No comércio exterior, manter o capital de giro em equilíbrio é um dos maiores desafios. É nesse cenário que o Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) e o Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACE) se tornam ferramentas estratégicas, pois são os principais mecanismos de financiamento que antecipam recursos ao exportador.
Essas modalidades são alternativas cruciais para enfrentar uma realidade comum nas operações de exportação, o descasamento entre: custo de produção ou envio da mercadoria; e recebimento do pagamento do exterior.
Enquanto a receita em moeda estrangeira demora a ingressar no caixa, o exportador precisa antecipar gastos significativos, como compra de matérias-primas, pagamento de fornecedores e de mão de obra, aquisição de embalagens, contratação de transporte, acerto de custos logísticos internacionais e por aí vai.
O intervalo entre o desembolso antecipado e o pagamento futuro pode comprometer a liquidez e a previsibilidade financeira do negócio, especialmente em mercados que operam com prazos longos de embarque ou de pagamento (como 60, 90 ou até 180 dias).
Para suprir essa lacuna e garantir liquidez, o sistema financeiro oferece o ACC e o ACE. Ambos são adiantamentos de recursos em moeda nacional (reais), concedidos com base em vendas futuras em moeda estrangeira, permitindo ao exportador acessar capital antes mesmo de receber o pagamento do comprador internacional.
Assim, o ACC e o ACE se consolidam como ferramentas estratégicas de liquidez e previsibilidade, essenciais para manter a produção em ritmo constante e sustentar a competitividade das empresas brasileiras no mercado global.
ACC e ACE são modalidades de câmbio para exportação que permitem o exportador receber, em dado momento, um valor que só seria pago depois pelo comprador internacional. Eles se baseiam em adiantamentos feitos pelo banco, lastreados em uma exportação contratada.
A principal diferença entre eles é o timing da operação:
Ou seja, os dois instrumentos têm a mesma lógica – antecipar valores que o exportador tem a receber do exterior –, mas são aplicados em momentos diferentes da operação.
O ACC é o financiamento pré-embarque que permite ao exportador receber, de forma antecipada e em reais, os valores de uma venda futura em moeda estrangeira.
Seu objetivo é financiar as etapas produtivas e de preparação da mercadoria para exportação, como:
O ACC funciona como uma antecipação de receita futura, oferecendo capital de giro para custear a operação sem comprometer a liquidez imediata da empresa.
Ao firmar o contrato de câmbio com o banco antes do embarque, o exportador consegue travar a taxa de câmbio que será usada na liquidação futura. Isso protege a operação contra variações cambiais desfavoráveis (como uma queda do dólar), assegurando uma previsibilidade financeira essencial para o planejamento de margem e precificação.
O Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACE) é uma modalidade de financiamento pós-embarque, utilizada após o envio da mercadoria ao exterior.
Enquanto o ACC financia a fase de produção, o ACE garante antecipação de caixa depois que a exportação foi realizada, ainda que sendo, também, um adiantamento sobre valores que o exportador ainda receberá do comprador estrangeiro.
Nessa operação, o exportador já possui os documentos cambiais – como invoice, conhecimento de embarque (bill of lading) e certificado de origem – e os entrega ao banco para solicitar o adiantamento.
Com base nesses comprovantes, a instituição financeira antecipa o valor em moeda nacional (reais), liquidando a operação quando o pagamento é efetuado pelo importador em moeda estrangeira.
O objetivo principal do ACE é transformar uma venda a prazo em capital de giro instantâneo, garantindo o fluxo de caixa imediato durante o período de espera pelo recebimento da venda internacional.
Além de garantir liquidez, o ACE oferece custos financeiros competitivos, menor risco bancário (já que a exportação foi concluída) e simplicidade documental, sendo uma alternativa eficiente para empresas que desejam manter o ritmo de operação e reinvestir rapidamente.
De acordo com as diretrizes do Banco Central, o ACE pode ser contratado até a data de liquidação do contrato de câmbio, que corresponde ao momento em que o importador efetua o pagamento.
Sendo assim, o ACE se tornou, como o ACC, parte essencial das estratégias de financiamento internacional, ajudando empresas brasileiras a equilibrar caixa, reduzir riscos e fortalecer posicionamento competitivo.
Leia também: Por que a análise de concorrentes é essencial para exportadores?
Nesta operação, o exportador já possui e deve entregar ao banco os documentos cambiais que comprovem o envio e a venda. Estes documentos incluem:
Com base nesses comprovantes, o banco antecipa o valor em reais, liquidando a operação quando o importador efetua o pagamento em moeda estrangeira.
Entender o fluxo operacional do ACC e do ACE dentro das modalidades de câmbio para exportação é essencial para que o exportador saiba em que momento cada um pode ser utilizado e como eles se complementam ao longo do ciclo da exportação.
A seguir, veja o passo a passo simplificado de como essas operações funcionam na prática.
O processo começa com a negociação da exportação entre o vendedor brasileiro e o comprador internacional. Nessa etapa, são definidos o produto, o valor, o prazo de pagamento, o incoterm e as condições gerais da operação.
Com o contrato de venda fechado, o exportador procura uma instituição financeira autorizada a operar em câmbio, responsável por formalizar o contrato de câmbio e oferecer as linhas de financiamento disponíveis.
O banco analisa o histórico de crédito da empresa e as condições da operação antes de aprovar o adiantamento.
Se o exportador precisa de recursos para produzir, comprar insumos ou preparar a mercadoria, ele pode optar pelo ACC.
Nesse caso, o banco antecipa o valor em moeda nacional (reais) antes do embarque, permitindo que a empresa financie a fase produtiva com custo financeiro mais competitivo e proteção cambial.
Após a produção e a liberação do pedido, ocorre o embarque da mercadoria.
Com o envio concluído, o exportador reúne a documentação que comprova a exportação – como invoice, conhecimento de embarque (bill of lading), certificado de origem e demais documentos exigidos pelo contrato.
Depois do embarque, o exportador pode solicitar o ACE. Ao apresentar os documentos cambiais ao banco, ele recebe o valor correspondente em reais, antecipando o pagamento que ainda será feito pelo importador.
Essa operação garante acesso rápido ao capital durante o período de espera pelo recebimento em moeda estrangeira.
Tanto no ACC quanto no ACE, o exportador recebe os recursos em reais, diretamente na conta corrente.
Esses valores podem ser utilizados livremente – seja para capital de giro, reinvestimento produtivo ou cobertura de custos logísticos –, garantindo que a empresa mantenha saúde financeira e previsibilidade de caixa.
Quando o importador efetua o pagamento no exterior e em moeda estrangeira, os recursos são recebidos pelo banco e utilizados para liquidar a operação de câmbio.
Nesse momento, a operação de adiantamento é encerrada, e eventuais diferenças cambiais ou ajustes financeiros são reconciliados.
Sim. Após o embarque da mercadoria, o ACC pode ser convertido em ACE. Na prática, ocorre uma "virada" contábil e contratual, onde o tipo de financiamento muda conforme o estágio da exportação: do pré-embarque (ACC) para pós-embarque (ACE), mantendo o crédito ativo até o recebimento final.
O exportador contrata o ACC para obter capital antes do envio da mercadoria. Após o embarque, quando a operação está documentada, o banco pode prorrogar o adiantamento sob a forma de ACE, mantendo o mesmo crédito ativo até o recebimento do pagamento em moeda estrangeira.
ACC e ACE resolvem o problema estrutural do comércio exterior: a necessidade de o exportador pagar antes e receber depois. Quando utilizados, esses instrumentos oferecem ganhos que vão além do simples adiantamento.
Essa é a vantagem mais direta. Ao usar ACC (pré-embarque) ou ACE (pós-embarque), o exportador transforma uma venda a prazo em recebimento à vista em reais.
Em vez de esperar o pagamento do comprador no exterior – que muitas vezes ocorre só após o desembaraço e dentro do prazo acordado (30, 60, 90 dias ou mais) –, a empresa recebe os recursos imediatamente do banco e pode:
Isso dá previsibilidade de caixa, algo essencial para quem trabalha com ciclos longos de exportação.
As taxas de juros do ACC e do ACE costumam ser mais baixas do que as linhas tradicionais de capital de giro doméstico. Por estarem vinculadas a uma exportação real (e ao fomento do setor), o custo do financiamento é:
Resultado: o exportador financia sua operação com um custo financeiro que faz sentido para o comércio exterior – e não com crédito genérico, quase sempre desvantajoso.
Tanto no ACC quanto no ACE, o exportador firma um contrato de câmbio com o banco. Na prática, isso significa que ele “trava” a taxa de câmbio que será usada na liquidação futura. E por que isso importa?
Porque, entre o momento da venda e o momento do recebimento, o dólar (ou a moeda de pagamento) pode oscilar. Se a moeda cair, a receita em reais pode ser menor do que o previsto.
Ao fechar o câmbio antecipadamente dentro do ACC/ACE:
Ou seja, o financiamento não resolve só o caixa; ele também mitiga risco de câmbio, algo muito valorizado por empresas que operam com contratos longos ou margens apertadas.
Caixa na mão é poder de negociação. Quando o exportador tem liquidez porque fez ACC e/ou ACE, ele consegue oferecer condições melhores ao cliente internacional, como:
Isso torna a proposta brasileira mais atraente frente a concorrentes de outros países, principalmente em mercados onde o comprador exige prazo.
Em vez de dizer “só vendo à vista”, o exportador pode dizer “eu vendo a prazo porque eu já recebi aqui no Brasil via ACC/ACE”.
Na prática, o banco financia o exportador para o exportador financiar o cliente sem descapitalizar a empresa.
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O ACC e o ACE podem ser contratados por qualquer empresa exportadora, independentemente do porte, desde que possua uma operação de exportação formalizada. Os principais requisitos são:
Esses instrumentos estão previstos na regulamentação cambial vigente e devem ser registrados no Sistema de Informações do Banco Central (SISBACEN). A negociação das condições – como prazo, taxa de juros e encargos – é feita diretamente com o banco autorizado.
Regulamentadas pelo Banco Central do Brasil e amplamente utilizadas no mercado, as operações de ACC e ACE são mais do que simples instrumentos de câmbio. São ferramentas estratégicas de financiamento à exportação que permitem ao exportador equilibrar fluxo de caixa, reduzir riscos e aumentar o posicionamento competitivo.
Quando bem estruturados, esses instrumentos oferecem previsibilidade financeira e proteção cambial, ajudando as empresas a sustentar o crescimento mesmo diante das incertezas do mercado internacional.
Mas, no cenário atual, financiamento e crédito são apenas parte da equação. O verdadeiro diferencial competitivo vem da inteligência aplicada à tomada de decisão.
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