Setor automotivo na Europa expõe fragilidade de montadoras

A indústria automobilística na Europa, especialmente na Alemanha, enfrenta uma crise impulsionada por desafios econômicos e o avanço dos veículos elétricos chineses. A Volkswagen, por exemplo, anunciou a possibilidade de fechar fábricas pela primeira vez em sua história devido à pressão por corte de custos e competitividade. 

Além do aumento nos preços de energia e problemas logísticos, a forte concorrência chinesa com modelos elétricos mais acessíveis intensificou essa situação. Montadoras europeias, sem uma estratégia clara para veículos elétricos, lutam para se adaptar ao novo cenário global.  

A crise também reflete problemas mais amplos na economia alemã, como a queda da produção industrial e a perda de competitividade. O aumento dos custos de produção e a mudança nas cadeias de fornecimento pós-pandemia atingem duramente as montadoras tradicionais, que agora precisam realizar reformas profundas para recuperar a posição no mercado. Modelos elétricos chineses, mais baratos e com incentivos governamentais, ameaçam a fatia de mercado das marcas europeias.

A transição para carros elétricos, acelerada por políticas ambientais, agravou a dificuldade de fabricantes locais que não conseguiram reagir com rapidez. As montadoras alemãs, além de lidar com as mudanças tecnológicas, precisam enfrentar crises internas, como a redução de empregos e produção.

O Brasil é um reflexo desta mudança brusca entre os players do mercado automotivo mundial. Enquanto no ano de 2023, o maior exportador de veículos para o Brasil era a Argentina, com 39%, no ano de 2024 o cenário é diferente, com a China ocupando a primeira posição com 47% do market share, segundo o Comexstat. A Argentina, agora, assume a vice-liderança com 20%. 

É possível se aprofundar na análise sobre a crise do setor automobilístico no velho continente. De acordo com os dados coletados na Logcomex, a Europa, nos primeiros sete meses de 2023, somados os 5 principais países exportadores de veículos para o Brasil (Alemanha, Eslováquia, Reino Unido, Bélgica e Suécia), exportou um equivalente a US$ 1,71 bilhões. Com um crescimento singelo de 2,1%, o FOB destes 5 países no mesmo período em 2024 foi equivalente a US$ 1,75 bilhões. 

Comparar com o despontamento da China, entretanto, escancara o problema da estagnação do setor na Europa. Ainda através da Logcomex, a China saltou de um valor FOB de US$ 1,33 bilhões para US$ 4,04 bilhões. Um crescimento de 202,1%.

A diferença entre os dois lados se dá, sobretudo, na comercialização de veículos eletrificados. O NCM 8703.60.00, de veículos híbridos, é um retrato fiel deste contraste. Ao passo que o velho continente exportou para o Brasil 29% menos veículos híbridos em 2024 compardo a 2023, a China enviou 364% a mais neste ano do que no ano passado. Os valores FOB, em 2024, resumem bem o investimento nesta categoria automotiva: enquanto o Brasil recebeu um equivalente ao FOB de US$ 148 milhões de veículos híbridos da Europa, o FOB da China foi de US$ 1,27 bilhões.

Acompanhar os próximos passos deste xadrez entre montadoras europeias e chinesas, e suas participações em mercado lucrativos, tais como o Brasil, ampliará o debate sobre a importação de veículos e a guerra com governos para ampliação de alíquotas sobre produtos importados. Cenas que estão cada vez mais comuns mundo afora.