Analistas da casa de seguros britânica Lloyd’s e do Cambridge Centre for Risk Studies publicaram um estudo que estima em até US$ 50 trilhões as perdas econômicas dos próximos cinco anos que podem advir de cenários que incluem conflitos geopolíticos, além de ciberataques e eventos climáticos extremos.
Considerados riscos sistêmicos, embora pouco prováveis, os eventos têm suas consequências potenciais classificadas em três níveis de gravidade e projetadas em termos de impactos econômicos e sociais para 107 países.
A análise utiliza o Produto Interno Bruto (PIB) global como medida de referência. As projeções de riscos variam de US$ 7,8 trilhões a US$ 50 trilhões, dependendo da severidade do cenário.
De acordo com o relatório, mais de 80% das importações e exportações do mundo – o que equivale a cerca de 11 bilhões de toneladas de mercadorias – estão em trânsito marítimo a qualquer momento. Nesse sentido, a interrupção do acesso a apenas uma rota comercial considerada essencial, em razão de um conflito, pode comprometer até 80% das importações e do fornecimento de energia de um país.
O impacto econômico seria amplificado por danos severos à infraestrutura na região afetada e pela necessidade de reconfiguração das redes comerciais globais, impulsionada por sanções e dificuldades nas linhas de navegação.
As consequências para as empresas iriam variar de acordo com a localização geográfica e a dependência do comércio internacional.
A Europa, que depende fortemente de nações industrialmente avançadas para suprimentos como semicondutores, poderia enfrentar perdas de até US$ 3,4 trilhões. A China, considerada a nação mais exposta em um cenário de conflito geopolítico poderia experimentar perdas de até US$ 4,8 trilhões.
O Brasil é hoje o 23º maior exportador mundial, com 2% das vendas globais em termos de valor. Em 2023, as exportações brasileiras somaram US$ 339,7 bilhões (FOB), segundo dados da Logcomex. Nos primeiros nove meses de 2024, as vendas para outros países somaram US$ 255,5 bilhões, 0,8% acima do mesmo período do ano passado.
Já em termos de importações, o Brasil é o 26º país do mundo, com participação de 1% no comércio global. No ano passado, o país importou US$ 240,8 bilhões em mercadorias. Considerando o período de janeiro a setembro, as importações brasileiras cresceram 8% em 2024 (US$ 196,3 bilhões).
Embora, até o momento, os conflitos do século 21 não tenham levado a uma situação crítica extrema do comércio global, o estudo ressalta que os riscos estão postos.
No estudo, os autores citam a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2022, como uma evidência da complexidade de se manter exportações e rotas comerciais essenciais e da fragilidade das cadeias de suprimento.
Antes da invasão, Ucrânia e Rússia eram responsáveis por 30% das expotações de trigo global e 55% das de girassol. A suspensão desses fornecimentos afetou diretamente a disponibilidade de alimentos especialmente em países mais pobres.
Em resposta à crise energética desencadeada pela guerra, muitos países tiveram que adotar medidas de emergência, buscando alternativas à energia russa e reforçando a importância da segurança nas rotas comerciais.