A disparada da cotação do café no comércio global para o Brasil, maior produtor mundial da commodity, tem feito a indústria voltar a discutir a possibilidade de importar o grão verde, embora analistas considerem que a medida não ajudaria a baixar os preços no mercado interno.
O preço do café vem batendo recordes sucessivos diariamente desde o último dia 20, de acordo com indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP).
A saca de 60 kg do tipo arábica, que em 31 de janeiro de 2024 valia R$ 1.018,78, chegou um ano depois aos R$ 2.508,18, uma alta de 146% em doze meses.
No varejo, o preço médio do quilo de café torrado e moído saltou de R$ 29,62 em janeiro do ano passado para R$ 42,65 em dezembro, um aumento de 44%, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic).
A dinâmica dos preços do grão estimula produtores nacionais a voltar sua produção à exportação. Em 2024, as vendas externas de café brasileiro registraram recorde histórico, mostra relatório do Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Considerando todas as variedades do grão, o Brasil enviou 50,4 milhões de sacas a 116 países em 2024, um avanço de 28,5% na comparação com o ano anterior e de 12,8% em relação ao recorde anterior, registrado no ano de 2020.
De acordo com dados da plataforma NCM Intel, da Logcomex, o valor total (FOB) das exportações de café (SH4 0901) chegou a US$ 11,4 bilhões, alta de 54,7% em relação a 2023.
Cerca de 69% do faturamento com as vendas do setor para outros países correspondem a cargas provenientes do estado de Minas Gerais, que saem. A maior parte das exportações (69%) é feita pelo Porto de Santos (SP).
Já os principais destinos internacionais do café brasileiro em 2024 foram Estados Unidos (20%), Alemanha (19%), Bélgica (11%) e Itália (10%).
A disparada no preço internacional do café está relacionada a fatores climáticos, que derrubaram a produção nos últimos anos nos principais países produtores, como Brasil, Vietnã, Colômbia e Indonésia.
Na esteira da proposta do governo de reduzir alíquotas do imposto de importação para baratear o preço de alguns alimentos, o setor considera a importação do café verde.
Embora, via de regra, o Brasil não permita a compra de grãos crus no mercado internacional, em casos excepcionais a importação pode ocorrer desde que seja para industrialização de café destinado à exportação, por meio de um regime aduaneiro conhecido como drawback.
Analistas consideram, no entanto, que a medida não teria eficácia, uma vez que a escassez da commodity ocorre em nível global. Além disso, a importação de café por um de seus principais produtores do mundo, poderia fazer as cotações subirem ainda mais.