Redução dos embarques da China para o Brasil e os impactos causados

A China é o principal fornecedor de produtos para o mundo, diversas nações dependem de sua produção e venda para movimentar suas atividades econômicas, desde itens básicos, matéria prima até bens luxuosos.

No início dos anos 2000, muitas fábricas aproveitaram a mão de obra barata e se estabeleceram na China, para produzir e exportar com preço competitivo. Porém, assumiram outros riscos em se estabelecer no país.

Após o grande crescimento da economia chinesa, o gigante se tornou o principal parceiro de muitos países, incluindo o Brasil.

Em 2019, as exportações brasileiras para a China representaram 28,1% de todas as vendas internacionais. Nas importações, representou 19,9% de todas as compras do país. 

A dependência de produtos chineses por fábricas brasileiras, se tornou um grande risco para a produção no primeiro trimestre de 2020. Isto é, durante o surto da COVID-19 na China.

Primeiro caso de coronavírus na China

O primeiro registro do coronavírus  na China, foi realizado no dia 31 de dezembro de 2019, em Wuhan, onde foi o foco da doença.

Como medida de contenção a proliferação desse vírus, autoridades chinesas estenderam o feriado de ano novo lunar.

Também impediram que pessoas saíssem de suas casas, dessa forma isolando sua população, iniciando por Wuhan.

De 25 de janeiro até 10 de fevereiro, foram tomadas as medidas de isolamento total. A produção foi encerrada, paralisando a economia chinesa, que registrou pela primeira vez em 30 anos uma contração de 13,5% na produção industrial. 

A falta de produção e venda afetou a economia não só do gigante asiático, mas também de seus seus principais parceiros comerciais.

Afinal, as áreas afetadas foram no centro de muitas cadeias de suprimentos globais, como Wuhan — que é um grande polo industrial.

Com a drástica queda na produção, as exportações da China para o exterior foram reduzidas em aproximadamente 17%, entrando menos capital estrangeiro no gigante asiático.

Consequentemente, a taxa de desemprego se elevou, gerando menos renda e consumo, reduzindo investimentos externo, de crescimento e de desenvolvimento. 

As consequências listadas acima foram sentidas na economia global e não serão recuperadas tão cedo. 

Aqui no Brasil, por exemplo, diversas indústrias relataram a pausa ou interrupção de sua produção por falta de componentes industriais, que muitas vezes só são produzidos na China. Ou seja, há uma grande vulnerabilidade por parte de fábricas brasileiras ao necessitar produtos chineses. 

A balança comercial brasileira registrou uma queda de 3,6% nas importações, comparando o mesmo período em 2019 (janeiro e fevereiro).

Os setor mais prejudicado no Brasil, foi a indústria da transformação, isto é, a transformação de matéria prima em produto final. Por exemplo, indústria automotiva, de eletrônicos, eletrodomésticos, têxtil, entre outras.

Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), 60% dos insumos, componentes e matéria prima para produção de eletroeletrônicos são importados. Sendo que apenas 40% possuem origem nacional.

Reflexo da redução dos embarques da China para o Brasil nas importações
Reflexo da redução dos embarques da China para o Brasil nas importações

Comparando alguns produtos importados:

Em consequência da redução redução dos embarques da China para o Brasil, houve redução na importação de equipamentos de telecomunicações, incluindo peças e acessórios, a queda foi de 5,9%.

Reflexo da redução dos embarques da China para o Brasil nas importações de equipamentos de telecomunicações
Reflexo da redução dos embarques da China para o Brasil nas importações de equipamentos de telecomunicações

Na importação de máquinas e aparelhos elétricos a queda causada pela redução dos embarques da China para o Brasil foi de 2,4%.

Reflexo da redução dos embarques da China para o Brasil nas importações de máquinas e aparelhos elétricos
Reflexo da redução dos embarques da China para o Brasil nas importações de máquinas e aparelhos elétricos

Já na importação de tecidos, tramas, de matérias têxteis sintéticas ou artificiais, foi reduzido 6,7% em decorrência da redução dos embarques da China para o Brasil. 

Reflexo da redução dos embarques da China para o Brasil nas importações de tecidos
Reflexo da redução dos embarques da China para o Brasil nas importações de tecidos

A importação de alumínio também foi afetada — sofrendo uma queda de 21,3%.

Reflexo da redução dos embarques da China para o Brasil nas importações de alumínio
Reflexo da redução dos embarques da China para o Brasil nas importações de alumínio

A importação de partes e acessórios de veículos automotivos sofreu queda de 15%

Reflexo da redução dos embarques da China para o Brasil nas importações de alumínio
Reflexo da redução dos embarques da China para o Brasil nas importações de alumínio

Por fim, uma das maiores quedas foi sentida na importação de fertilizantes e adubos químicos: 42,4%

Reflexo da redução dos embarques da China para o Brasil nas importações de alumínio
Reflexo da redução dos embarques da China para o Brasil nas importações de alumínio

Para alguns, esses números podem parecer baixos, porém se entendermos que a maioria das indústrias trabalham com pouco estoque, esse assunto causa muito impacto na economia e na sobrevivência dessas empresas.

Os impactos causados

Os produtos listados acima, são componentes essenciais para fabricação de produtos brasileiros como fogões, geladeiras, máquinas de lavar roupa, secadores de cabelo, equipamentos de áudio e vídeo, televisores, ventiladores, eletrônicos, máquinas, motores, automóveis entre muitos outros produtos.

A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE) constatou dia 27 de março que,  24% das fábricas do setor eletrônico operam em paralisação. Dessas, 58% parcialmente paralisadas e 42% totalmente paralisadas . 

Aproximadamente 70% das empresas desse ramo afirmaram que tiveram dificuldades no abastecimento de materiais, componentes e insumos oriundos da China.

Quando o gigante asiático, voltou a fornecer os produtos, as empresas brasileiras foram obrigadas a realizar processos de contingência. Afinal, o coronavírus havia chegado ao Brasil.

Além disso, as empresas participantes, afirmaram que a situação das indústrias só iria se regular 63 dias após a retomada total dos embarques de materiais, componentes ou insumos da China. Além disso, novas tecnologias e lançamentos foram adiados até a redução do surto da doença.

Por esse desequilíbrio na economia, somado a falta de produção e aumento do dólar, houve aumento nos preços dos produtos — que, consequentemente, foram repassados ao consumidor final.

Fonte: Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais – SECINT
Fonte: Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica.

Artigo escrito por Kauana Benthien A. Pacheco

Kauana tem seis anos de experiência no comex, é formada em Negócios Internacionais e cursa pós graduação em Big Data & Market Intelligence. É criadora da página de conteúdo sobre comércio exterior, ComexLand, onde escreve sobre economia global e comércio internacional.