EUA aumentam tarifas sobre a China e redesenham o comércio global

O governo dos Estados Unidos anunciou uma nova rodada de tarifas sobre produtos chineses, intensificando a disputa comercial entre as duas maiores economias do mundo.

As novas medidas incluem 100% de impostos sobre veículos elétricos chineses, além de tarifas de 20% ou mais em uma ampla gama de produtos, como têxteis, eletrônicos e painéis solares. 

A justificativa oficial para as tarifas varia desde a proteção da indústria americana até a tentativa de pressionar Pequim em questões como comércio justo e combate ao tráfico de substâncias como o fentanil.

A decisão representa uma ruptura com a política comercial americana tradicional, que historicamente favoreceu tarifas baixas para incentivar o comércio global. Segundo o Banco Mundial, os EUA aplicavam uma tarifa média ponderada de 1,5% em 2022, uma das menores do mundo. 

No entanto, durante a guerra comercial com a China em 2019, esse valor já havia subido para 7%, segundo o Deutsche Bank. Com as novas tarifas, os EUA podem estar adotando um caminho mais protecionista, o que pode incentivar outros países a seguir essa tendência.

Como a China está reagindo?

Em resposta, Pequim impôs contra-tarifas sobre produtos agrícolas, carvão e gás natural dos EUA, além de restringir empresas americanas nos setores de tecnologia e defesa. Além disso, a China tem buscado reduzir sua dependência do mercado americano, expandindo suas exportações para Europa, Sudeste Asiático e América Latina.

Outro movimento estratégico tem sido a realocação da produção. Nos últimos anos, algumas fábricas chinesas mudaram operações para países como Vietnã e México, permitindo que produtos fabricados por empresas chinesas entrem nos EUA sem serem atingidos diretamente pelas tarifas. No entanto, o governo americano já ampliou medidas contra essa prática, impondo tarifas também a alguns produtos vindos do México.

O futuro da cadeia global de produção

Especialistas apontam que, apesar das novas tarifas, desvincular a produção global da China não será fácil. O país mantém uma infraestrutura industrial única, com capacidade de fabricar desde itens básicos até tecnologia avançada em larga escala. Setores como inteligência artificial, semicondutores e energia renovável continuam sendo dominados por empresas chinesas.

Além disso, algumas indústrias dependem quase exclusivamente da China. O mercado de painéis solares, por exemplo, é amplamente controlado pelo país, tornando difícil encontrar fornecedores alternativos a curto prazo.

Comparando com outras economias, a China ainda mantém uma tarifa média ponderada relativamente baixa, de 3,1% em 2022, segundo o Banco Mundial. Já países emergentes como a Índia aplicam tarifas de 11,5%, enquanto na África as taxas são ainda maiores. Países como Congo, Camarões e Guiné Equatorial chegam a cobrar mais de 18%, e as Ilhas Salomão possuem a maior tarifa média global, 20,7%.

Se a guerra comercial se intensificar, as multinacionais terão que redesenhar suas cadeias produtivas, o que pode levar a um maior custo de produção e a possíveis reajustes de preços para os consumidores. Enquanto isso, países como Vietnã e Índia se tornam destinos cada vez mais atraentes para investimentos, podendo se beneficiar das tensões entre as potências.

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Protecionismo em alta?

O impacto da nova onda de tarifas vai além da relação entre EUA e China. Se outros países seguirem o exemplo e aumentarem suas barreiras comerciais, o mundo pode entrar em um ciclo de protecionismo, reduzindo o fluxo de comércio global e desacelerando o crescimento econômico.

Por outro lado, essas mudanças também criam novas oportunidades. Com a reorganização das cadeias produtivas, países emergentes podem ganhar espaço no mercado global, e novas indústrias podem surgir para atender à demanda por alternativas à manufatura chinesa.