Como a queda do dólar impacta o agronegócio?

A queda do dólar no agronegócio gera impactos diversos nas atividades econômicas dentro e fora da fazenda, o que demanda ajustes financeiros por parte dos gestores do setor.

Dentre esses impactos, estão a redução no custo dos insumos (fertilizantes e defensivos químicos) e maquinários, o que é favorável, mas por outro lado reduz a lucratividade de exportadores de produtos agrícolas.

As causas da queda do dólar podem estar relacionadas a fatores externos e internos, como política monetária e taxa de juros, geopolítica internacional, risco país e superávit da balança comercial.

Este é um tema que merece atenção especial de quem atua no comércio exterior no agronegócio, tendo em vista que a desvalorização do dólar interfere diretamente nas negociações e nos preços das commodities agrícolas.

É essencial, nesse contexto, monitorar as variações cambiais, avaliar séries históricas e projetar cenários para atuação estratégica. Saiba mais neste artigo!

Entenda a relação entre o dólar e o agronegócio

O dólar e o agronegócio possuem uma relação muito próxima por conta de o Brasil estar entre os maiores exportadores mundiais de alimentos, os quais são comercializados com base na cotação da moeda americana, referência em negociações internacionais. 

O país se destaca como líder em produção e exportação de soja, milho, café, açúcar, suco de laranja e carne bovina, além de ter participação significativa em outras produções

Em 2023, as exportações do agronegócio brasileiro bateram novo recorde, com R$ 166,55 bilhões em negócios, aumento de 4,8% em relação a 2022, e isso num ano marcado por oscilações negativas no preço do dólar. 

Mas para ter altas produtividades, os agricultores brasileiros precisam também de insumos (fertilizantes e defensivos agrícolas), máquinas, implementos e tecnologias de ponta que são importadas de outros países. 

Com isso, a relação do dólar com o agronegócio é uma via de mão dupla: a oscilação para cima ou para baixo sempre terá consequências positivas ou negativas, dependendo do impacto do tipo de negociação que está sendo feita.

Para quem atua no comércio exterior, vendendo as mercadorias, uma das principais preocupações é com relação ao impacto do dólar nas exportações agrícolas.

A moeda americana sempre causará algum efeito, mas a sua desvalorização não significa exatamente que haverá perdas, já que isso também pode ser de certa forma compensado pelas altas produtividades do setor agrícola.

Exportação de produtos agrícolas e variação cambial

A exportação de produtos agrícolas e a variação cambial possuem forte relação nas negociações do comércio exterior, sobretudo no que se refere à competitividade internacional.

Quando a moeda brasileira se valoriza em relação ao dólar, os produtos agrícolas acabam ficando mais caros no mercado, o que reduz a competitividade e pode servir de estímulo aos compradores estrangeiros buscarem alternativas em outros países.

Neste sentido, é necessário que você faça o monitoramento constante das flutuações cambiais e desenvolva estratégias de gestão de riscos para diversos cenários, tendo como objetivo a proteção das operações.

Commodities agrícolas e preço internacional

A variação cambial pode servir de estímulo ao aumento da produção de determinada commodity agrícola ou a redução desta, o que impacta diretamente a cadeia de suprimentos do agronegócio.

É recorrente, por exemplo, que fenômenos climáticos, como secas, geadas ou excesso de chuvas, gerem quedas de produção em países concorrentes do Brasil, fazendo com que os preços subam.

Neste cenário, mesmo com alta produtividade nacional, haverá maior lucro porque a demanda estrangeira, que já é grande, permanece a mesma; e, por outro lado, há menos produtos ofertados na praça, o que aumenta o preço no mercado internacional.

Impactos positivos e negativos da queda do dólar no agronegócio

No mercado internacional de commodities, o impacto da variação cambial no agronegócio é uma preocupação constante, sendo que eles podem ser positivos ou negativos, a depender do contexto.

Quando o dólar está em alta, um dos principais impactos positivos é a redução de custos com a importação de insumos. Afinal, o Brasil, por conta do seu desenvolvimento no setor agrícola, é o país que mais importa adubos fertilizantes e defensivos agrícolas para o manejo das lavouras. 

 

Importações de fertilizantes no período de dez anos

(Fonte: Comex Stat)

Assim, quando o dólar está baixo é um momento importante para a redução de custos de produção agrícola, sendo este também um momento passageiro que deve ser aproveitado com sabedoria para a realização de bons negócios e abastecimento dos estoques.

Impactos negativos: redução de lucros nas exportações

A desvalorização do dólar é um fator de grande preocupação para quem atua no mercado exterior, sobretudo com a comercialização de commodities agrícolas.

O setor agropecuário é um dos mais importantes da balança comercial brasileira, sendo o 2º no ranking das exportações totais em 2023, com mais de US$ 81,4 bilhões em negociações.

 

Exportações do setor agropecuário brasileiro

(Fonte: Comex Stat)

Se o dólar cai, os lucros da exportação também são reduzidos. Mas, nos últimos anos, por conta do contexto geral, o setor agropecuário tem conseguido obter bons lucros, seja por conta da alta produtividade ou do contexto da lei de oferta e demanda dos produtos.  

Oportunidades de ajuste estratégico no agronegócio

As variações do dólar oferecem momentos importantes para a negociação no mercado exterior. Um ponto de atenção é no momento de fechar negócios, muitos dos quais ocorrem independente das flutuações de preço da moeda americana, o que pode representar grandes riscos ao negócio para ambas as partes.

Geralmente, o mais seguro é a realização de contratos comerciais que deixam claro o valor da mercadoria com base na cotação do dólar referente ao dia de pagamento.

Outros ajustes muitas vezes necessários são relativos às rotas marítimas para o envio das mercadorias. Por isso, é importante ter conhecimento amplo sobre os principais portos internacionais, suas rotas e empresas que podem estar auxiliando nos processos aduaneiros de cada país.

Ajustes estratégicos para exportadores

A depender do contexto do momento, o preço do dólar pode influenciar nas decisões sobre para qual mercado vender, ou até deixar para comercializar o produto em outro momento, quanto o preço do dólar estiver mais favorável, deixando-o em estoque.

Essa prática de armazenar a produção é muito recorrente no setor agrícola, sobretudo de grãos, que são comercializados somente em momentos de alta do dólar

Afinal, os players que atuam no comércio exterior do agro buscam a lucratividade máxima, mas é necessário também saber o momento certo de negociar e não esperar demais.

Uma outra forma de reduzir riscos à volatilidade dos preços é atuar com o chamado hedge cambial, a exemplo de contratos futuros e swaps cambiais, ferramentas financeiras que podem auxiliar a garantir uma taxa de câmbio mais estável.

Oportunidades de redução de custos com insumos

A oportunidade de redução de custos com insumos é uma realidade atual do agronegócio brasileiro, que vinha passando por momentos de aumento dos gastos com a produção desde 2021 e se agravou após a guerra entre Rússia e Ucrânia.

Com o momento mais favorável, o país voltou a aumentar as importações dos fertilizantes, possibilitando maiores ganhos para quem atua no comércio exterior e reposição dos estoques nas revendas.

Com a aproximação da safra de verão, no entanto, nota-se no mercado uma tendência de aumento nos preços. Contudo, o setor já está praticamente abastecido para a próxima safra. 

Conclusão

A queda do dólar pode impactar o agronegócio de formas diferentes, oferecendo oportunidades de bons negócios no comércio exterior e de ajustes diante de situações de possível redução da margem de lucro.

A volatilidade cambial exige acompanhamento constante e uma atuação estratégica para redução de riscos nos contratos de médio e longo prazo.

Uma boa opção é utilizar sistemas de gestão de negócios do comércio exterior que possibilitam acompanhar em tempo real as oscilações do dólar e outras moedas internacionais, com análises do mercado e antecipação de cenários econômicos.