O setor químico brasileiro encerrou o ano de 2024 com um déficit comercial de US$ 48,7 bilhões (FOB), segundo pior resultado da série histórica, de acordo com o último Relatório Estatístico de Comércio Exterior (Rece), da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). Em 2023, o saldo negativo foi de US$ 46,6 bilhões.
Embora as exportações do setor tenham crescido de US$ 14,6 bilhões em 2023 para US$ 15,2 bilhões em 2024 (+4,3%), as importações somaram US$ 63,9 bilhões, ante US$ 61,2 bilhões consolidados no ano anterior (+4,4%).
O resultado não foi ainda mais desafiador em razão de incentivos conquistados pelo setor, como a elevação da alíquota do imposto de importação, da faixa de 7,6% a 12,6% para 20%, para uma cesta de 30 produtos, e a manutenção do Regime Especial da Indústria Química (Reiq).
A entidade foi a principal responsável por pleitear um aumento no imposto, tendo como justificativa o expressivo aumento na entrada de produtos chineses, que estaria impactando negativamente a competitividade da indústria nacional.
De acordo com dados da plataforma NCM Intel, da Logcomex, a China exportou para o Brasil US$ 10,8 bilhões (FOB) em produtos das indústrias químicas e conexas (Seção VI do SH) em 2024. Outros importantes fornecedores foram Estados Unidos (US$ 7,5 bilhões), Alemanha (US$ 4,1 bilhões), Rússia (US$ 3,8 bilhões) e Índia (US$ 3,1 bilhões).
Com o início da vigência das novas tarifas, a partir de outubro, houve alta de 6,35% na produção física doméstica no último bimestre do ano, ainda de acordo com a Abiquim.
“Sabemos que esse é só um primeiro passo, todavia, fundamental para enfrentarmos o cenário internacional extremamente adverso, com excesso de capacidade produtiva de produtos químicos no mundo e programas pesados de subsídios nos principais produtores mundiais de químicos”, diz André Passos Cordeiro, presidente da entidade.
Como houve queda de 6,3% no preço médio de importação, o aumento nas compras internacionais foi ainda maior em termos de quantidade: 11,5%, totalizando 65,3 milhões de toneladas. Desse total, 41,1 milhões de toneladas (62,9%) foram de intermediários de fertilizantes, que tiveram um aumento de 7,4% nas importações em relação a 2023.
O levantamento da Abiquim mostra, porém, que houve crescimento nas importações de todos os segmentos monitorados pela entidade: resinas e elastômeros (32,4%); orgânicos (14,3%); inorgânicos (9,1%); e outros químicos diversos para uso industrial (9,3%).
Em relação às exportações, apesar do aumento no faturamento, a quantidade física exportada apresentou estabilidade (-0,2%), segundo a Abiquim em razão do “deslocamento de produtos brasileiros nos principais parceiros comerciais, decorrente da competitividade artificial de produtos asiáticos nesses mercados”.