O grupo dinamarquês de transporte marítimo Maersk informou na semana passada que projeta uma continuidade na forte demanda por transporte de mercadorias em todo o mundo nos próximos meses, mas que não espera retomar a navegação pelo Canal de Suez até “bem depois de 2025”.
Desde o fim do ano passado, ataques de militantes Houthis a embarcações no Mar Vermelho interromperam a rota, forçando o redirecionamento de remessas, causando congestionamento em portos asiáticos e europeus e elevando as taxas de frete em todo o mundo.
Em entrevista coletiva na última quinta-feira (31), o presidente-executivo da Maersk, Vincent Clerc, disse que não há sinais de abrandamento da situação e que não considera a região segura para suas embarcações e seus funcionários.
Em janeiro, a empresa dinamarquesa, uma das principais do mundo em transportes, disse que estava desviando todos os navios cargueiros das rotas do Mar Vermelho para o entorno do Cabo da Boa Esperança, na África.
Conforme dados da consultoria Drewry, o valor médio do transporte de um contêiner de 40 pés, que chegou a US$ 1.342 em outubro de 2023 disparou a partir de dezembro e alcançou os US$ 5.937 em julho de 2024, uma alta de 342,4% em oito meses. Em meados de outubro de 2024, o valor médio estava em US$ 3.349.
As rotas com origem ou destino no Brasil também foram impactadas pela mudança, que afetou toda a logística mundial e que se somou a outros fatores, como seca no Norte do país e greves em portos dos Estados Unidos e do Brasil.
Em fevereiro, o custo médio para importar um contêiner de 20 pés da China para o Brasil era, em média, de US$ 3.235. Já uma operação idêntica agendada para novembro tem o valor médio de US$ 11.293, um aumento de 249%.
No caso do contêiner de 40 pés, o frete médio entre os mesmos países saltou de US$ 3.771 para US$ 11.843 (+214%) no mesmo período.
Nas rotas de importação dos Estados Unidos, a média do valor do contêiner de 20 pés subiu de US$ 988 em fevereiro para US$ 1.655 (+67,5%) nas operações agendadas para novembro. Já o custo para recebimento de cargas do mesmo padrão da Alemanha saltou de US$ 1.410 para US$ 2.659 (+88,6%).
O preço do frete nas exportações brasileiras para os Estados Unidos também disparou. O envio de contêineres de 20 pés para os portos americanos foi de US$ 2.341 em fevereiro para US$ 7.854 (+235%) para as cargas que chegam ao destino em novembro.
O custo para expedição de contêineres para a China, por sua vez, aumentou de modo mais contido, de US$ 1.944, em fevereiro, para US$ 2.500 (+28,6%) no caso dos carregamentos agendados para novembro.
A Maersk reportou um forte desempenho no terceiro trimestre de 2024, com crescimento em todos os segmentos de negócios na comparação com o ano anterior.
O bom resultado foi impulsionado principalmente pelo segmento de transporte marítimo, que teve influência justamente das maiores taxas de frete, mas também do crescimento no volume de cargas, resultando em um aumento de 41% na receita.
“O redirecionamento da rede ao sul do Cabo da Boa Esperança continuou sendo um impulsionador significativo de nossa base de custos, impactando o consumo de combustível e os custos operacionais gerais”, informou a empresa em seu relatório trimestral.
“Essas pressões de custo foram amplamente compensadas pela execução operacional eficiente, resultando em um aumento de EBIT de US$ 2,9 bilhões e margem de 25,5%.”
A área de logística e serviços entregou crescimento de 11% na comparação anual, em razão do aumento de volumes da maioria dos produtos. Já o segmento de terminais demonstrou alta nas receitas principalmente na América do Norte, de acordo com o relatório.