Um estudo da CNI e da Funcex mostra que, com a valorização do real, o Brasil perdeu espaço para os concorrentes estrangeiros nos mercados interno e externo
Com a leve recuperação do consumo e a valorização do real frente ao dólar, a indústria brasileira aumentou as importações. A participação dos produtos importados no consumo nacional subiu de 16,4% para 16,8%, a preços constantes, no acumulado de julho de 2016 a junho deste ano. No mesmo período, a participação das vendas externas no valor da produção da indústria de transformação ficou em 15,6%, quase o mesmo registrado no acumulado de janeiro a dezembro de 2016. As informações são do estudo Coeficientes de Abertura Comercial, divulgado nesta terça-feira (12) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O estudo alerta que o desempenho dos quatro coeficientes – dois que avaliam as exportações e dois que medem a participação das importações no mercado doméstico – indica o aumento das dificuldades de competição dos produtos brasileiros. “A evolução dos coeficientes mostra que o desafio continua sendo a elevação da competitividade da indústria”, diz o estudo feito em parceria com a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
“Os resultados, em 2017, refletem a fragilidade do ganho de competitividade baseado na depreciação do real e tornam novamente evidente a baixa competitividade do país frente aos concorrentes estrangeiros. A baixa competitividade significa maiores dificuldades para as empresas e pode comprometer a retomada do crescimento econômico”, afirma a economista da CNI Samantha Cunha.
De acordo com o trabalho, o aumento da participação das importações no mercado doméstico e a interrupção da recuperação do coeficiente de exportação deve-se, especialmente, à instabilidade e à valorização da moeda nacional frente ao dólar. Em 2016, o real se valorizou 6,6%.
SETORES – Nos últimos 12 meses, o coeficiente de exportação caiu em nove dos 23 setores da indústria de transformação. As maiores quedas frente a 2016 foram nos setores de fumo, outros equipamentos de transporte (reboques, aviões, navios) e têxteis. O maior aumento das exportações em relação à produção foi registrado nos setores de veículos automotores e de madeira.
O coeficiente de penetração das importações, que mede a participação dos produtos estrangeiros no consumo nacional, cresceu na maioria dos setores, especialmente nos de coque (espécie de carvão mineral), derivados do petróleo, bicombustíveis, produtos têxteis, máquinas e materiais elétricos e farmacêutico. “Apenas outros equipamentos de transportes, máquinas e equipamentos e fumo registraram queda no coeficiente de penetração das importações a preços constantes”, afirma o estudo.
Conheça os quatro coeficiente de abertura comercial
1. Coeficiente de exportação: O indicador mede a participação das vendas externas no valor da produção da indústria de transformação. Com isso, mostra a importância do mercado externo para a indústria. Quanto maior o coeficiente, maior é a importância do mercado externo para o setor. O Coeficiente de Exportação a preços constantes, que exclui os efeitos das variações de preços, caiu de 15,7% em 2016 para 15,6% no acumulado em 12 meses encerrado em junho deste ano. Isso significa que a indústria de transformação brasileira exportou 15,6% da produção.
2. Coeficiente de penetração de importações: O indicador mede a participação dos produtos importados no consumo brasileiro. Quanto maior o coeficiente, maior é a participação de importados no mercado interno. O coeficiente de penetração das importações a preços constantes subiu para 16,8% no acumulado em 12 meses encerrado em junho de 2017. Isso significa que entre todos os produtos consumidos no país naquele período, 16,8% foram importados.
3. Coeficiente de insumos industriais importados: O indicador mede a participação dos insumos industriais importados no total de insumos industriais adquiridos pela indústria de transformação. Quanto maior o coeficiente, maior é a utilização de insumos importados pela indústria. O indicador ficou em 23,1% a preços constantes no acumulado em 12 meses terminado em junho de 2017. Isso significa que do total de insumos industriais consumidos pela indústria de transformação naquele período, 23,1% foram importados.
4. Coeficiente de exportações líquidas: O indicador mostra a diferença entre as receitas obtidas com as exportações e as despesas com a importação de insumos industriais, ambos medidos em relação ao valor da produção. Se o coeficiente é positivo, a receita com exportação é maior do que os gastos com importações de insumos industriais. No acumulado em 12 meses terminado em junho de 2017, o coeficiente ficou em 4,3% a preços constantes. Em 2014, era negativo em 0,5%.
Fonte: Portal da Indústria – Agência CNI