Capital estrangeiro na indústria farmacêutica brasileira: oportunidades em um cenário de dependência externa

Um importante fundo soberano de Cingapura acaba de adquirir participação minoritária em uma das maiores farmacêuticas do Brasil, movimento que sinaliza o potencial de crescimento do setor no país.

O investimento, estimado em cerca de R$1 bilhão, ocorre em um momento particularmente desafiador para a indústria farmacêutica nacional.

Um relatório recentemente publicado pela Oxfam expõe uma realidade preocupante: o Brasil importa 90% da matéria-prima necessária para a fabricação de vacinas e medicamentos. 

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi), essa dependência pode chegar a 95%, evidenciando a fragilidade da cadeia produtiva nacional.

A dificuldade brasileira para produzir seus próprios imunizantes está relacionada a múltiplos fatores. O financiamento instável para ciência, tecnologia e inovação tem sido um obstáculo persistente. 

Desde 2013, os investimentos nacionais em pesquisa e desenvolvimento vêm diminuindo em valores absolutos, com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) enfrentando severas restrições orçamentárias na última década.

A baixa articulação entre academia e indústria, somada à escassez de empresas farmoquímicas, agrava o cenário. Enquanto a China conta com mais de mil fábricas produtoras de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs), o Brasil possui apenas 15 unidades, concentrando a produção de vacinas em apenas duas instituições: Fiocruz e Instituto Butantã.

Os números do comércio exterior refletem essa dependência. Em 2024, o Brasil já importou US$921,5 milhões em insumos químicos e farmacêuticos, registrando crescimento de 15% em relação ao ano anterior. Os polipeptídeos destacam-se com aumento expressivo de 78% no valor importado.

O programa Nova Indústria Brasil estabelece como meta atingir 70% de autossuficiência na produção de medicamentos, vacinas e insumos até 2033. A Estratégia Nacional para o Desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde prevê investimentos de R$42 bilhões para expandir a produção nacional.

O aporte de capital estrangeiro pode representar uma oportunidade para acelerar esse processo, trazendo não apenas recursos financeiros, mas também know-how e conexões globais que permitam ao Brasil reduzir sua dependência externa e fortalecer sua posição no mercado farmacêutico internacional.