Segundo o pai da administração, Peter Drucker, foram duas as mudanças revolucionárias na força de trabalho dos países desenvolvidos: a explosão da educação avançada e a investida das mulheres na carreira fora de casa. Isso inclui o comex.
Mesmo assim, há ainda muitas barreiras a se quebrar. Pesquisas apontam que mesmo mais instruídas, ou seja, com maior grau de formação, mulheres recebem salários e ocupam cargos inferiores aos homens.
Nesse sentido, ainda há uma grande discrepância entre cargos de liderança que são ocupados pelo sexo masculino, em sua maioria.
Segundo dados de uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial, no Brasil, os cargos de liderança ocupados por mulheres representavam 8,6% . Enquanto que no resto do mundo, a porcentagem média é de 16,9%.
Quando se trata de remuneração, ainda sofremos com uma disparidade entre os salários entre homens e mulheres. Sendo que o delas é 19% menor, para a mesma função.
Essa diferença de renda representa 172 trilhões ao longo da vida, segundo dados do Banco Mundial. Praticamente 2 vezes o PIB anual do mundo!
Mesmo diante destas barreiras e desafios, muitas mulheres conseguem alcançar grandes conquistas no mercado de trabalho — inclusive no comex — e devem ser valorizadas por isso.
Dados e estatísticas da representatividade das mulheres no comex
De acordo com o relatório Global Gender Gap Report 2020, cerca de 100 anos nos separam de uma realidade de igualdade de gêneros no mercado de trabalho.
Falando especificamente do comex, segundo artigo External Trade Effects on Women’s Employment: The case of Brazil”, de Marta Reis Castilho as mulheres correspondem às participações de 34%, 44% e 53% nas exportações nas categorias de baixa, média e alta qualificação.
Enquanto que nas importações, as mulheres representam um maior índice de empregos de qualificação mais alta: 32,4%. Bem como uma parcela menor para os de qualificação inferior (28,9%).
Aliás, em se tratando de comex, em 2021 foi lançada a pesquisa “Desafios da Facilitação do Comércio para Mulheres Comerciantes e Despachantes Aduaneiras no Brasil”.
A iniciativa do Grupo Banco Mundial realizou-se em parceria com o Comitê Nacional de Facilitação do Comércio (CONFAC). Além da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) e a Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil (RFB).
O estudo foi feito a partir de pesquisas sobre facilitação do comércio, desafios causados pela pandemia da COVID-19, bem como as barreiras que impedem uma participação mais igualitária das mulheres no comex.
Nesse sentido, a pesquisa tem como propósito promover a formação e desenvolvimento de iniciativas e políticas públicas relacionadas ao tema.
Alguns dos números do estudo mostraram que:
- Entre os despachantes aduaneiros, 67% das mulheres acreditam que seu feedback seja levado em consideração, em comparação com 74% dos homens
- Das despachantes aduaneiras que visitam recintos alfandegados regularmente, 55% afirmam ter sofrido com comportamentos negativos de autoridades
- O número de despachantes aduaneiros que afirmam ser consultados regularmente foi menor entre as mulheres (27%) do que os homens (32%).
Trajetória das mulheres no comex
Mesmo que as mulheres tenham sido ativas no comex desde que este se originou elas tiveram sua participação inferiorizada por sociedades patriarcais.
Afinal, nesta realidade, as mulheres só poderiam participar das operações do comércio internacional se este fosse parte do negócio de algum parente masculino.
Contudo, algumas civilizações eram mais permissivas neste sentido, fazendo com que homens e mulheres compartilhassem papéis colaborativos no comex.
É o caso das primeiras sociedades chinesas, por exemplo, onde as mulheres eram especialistas têxteis e impulsionavam a economia.
Entre 1500 e 1800, mesmo sofrendo com algumas limitações, as mulheres escocesas tinham um papel mais ativo na indústria e comex.
Pelo menos isso era válido para mulheres que possuíam maridos que atuavam na área e, por extensão, acabavam participando ativamente, trocando lãs e especiarias em suas viagens pelo Báltico e Escandinávia. Facilitando, dessa forma, a importação desses produtos no comércio internacional da época.
Voltando à Ásia, as mulheres da Tanzânia acompanhavam seus cônjuges ou parentes nas caravanas de marfim à longa distância, auxiliando-os em suas operações e negociações.
Por fim, no contexto atual, a representatividade feminina no comex apresenta um crescimento gradativo em todas as áreas do comércio exterior.
Seguindo essa tendência, alguns países já estão promovendo iniciativas para aumentar ainda mais essa representatividade. É o caso do Acordo de Livre Comércio Chile-Uruguai e Chile-Canadá.
Na esteira deles, outros países e blocos regionais, incluindo a União Europeia, anunciaram sua intenção de seguir o exemplo.
Conquistas da mulheres no comex
Após quase 26 anos de sua criação, fomos surpreendidos com a notícia de que pela primeira vez uma mulher iria assumir a diretoria geral da Organização Mundial de Comércio.
Ngozi Okonjo-Iweala sucedeu a Roberto Azevêdo na OMC e com um enorme desafio, já que assumiu justamente quando o mundo começou a sofrer com a pandemia da Covid-19.
Além disso, em 2019 a Organização Marítima Internacional (IMO) lançou um novo logotipo para o programa Mulheres na Marinha, visando apoiar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas 5: “alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas”.
O objetivo do Mulheres da Marinha é garantir que, por meio de “treinamento, visibilidade e reconhecimento”, as mulheres possuam os mais altos níveis de competência que o setor marítimo exige.
Outro exemplo das conquistas das mulheres do comex é Daisy Lima da Silva. Ela é a primeira brasileira a comandar um porta-contêiner na companhia Aliança Navegação e Logística.
Como comandante, ela é responsável por orientar a navegação, seguir a legislação de onde navega, desenhar estratégias para a organização e percurso da carga, e, principalmente, administrar sua equipe.
O principal desafio de sua carreira é administrar as relações pessoais dentro e fora do trabalho. Ela afirmou que precisou se esforçar e trabalhar mais do que seus colegas (homens) para conquistar respeito, mas que muitos a ajudaram também, reconhecendo seu trabalho e dando referências positivas.
A tecnologia como aliada das mulheres no comex
A tecnologia ajuda cada vez mais mulheres a conquistar espaço no setor portuário. O processo de automação, além de trazer agilidade e eficiência às operações, quebra o paradigma de que para trabalhar em portos o profissional deve ser “um homem forte”.
Todos os anos percebemos complexos portuários quebrando barreiras e contratando mais mulheres para assumir os mais diferentes cargos em suas equipes.
No ano passado, por exemplo, a Emirates apresentou mulheres que estavam sozinhas em um Boeing 777 Cargueiro.
A companhia aérea ressaltou que as mulheres estão cada vez mais presentes na aviação e no comércio exterior e que há mulheres de mais de 160 nacionalidades nas mais variadas funções na empresa.
Exemplo disso é a capitã americana Ellen Roz e a primeira oficial australiana Heidi McDiarmid. Elas vão de Frankfurt para a Cidade do México, seguem adiante para Quito, Aguadilla, Amsterdã e, finalmente, para Dubai, transportando diferentes tipos de cargas.
Mesmo notando um movimento em direção à igualdade por parte de muitas empresas e cada vez mais mulheres alcançando cargos almejados, essa é uma pauta importante e que deve sempre estar em nossas discussões. Afinal, temos ainda muito o que evoluir!
Além disso, no dia a dia do comex são diversas as mulheres que contribuem com o desenvolvimento do nosso país através do comércio exterior e de negócios internacionais, mulheres que nos inspiram e nos motivam a ir cada vez mais longe…
Com certeza você conhece algumas. Que tal compartilhar estas conquistas e trajetórias das mulheres no comex com elas?