O ano de 2025 será desafiador para o transporte marítimo de contêineres diante dos riscos geopolíticos que podem perturbar as cadeias de suprimento globais. O alerta é da empresa de inteligência em fretes marítimos norueguesa Xeneta, em relatório prognóstico para o próximo ano.
O relatório destaca que os conflitos no Mar Vermelho que marcaram o ano de 2024 para o transporte marítimo devem persistir no próximo ano, sem qualquer sinal de estabilidade que permita o regresso seguro dos navios porta-contentores à região.
Na semana passada, o presidente-executivo do grupo dinamarquês Maersk, Vincent Clerc, declarou que não espera retomar a navegação pelo Canal de Suez “até bem depois de 2025”.
De acordo com a Xeneta, os desvios das rotas que passavam pelo Mar Vermelho para o entorno da África aumentaram a demanda e, embora novos navios e um crescimento mais lento do volume de TEU possam ajudar a aliviar um gargalo logístico, outro grande evento do tipo não seria compensado por esse fatores.
Segundo o estudo, preocupações geopolíticas para 2025 incluem a possibilidade de uma escalada do conflito no Estreito de Taiwan, um potencial conflito no Bangladesh e o agravamento da situação no Oriente Médio, em especial no Golfo Pérsico.
Desde o fim do ano passado, ataques de militantes Houthis a embarcações no Mar Vermelho interromperam a rota, forçando o redirecionamento de remessas, causando congestionamento em portos asiáticos e europeus e elevando as taxas de frete em todo o mundo.
As rotas com origem ou destino no Brasil foram diretamente impactadas pela mudança, que afetou toda a logística mundial. Em fevereiro, o custo médio para importar um contêiner de 20 pés da China para o Brasil era, em média, de US$ 3.235. Já uma operação idêntica agendada para novembro tem o valor médio de US$ 11.293, um aumento de 249%.
De acordo com os analistas da Xeneta, a procura por transporte marítimo de contêineres deverá crescer 3% em 2025, ligeiramente abaixo do crescimento de entre 4% e 5% em 2024, quando o volume ultrapassará a marca dos 180 milhões de TEU.
O comércio da China para o México, no entanto, deve continuar a aumentar, impulsionado pela tensão entre China e Estados Unidos (o México funciona como uma espécie de “porta dos fundos” para evitar as tarifas americanas contra produtos chineses).
No acumulado do ano, a procura de TEU entre China e México aumentou 22,1% em comparação com 2023, após outro salto, de 34,6%, em 2023.
O novo governo dos Estados Unidos também pode reconfigurar o cenário, ainda segundo o relatório, com possíveis novas tarifas sobre as importações chinesas, levando os transportadores a reconsiderar rotas e possivelmente aumentar importações do México.
O transporte marítimo é a principal via utilizada pelo comércio exterior brasileiro. Segundo dados da Logcomex, nos nove primeiros meses de 2024, 89,4% do valor total (FOB) de mercadorias enviadas ao exterior partiram do Brasil em navios. Isso equivale a US$ 228 bilhões em cargas exportadas pelos mares.
Já entre as remessas estrangeiras compradas pelo Brasil entre janeiro e setembro, US$ 145,9 bilhões (FOB) foram importados por via marítima, o que corresponde a 74,5% de todas as importações brasileiras no período.