante que lucro". Para a empresa, e outras grandes siderúrgicas chinesas, esse período de crise exige uma gestão extremamente cautelosa, pois a recuperação pode demorar mais do que em crises anteriores.
Globalmente, o impacto é sentido por demais empresas, líderes do setor e com presença em mais de 120 países, que já reportaram quedas expressivas em seus lucros devido ao aumento das exportações chinesas e à queda nos preços do aço.
Essa crise destaca a importância de uma reestruturação no setor siderúrgico, que terá que lidar não só com a redução da demanda, mas também com a transição para mercados emergentes de aço, como o de energias renováveis e veículos elétricos. As siderúrgicas globais, especialmente na China, precisam se adaptar a essa nova realidade, na qual o crescimento vertiginoso do passado pode nunca mais se repetir.
Assim, a crise siderúrgica global, desencadeada pela desaceleração da China, coloca o setor em alerta máximo, com um futuro incerto à espera de soluções inovadoras e sustentáveis para sobreviver a este inverno prolongado e rigoroso.