Barreira comercial dos EUA à China pode beneficiar agro brasileiro

O resultado da eleição presidencial norte-americana, anunciado na semana passada, deve provocar mudanças no comércio global a partir de 2025, quando tem início o novo governo recém-eleito.

Uma das principais propostas do próximo presidente é elevar a taxação de importados, mas a medida visa principalmente barrar a entrada de produtos chineses, o que pode criar uma janela de oportunidade para exportadores brasileiros, principalmente do agronegócio.

Ainda como candidato, o presidente eleito prometeu impor taxas entre 10% e 20% sobre todas as compras internacionais, além de tarifas de 60% ou mais sobre produtos vindos da China.

A restrição maior do novo governo americano às importações chinesas deve gerar retaliações por parte do país asiático, que buscaria outros fornecedores de commodities, setor em que o Brasil se destaca como forte concorrente dos Estados Unidos.

Movimento semelhante já foi observado em um passado recente, quando as duas potências protagonizaram uma intensa guerra comercial, entre 2018 e 2019.

Em resposta às barreiras tarifárias criadas pelos Estados Unidos à época, a China taxou com alíquota de 25% uma série de produtos americanos, incluindo a soja. Isso fez com que o país asiático ampliasse as compras de soja brasileira para substituir a commodity produzida nos Estados Unidos.

De acordo com dados da Logcomex, as exportações de soja brasileira (NCM 1201.90.00) para a China somaram cerca de 69 milhões de toneladas no acumulado de janeiro a outubro de 2024. 

No mesmo intervalo de 2019, foram 50,4 milhões de toneladas, o que significa um aumento de 36,8% em cinco anos.

O mesmo movimento pode se repetir em outros segmentos em que o Brasil compete diretamente com os Estados Unidos em exportações para a China, como milho e carnes suína, bovina e de frango.

Além disso, entre as mercadorias que o Brasil mais exporta para os Estados Unidos, é pouco provável que o novo governo imponha taxas sobre produtos que resultam em inflação interna.

É o caso, por exemplo, do café e da carne bovina. O Brasil é o principal fornecedor do grão aos Estados Unidos, que, por sua vez, é hoje o maior consumidor mundial da bebida. Qualquer aumento no custo de importação da commodity brasileira impactaria diretamente nos preços ao consumidor.

Conforme dados da Logcomex, o Brasil exportou para os Estados Unidos 352,9 mil toneladas de café em grão (NCM 0901.11.10) nos dez primeiros meses de 2024, uma alta de 33,5% em relação ao mesmo período de 2023.

No caso da proteína animal, os Estados Unidos são cada vez mais dependentes das importações do Brasil, à medida que cai a produção interna.

As exportações brasileiras para os Estados Unidos de carne bovina congelada (NCM 0202.30.00) saltaram 99,9% em 2024 na comparação anual do acumulado de janeiro a outubro. Já as carnes frescas ou refrigeradas (NCM 0201.30.00) dispararam 1.282% no mesmo período.

Por outro lado, há setores que podem ser prejudicados com medidas protecionistas por parte dos Estados Unidos. 

As exportações de aço e alumínio brasileiros, por exemplo, poderiam perder espaço para o setor siderúrgico local no caso de um aumento de tarifa sobre os produtos, assim como ocorreu em 2019.