O comércio global no ano de 2024 foi marcado por grandes mudanças influenciadas por questões geopolíticas, a principal delas uma diminuição nas transações entre as duas principais potências econômicas, Estados Unidos e China. Economias em desenvolvimento, incluindo o Brasil, aproveitaram para ampliar seus mercados, sem distinção de alinhamento geopolítico.
As conclusões constam da mais recente atualização do relatório “Geopolitics and the geometry of global trade”, publicada pela consultoria McKinsey Global Institute nesta semana.
Segundo o estudo, a reconfiguração do comércio internacional foi fortemente influenciada pela disputa entre Estados Unidos e China, que levantaram uma série de barreiras comerciais entre si no ano passado.
Enquanto americanos têm redirecionado seu comércio da China para países como o México e o Vietnã, o gigante asiático passou a investir em relações com economias em desenvolvimento, em vez de avançadas.
No restante do mundo, as economias europeias reduziram o comércio com a Rússia, ainda em consequência da guerra na Ucrânia, iniciada em 2022, aumentando as relações comerciais com parceiros como os Estados Unidos.
O documento da McKinsey mostra que todas as grandes regiões do mundo dependem de importações para mais de 25% de seu consumo em pelo menos um tipo de recurso crítico, produto manufaturado ou serviço.
Mesmo em setores em que uma região é exportadora líquida, pode haver dependência de importações para produtos cruciais. Os Estados Unidos, por exemplo, são exportadores líquidos de minerais não combustíveis, mas dependem de importações de minerais estratégicos, como terras raras.
Entre 2017 e 2024, o estudo mostra que houve uma redução de 7% na distância geopolítica média do comércio global, indicando uma realocação para parceiros mais alinhados geopoliticamente. A distância geopolítica é um indicador que mede o alinhamento entre países com base em registros de votação na Assembleia Geral da ONU.
Economias como China, Alemanha e Estados Unidos são exemplos de economias que reduziram significativamente a distância geopolítica de seus comércios.
Já países em desenvolvimento, como Brasil, Índia e membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) - Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Myanmar, Malásia, Singapura, Tailândia e Vietnã - fortaleceram laços comerciais de maneira diversificada, em todo o espectro geopolítico.
Em 2024, a balança comercial brasileira registrou recuo de 0,8% no valor total das exportações e aumento de 9% no das importações. Conforme dados da plataforma NCM Intel, da Logcomex, as compras brasileiras da China avançaram 19,6%, enquanto as dos Estados Unidos subiram 6,9%.
Ao longo do ano, os produtos mais importados da China pelo Brasil foram células fotovoltaicas (NCM 8541.43.00), cujo valor chegou a US$ 2,6 bilhões; carros híbridos plug-in (NCM 8703.60.00), que somou US$ 1,5 bilhão; e carros elétricos (NCM 8703.80.00), que totalizou US$ 1,3 bilhão.
Dos Estados Unidos, as compras foram lideradas por partes de turborreatores ou turbopropulsores (NCM 8411.91.00); que geraram gastos de US$ 3,2 bilhões; turborreatores de empuxo superior a 25 KN (NCM 8411.12.00), que chegaram a US$ 2,9 bilhões; e gás natural liquefeito (2711.1100), cujas importações alcançaram US$ 1,7 bilhão.
Já as exportações do Brasil para a China caíram 9,5%, enquanto as vendas para o mercado americano subiram 9,2%.
As mercadorias brasileiras mais vendidas para a China em 2024, ainda conforme dados da Logcomex, foram soja (NCM 1201.90.00), cujo valor chegou a US$ 31,5 bilhões; óleos brutos de petróleo (NCM 2709.00.10), que totalizou US$ 20 bilhões; e minério de ferro (NCM 2601.11.00), que alcançou US$ 19,8 bilhões.
Os principais produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos foram óleos brutos de petróleo (NCM 2709.00.10); cujas vendas chegaram a US$ 5,8 bilhões; produtos semimanufaturados de ferro ou aço não ligado (NCM 7207.12.00), que geraram faturamento de US$ 2,8 bilhões; e café (0901.11.10), que totalizou US$ 1,9 bilhão.
Especificamente sobre o Brasil, o relatório da McKinsey ressalta ainda que o comércio exterior percorre distâncias geográficas muito maiores em comparação à média das demais economias, devido principalmente à sua dependência de importações da China.