Por que montadoras querem que governo cobre imposto sobre carros elétricos?

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que representa as montadoras estabelecidas no Brasil, tem feito um apelo significativo ao governo federal: a recomposição do Imposto de Importação (II) sobre veículos eletrificados. 

Essa medida vem à tona em um momento crucial para o setor automotivo, que está em plena transição para tecnologias mais sustentáveis. 

A principal motivação por trás desse pedido é o aumento das importações de carros elétricos e híbridos, o que tem causado um acúmulo recorde de estoque dessas unidades no mercado nacional.

Em 2024, as importações de veículos elétricos e híbridos registraram um  salto de 13 mil unidades para mais de 80 mil veículos, configurando uma tendência que, segundo especialistas, deve continuar nos próximos anos. 

Segundo dados da Logcomex, carros elétricos e híbridos, classificados sob as categorias NCM 87038000 e 87036000, entraram no país, somando um valor de US$ 1,2 bilhão em Free on Board (FOB). Esse montante representa um aumento surpreendente de mais de 10.259% no valor das importações em comparação com períodos anteriores.

Grande parte desse volume de importações tem sido processado pelo Porto de Vitória, no Espírito Santo, consolidando o estado como um hub estratégico para a entrada de veículos eletrificados no Brasil. 

O crescimento das importações coloca pressão sobre o mercado local, já que as montadoras nacionais enfrentam dificuldades para competir com os veículos importados, que muitas vezes chegam a preços mais competitivos, beneficiados por incentivos fiscais ou tecnologias mais avançadas.

A Anfavea propôs ao governo a retomada da tarifa cheia de 35% sobre os veículos eletrificados, um aumento substancial em relação aos atuais 18% a 22%. 

Para a entidade, esse ajuste é necessário para proteger a indústria nacional da invasão de importados, que pode totalizar cerca de 500 mil unidades em 2024, segundo projeções da associação. 

A justificativa é que o crescimento exponencial das importações está prejudicando o mercado nacional, tornando-o menos competitivo e mais suscetível às variações do mercado global.

A recomposição do imposto de importação visa, portanto, criar um ambiente mais equilibrado para as montadoras brasileiras, que ainda estão em processo de adaptação à nova realidade dos veículos eletrificados. 

A Anfavea argumenta que, sem esse ajuste, o Brasil corre o risco de enfraquecer sua indústria local, o que pode resultar em perda de empregos, queda na produção e um aumento na dependência de tecnologias estrangeiras.

No entanto, críticos da medida levantam uma preocupação válida: o impacto no preço final dos veículos eletrificados para o consumidor brasileiro. 

O aumento do imposto pode encarecer significativamente o custo dos carros elétricos importados, tornando-os menos acessíveis. Isso poderia prejudicar os esforços para popularizar o uso de veículos mais sustentáveis no Brasil.

Apesar dos desafios, há sinais de que o Brasil pode se consolidar como um importante polo de produção de veículos eletrificados. Montadoras globais como BYD, Stellantis, Volkswagen e Toyota estão expandindo suas operações no país, investindo em novas tecnologias de baterias e eletrificação. 

Esses investimentos, além de aumentar a capacidade produtiva, trazem ao Brasil a expertise tecnológica necessária para competir no cenário global de eletrificação automotiva.