A fabricante de laticínios francesa Danone passou a comprar soja de países asiáticos em vez de importar do Brasil, antecipando-se a uma nova regra da União Europeia que exige que empresas provem que não adquirem commodities de áreas desmatadas.
A notícia coloca em alerta produtores de soja brasileiros. Segundo dados da Logcomex, em 2024, até setembro, o bloco econômico respondeu por US$ 2,8 bilhões em importações da commodity, o que equivale a 7,2% de todas as exportações brasileiras do produto (US$ 38,9 bilhões).
A informação foi dada na semana passada à imprensa pelo diretor financeiro da companhia, Jurgen Esser, embora ele não tenha informado detalhes de quando especificamente foi feita a mudança e de quais países asiáticos são feitas as importações.
O regulamento de desmatamento da União Europeia (EUDR), que abrange importações de commodities como cacau, café e soja, está programado para entrar em vigor em 30 de dezembro, embora a Comissão da UE tenha proposto, neste mês, um adiamento de um ano.
Várias empresas europeias têm se preparado nos últimos anos para atender à nova norma, que prevê multas de até 20% do faturamento no caso de descumprimento.
Em 2023, a Danone usou 262 mil toneladas de produtos à base de soja para alimentar suas criações, além de 53 mil toneladas do grão diretamente na fabricação de seus produtos de leite de soja e iogurte de soja, segundo relatório da empresa.
A soja importada do Brasil era utilizada indiretamente para a produção de ração animal. Já a commodity destinada à fabricação de produtos da linha Alpro é comprada pela empresa do Canadá, França, Estados Unidos e Itália.
O Brasil lidera o ranking mundial de taxa anual de desmatamento de florestas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, com uma perda de 1,7 milhão de hectares de matas nativas por ano.
O país é hoje o maior exportador mundial de soja, à frente dos Estados Unidos. De acordo com dados da Logcomex, o volume de soja brasileira (NCM 1201.90.00) importada pela França vem caindo nos últimos anos, de 235,8 mil toneladas em 2021 para 109,7 mil toneladas em 2022 (-53,5%) e 64,4 mil toneladas em 2023 (-41,3%).
Ao mesmo tempo, as remessas para a China crescem, aumentando a dependência do Brasil de um único mercado consumidor. Embora o volume total de exportações brasileiras de soja tenha crescido 2,6% nos nove primeiros meses de 2024 ante o mesmo intervalo de 2023, a participação do país asiático chegou a 73,1% em 2024, contra 70,8% entre janeiro e setembro de 2023 e 67,1% nos mesmos meses de 2022.
O preço médio da commodity vem caindo nos últimos dois anos, o que fez com que o valor total das exportações de soja brasileira tenha recuado 14,5% entre 2023 e 2024, mesmo com o aumento no volume de carregamentos.