A Logcomex Summit é um evento que traz as novidades e tendências do comércio e exterior em uma série de palestras, conversas e entrevistas com convidados de diversos segmentos. Um tema de crucial importância abordado no evento foi a cultura organizacional para empresas que trabalham com exportação e importação.
Quem falou sobre o assunto no segundo dia da Logcomex Summit foi Thiago Furtado, da Gett. Para te ajudar a compreender todas as facetas da questão da cultura organizacional e a relevância para as empresas, fique ligado neste artigo e assista o papo completo.
Você irá conferir:
Cultura é um conjunto de práticas, relações, interações e produções humanas que se desenvolvem a partir de grupos sociais. É fato que em sociedades avançadas, ela se torna complexa, especialmente no contexto contemporâneo globalizado. A cultura de uma empresa determina sua visão, valores e atuação no mercado, sendo a cultura organizacional uma importante ferramenta para o sucesso mercadológico.
Thiago Furtado explica que, para melhorar o processo de uma empresa, é preciso transformar práticas e mentalidades e, acima de tudo, mudar os hábitos. Ele lembra que atualmente muito se fala sobre a transformação digital, os impactos tecnológicos, mas adverte que não se trata apenas disso.
“Muitos confundem transformação digital com um slide bonito sobre os valores de uma empresa, mas é muito mais do que isso. É uma mudança de comportamento, de mindset, de paixão que você leva no processo, o porquê você faz aquilo, sobre os processos que são criados com as pessoas que você tem. Isso é o primeiro passo para a construção da transformação”, explica.
Para ele, a visão de cultura organizacional pressupõe que os valores e processos são habilidades treináveis e moldáveis que podem ser desenvolvidas a partir da prática. Para atingir a transformação, é necessário dois elementos principais: a busca por conhecimento e o senso de urgência. Sobre este segundo, não se trata de acúmulo de função, mas sim de iniciativas que promovam a transformação e, para isso, é preciso de abertura das lideranças.
A cultura está ligada às formas que a empresa opera interna e externamente com seu público, colaboradores e como ela encara o mercado onde atua. Trata-se da otimização, eliminação de crenças antigas do mercado que não correspondem à realidade, em nome do próprio crescimento da empresa. Valores baseados em bons processos levam a um crescimento de qualquer negócio, segundo Thiago.
Um dos tipos de cultura exemplificados pelo representante da Gett é a metodologia Golden Circle (Círculo Dourado). Desenvolvida pelo especialista em liderança Simon Sinek, trata de um método que busca desenvolver um novo jeito de pensar e agir, voltado para a criação de impacto. Ela começa com algumas perguntas simples como “Por que”, “Como” e “O quê” se faz.
“Qual o propósito, a missão, por que estou aqui? É o que deve ser indagado. A segunda etapa é saber como vai chegar lá e atingir os objetivos em conjunto. A inovação demora e deve ser trilhada”, explica. Claro que isso não é fácil, mas é o diferencial necessário para que as transformações ocorram.
Nessa lógica, o principal motivo para promover a mudança cultural é o próprio potencial de crescimento que promove para todos os envolvidos. Segundo estudo da Variety Value, essa mudança estrutural de valores e condutas pode render um crescimento de 1000% da empresa em uma década.
A busca por conhecimento e o senso de urgência trata-se de uma postura ativa da equipe e dos colaboradores na simplificação dos processos e fluxos, procurando correção de erros, otimização da produtividade e do rendimento. Em um meio que por vezes é burocrático, como o caso do Comex, a tarefa pode ser um grande desafio. Por isso, é preciso que as lideranças estejam abertas à mudança e a ouvir quem lida com os processos no dia a dia.
O que o Thiago observa nas empresas da área é um forte alinhamento cultural entre os colaboradores e pouca autonomia, onde uma liderança define os processos e como as operações devem ser feitas. Por outro lado, algumas empresas escondem em uma chamada “cultura empreendedora” a ausência total de liderança e integração, onde cada um opera da forma como quiser, o que também é prejudicial. O equilíbrio é fundamental.
Uma cultura forte é motivadora por si só, o que aumenta o rendimento e a identificação das pessoas envolvidas em qualquer processo. O representante da Gett explica que um dos principais benefícios é o aumento da produtividade a partir “da eliminação de esforço desnecessário, automatizado em função do custo benefício e de forma que faça sentido para a empresa”.
Como isso é atingido? A partir de uma cultura que leve em conta processos e que quem opera esses processos são pessoas que compreendem onde está o “gap”: “qual o momento da operação em que estou perdendo tempo?”, reflete. A cultura leva benefícios em todas as cadeias produtivas necessárias ao fluxo de trabalho. É a saúde dos processos que determina os frutos que serão colhidos posteriormente.
Segundo Thiago, o primeiro pilar para a transformação da cultura é atrair e reter talento. “São pessoas que farão com que sua cultura seja disseminada e valorizada pelos outros colaboradores. É preciso atrair talentos com os valores compatíveis com a empresa”, afirma.
Esse pilar significa a necessidade reter esse funcionário para que ele permaneça na empresa. Furtado traz o dado de que o “Turnover” (nível de rotatividade de funcionários) cresceu em 85% no mercado. Esse número no comércio exterior chega a quantidades alarmantes, o que tem feito empresas repensarem sobre a saúde mental dos seus colaboradores e os processos em que eles estão inseridos. Para um bom rendimento, o colaborador precisa estar feliz e se identificar com o que faz.
O segundo pilar diz respeito à saúde desse funcionário: mental, física e financeira. “Equilíbrio é fundamental, já que uma pessoa equilibrada é produtiva, tem gestão de tempo, senso de urgência”. É preciso estar compatível com o mercado em todos os termos. “A saúde mental é uma missão da companhia. Eu vim de uma geração que para se destacar, tinha que trabalhar 15h, mas a nova geração é inteligente e sabe produzir com o tempo dentro do aceitável”.
Nesse sentido, é importante lembrar que a questão da produtividade pode ser mais complexa do que parece, daí a necessidade de transformação, já que muitas vezes o erro de processo é responsabilidade da empresa e das lideranças, embora raramente se sintam responsabilizados. A mudança de cultura, por si só, aumenta a produtividade.
Uma boa liderança é aquela que foge à regra do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. A liderança participa das operações em conjunto com uma equipe integrada com alto alinhamento e performance, se identificando com o que está sendo realizado. O líder precisa incluir, consultar e definir em conjunto os próximos passos, metas e projetos da empresa.
A definição da aquisição de um software para a equipe, por exemplo, deve ser uma definição de todos. É preciso dar a sensação de pertencimento para a equipe, aplicando os valores de fato, ensinando e definindo juntos os caminhos que serão seguidos. “O analista precisa definir porque é ele que vai operacionalizar, é ele quem sabe”.
Por falar em liderança, o recado de Thiago aos líderes é claro: “Potencialize o tempo e o talento humano do seu time através da tecnologia”. A potencialização do tempo elimina a sobrecarga e ganha tempo para aplicar ideias que podem levar à inovação.
Muitas empresas não dão abertura para que os funcionários criem oportunidades e melhorias que se convertam em retorno financeiros. A mudança acontece quando o “apagar incêndio” se torna solução estrutural para um problema.
Nesse sentido, a tecnologia não é o centro do processo, já que deve estar submetida aos pilares da transformação digital e cultural. O erro é instalar softwares que sequer estão alinhados ao que se faz na empresa, optando por programas mais baratos. Esse é um grande problema, segundo Thiago.
“O mercado está cheio de empresas de tecnologias que só se preocupam em faturar, por isso é necessário cautela antes de aplicar as tecnologias”. A tecnologia tem seu valor moldado pela própria cultura da empresa e está diretamente relacionado ao que vai trazer de retorno e isso está ligado ao uso que fará feito.
Agora que compreendemos a importância da mudança da cultura organizacional como anterior à transformação digital, temos alguns exemplos que podem ser úteis. Um deles é a cultura de Data Driven, que propõe que a tomada de decisão se paute a partir do uso de dados.
É a coleta e a discussão dos dados que norteiam os passos da empresa e as decisões que serão tomadas no dia a dia e não apenas pelas lideranças. Para saber tudo sobre esse método, acesse o artigo que a Logcomex preparou sobre o tema.
Leia mais: Como implementar uma cultura Data Driven no comércio exterior
Um outro exemplo, é a digitalização de documentos e processos, especialmente tendo em vista as mudanças dos processos de importação e exportação. Portanto, há quem diga que em um futuro (que já é presente) podemos falar em “Comex 4.0”, com mais processos digitais, documentação, certificação e solicitações. Menos burocracia, mais otimização!
Saiba mais: A importância da digitalização no Comércio Exterior
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