A União Europeia (UE) decidiu impor novas tarifas de importação sobre veículos elétricos chineses, que agora podem chegar a 45,3%, dependendo da fabricante. A decisão tem o potencial de levar montadoras chinesas a deslocar o fluxo de exportações para mercados com menores barreiras econômicas, caso do Brasil.
Embora tenha voltado a aplicar imposto de importação sobre automóveis híbridos e elétricos no início deste ano, o governo brasileiro estabeleceu um cronograma para a retomada gradual da tarifa.
Em janeiro de 2024, o Brasil passou a taxar em 10% as importações de carros elétricos puros, 12% de híbridos plug-in e 15% dos demais híbridos. A partir de julho, a tributação subiu para 18%, 20% e 25%, respectivamente.
Em julho de 2025, o imposto salta para 25%, 28% e 30%, e em julho de 2026 vai a 35% para as três categorias, ainda abaixo da tarifa limite já em vigor na UE.
As marcas chinesas estão atentas às mudanças tributárias globais. No contexto brasileiro, a decisão de retomar a cobrança do imposto pela Câmara de Comércio Exterior (Camex) foi seguida por uma disparada nas importações de veículos elétricos antes do aumento da alíquota.
Segundo dados da Logcomex, no primeiro semestre de 2024, ainda sob a menor tarifa para o segmento, a quantidade de veículos elétricos puros importados (NCM 8703.80.00) disparou 900% na comparação com o mesmo período do ano passado. Foram 68,5 mil unidades entrantes no Brasil, contra 3,6 mil no primeiro semestre de 2023.
O valor total das importações subiu 1.100%, de US$ 112,7 milhões (FOB) nos seis primeiros meses de 2023, para US$ 1,3 bilhão (FOB), no mesmo intervalo de 2024. Desse montante, US$ 1,2 bilhão (89%) veio da China.
O volume de importações aumentou às vésperas do aumento do imposto. Somente no mês de junho, chegaram ao Brasil 32 mil unidades com motor 100% elétrico, 46,7% do total do primeiro semestre. Em julho, a quantidade despencou para 2,6 mil. Em setembro, o setor somou 423 carros elétricos importados.
A Comissão Europeia justificou a taxação como uma resposta necessária ao que considera subsídios injustos concedidos aos fabricantes chineses. Conforme uma investigação do órgão, as medidas incluiriam financiamento preferencial, subsídios e acesso a terrenos, baterias e matérias-primas a preços abaixo do mercado.
Com a capacidade de produção chinesa de carros elétricos atualmente em 3 milhões de veículos por ano (o dobro da UE), a Comissão está preocupada com o potencial “inundação” de modelos chineses nos países do bloco, especialmente considerando que mercados como Estados Unidos e Canadá já aplicam tarifas de 100% sobre os importados do país asiático.
As novas tarifas da UE vão variar de acordo com o fabricante. Sobre os modelos da Tesla fabricados na China incidirá uma tarifa de 7,8%, enquanto os carros da chinesa SAIC estarão sujeitos a uma tarifa de 35,3%. Veículos da BYD recolherão 17%, e os da Geely, 18,8%. Essas alíquotas se somam à tarifa padrão de importação de carros da UE, que é de 10%, alcançando, portanto, os 45,3%, no máximo.
A Comissão destacou que os modelos chineses têm preços em média 20% mais baixos do que os fabricados na UE. Aprovada na terça-feira (29), a tributação entrou em vigor quarta-feira (30). A decisão, no entanto, não foi unânime. A Alemanha, sede de importantes marcas automotivas, como Audi, BMW, Mercedes-Benz e Volkswagen, se opôs às tarifas.
Montadoras do país expressaram preocupação com uma eventual resposta chinesa por meio da imposição de tarifas mais altas sobre veículos a combustão de alta cilindrada.
O momento em que a discussão ocorre é sensível para os alemães, uma vez que operários de fábricas do país, incluindo funcionários da Volkswagen, estão em greve por reajustes salariais. A montadora também considera o fechamento, sem precedentes, de algumas unidades fabris.
A associação automobilística francesa PFA, por sua vez, elogiou a decisão. Na votação, 10 estados membros da UE apoiaram as novas taxas, cinco se opuseram e 12 se abstiveram.
A China classificou as novas tarifas da UE como protecionistas e prejudiciais às relações bilaterais e às cadeias de suprimentos. Em resposta, o país asiático iniciou investigações sobre produtos de conhaque, laticínios e carne suína de países europeus e contestou as medidas provisórias da UE na Organização Mundial do Comércio (OMC).
O impacto das tarifas nos preços ao consumidor final ainda é incerto, já que alguns fabricantes teriam condições de absorver os novos custos. De acordo com dados da Associação Chinesa de Carros de Passageiros, as exportações de carros elétricos da China para a UE nos primeiros nove meses de 2024 caíram 7% na comparação com o mesmo período de 2023, mas houve crescimento em agosto e setembro, a medida que as empresas chinesas se antecipavam às novas tarifas.