A supersafra de grãos do ciclo 2016/17, aliada aos preços em patamares considerados baixos em Chicago, evidenciou o déficit de armazenagem no Brasil. E, mais uma vez, soluções paliativas tiveram de ser adotadas para guardar parte das 211,9 milhões de toneladas de soja e milho produzidas no ciclo passado. Reflexo desse cenário, o mercado de silos- bolsa – armazéns que podem ser usados apenas uma única vez – praticamente dobrou, chegando a uma capacidade para estocar 16 milhões de toneladas em 2017.
A solução não é exatamente nova e ganhou mais popularidade no ciclo 2012/13, quando as safras de soja e milho somaram 163 milhões de toneladas, 17% acima da safra anterior. Em 2012, foram utilizadas 50 mil unidades de silo bolsas no país, ante 30 mil em 2011. O crescimento médio, desde então, tem sido entre 20% e 25% ao ano, segundo a Electro Plastic, empresa nacional que respondeu por 25% das vendas no Brasil em 2017.
No ano passado, com o recorde de produção na safra 2016/17, o número de silos chegou a 80 mil unidades, segundo estimativa da Agrolord, com sede em Sorocaba (SP) e que tem 20% do mercado nacional. Cada silo, segundo Herrmann Elias Moura, presidente da Agrolord, tem capacidade para armazenar 200 toneladas de grãos.
A argentina Ipesa, líder nesse mercado no Brasil com 60% de participação, forneceu armazéns temporários para 10 milhões de toneladas de soja em 2017. “Pouco mais que o dobro de 2016”, afirmou Demian Baum, diretor da filial brasileira.
A demanda para este ano deve continuar a crescer, embora num ritmo mais lento. Segundo projeções da Conab, a produção de soja na safra 2017/18 deve chegar a 110,4 milhões de toneladas e a de milho, a 92,4 milhões de toneladas. Além disso, parte da produção do ciclo 2016/17 ainda está nos armazéns e a comercialização antecipada da safra 2017/18 está mais lenta.
Com a expectativa de pouca mudança dos patamares atuais de preço da soja e milho em Chicago, o produtor tende a segurar as vendas como na temporada passada. Dessa forma, quando o milho safrinha chegar ao mercado, em meados de junho, os silos estáticos estarão cheios de soja do ciclo 2017/18.
De acordo com Fábio Ferraz, gestor comercial da Electro Plastic, a tendência é que o silo-bolsa ganhe mais popularidade. “Há muito potencial. Na Argentina, mais de 50% da produção é armazenada com silo-bolsa. Aqui, ainda é menos de 10%”, disse.
Baum, da Ipesa, acredita que a empresa deverá produzir este ano silos-bolsa para um volume 30% superior ao de 2017. Segundo ele, um silo-bolsa custa, em média, 30 vezes menos que o armazém estático, e é uma opção interessante quando a produção ultrapassa a capacidade de armazenamento do agricultor. “Cada saca colocada no silo bag custa em média R$ 1”, disse.
Segundo as empresas, os Estados do Centro-Oeste são os que mais demandam silos temporários, reflexo da grande produção da região. E no Matopiba – confluência entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia -, a pouca estrutura propicia um uso cada vez maior desse tipo de solução.
Já os Estados do Sul do país, que têm uma estrutura maior e mais organizada de armazéns estáticos, demandam menos. Ainda assim, segundo dados da Conab, existe um déficit de 13,3% de armazenagem na região, considerando a diferença entre a capacidade estática de armazenamento e a produção de grãos. A região com maior déficit, com base nessa diferença, é a Centro-Oeste, com 42,8%.
No Paraná – segundo maior Estado produtor de grãos do país – ainda restam nos armazéns cerca de 8,8 milhões de toneladas de soja, milho e trigo do ciclo 2016/17. E, em algumas semanas começarão a sair dos campos as 19,3 milhões de toneladas de soja da temporada 2017/18. Assim, o silo-bolsa pode ser uma alternativa para armazenar os grãos.
Segundo Divanir Higino, presidente da Cocamar, uma das maiores cooperativas do Estado com sede em Maringá, o problema de falta de armazéns levou à contratação de espaço originalmente usado para armazenar açúcar para guardar os grãos da safra 2016/17. “Havia gente alugando até apartamento para colocar soja aqui no Paraná”, disse.
Fonte: Valor