O Porto de Santos (SP) se aproxima cada vez mais de seu limite de movimentação de contêineres, o que, segundo exportadores que operam no local, já afeta o escoamento de cargas. A autoridade portuária, no entanto, nega a possibilidade de esgotamento de sua capacidade operacional.
O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) afirma que clientes estrangeiros estão deixando de receber cargas em decorrência de atrasos recorrentes nas atracações e nas alterações de escala de navios em Santos.
Conforme números da Logcomex, dos US$ 7,6 bilhões exportados em café pelo Brasil nos nove primeiros meses deste ano, US$ 5,3 bilhões, o equivalente a 70%, referem-se a cargas que saíram pelo Porto de Santos.
Em setembro, parte da produção de café destinada à exportação saiu do país pelo Porto de São Sebastião, que não embarcava carregamentos do produto desde 1960.
De acordo com levantamento da entidade, 1,86 milhão de sacas de 60 kg de café deixaram de ser embarcadas em agosto em razão de atrasos ou alterações de escala de navios em todo o Brasil. Os atrasos no terminal santista, teriam envolvido 110 dos 128 navios no mês, o equivalente a 86% das embarcações com carregamento do produto.
O Centro Nacional de Navegação Transatlântica (Centronave), que representa armadores de longo curso, estima um prejuízo anual da ordem de US$ 21 bilhões para o comércio exterior brasileiro em razão da incapacidade do Porto de Santos de receber com regularidade porta-contêineres com 366 metros.
Segundo dados da Logcomex, o Porto de Santos foi responsável por 34% de toda a exportação brasileira por via marítima entre janeiro e setembro de 2024. No sentido inverso, de todas as cargas estrangeiras que entraram no Brasil, 30% o fizeram pelo terminal santista.
A Autoridade Portuária de Santos (APS), por outro lado, afirma que o porto opera em plena capacidade e nega seu “esgotamento”. Segundo a instituição, a capacidade operacional é de 5,9 milhões de contêineres/ano.
Em 2022, conforme números da própria autoridade, foram movimentados cerca de 5 milhões de TEUs. Em 2023, houve uma pequena variação negativa, para 4,8 milhões de TEUs movimentados.
Em seu mais recente relatório anual, a APS, afirma que “tem trabalhado constantemente para dotar o Porto de condições que permitam aumentar gradualmente sua capacidade de movimentação de cargas”. Em nota à imprensa, a autoridade portuária diz esperar que a capacidade do complexo atinja 6,1 milhão de TEU ao final de 2024.
Em março, o presidente da APS, Anderson Pomini, reuniu-se com o diretor-técnico do Cecafé, Eduardo Heron, para ouvir as necessidades e problemas do setor. Na reunião, foi definida a criação de uma comissão de trabalho para agilizar o escoamento do café pelo Porto de Santos.
Marcelo Procopio, consultor logístico e diretor da Marcpro Comércio, Importação, Exportação e Apoio Logístico Empresarial, lembra que a capacidade instalada de movimentação de contêineres de um porto é “teórica”, uma vez que os atrasos de navios inviabilizam o fluxo estimado, independentemente da capacidade estática do terminal.
“E os navios ainda estão enfrentando atrasos pelas mais diversas razões, com impacto negativo na capacidade portuária”, ressalta.