Da logística aos processos aduaneiros, diferentes frentes do setor de comércio internacional estão evoluindo com o uso de novas tecnologias. Internet of Things (IoT), Inteligência Artificial e Machine Learning são apenas alguns exemplos. Além destas, há uma que está em alta já há alguns anos, a Blockchain.
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Com o aquecimento do mercado de criptomoedas e Non-Fungible Tokens (NFTs), o assunto nunca esteve tão em voga.
Porém, as suas aplicações vão além de moedas e itens não fungíveis. Negociações em escala internacional já estão usando o blockchain para agilizar suas transações.
Um exemplo famoso — e relativamente recente — foi a venda e transporte de uma carga de grãos de soja entre uma empresas norte-americanas e chinesas em janeiro de 2018.
O contrato de vendas, as letras de crédito e certificados foram todos registrados pela plataforma da Easy Trading Connect.
Mas o que é exatamente a blockchain? Como ela funciona e do que é formada essa rede? Neste artigo, você entenderá tudo isso e como essa tecnologia tem se aplicado ao comércio internacional.
Boa leitura!
O que é o blockchain?
A blockchain é uma tecnologia que usa de um grande banco de dados compartilhado que funciona como um livro-contábil, registrando as informações de transações e contratos de acordo com regras preestabelecidas pelo algoritmo.
O grande destaque e diferença para os bancos de dados tradicionais é que ela não é controlada por empresas, bancos e organizações. Por isso, usa-se o termo “descentralizada” para descrevê-la.
As informações nesse ambiente são protegidas por densos códigos criptográficos e estão distribuídas entre os diversos computadores que usam sua rede. Além disso, os dados são imutáveis, ou seja, não podem ser alterados.
O uso mais conhecido da blockchain é como a tecnologia base das transações de criptomoedas, como a Bitcoin — primeira criada e mais famosa. Porém, o uso se estendeu para os NFTs e Smart Contracts, o que abriu diferentes oportunidades para os mercados.
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Como a blockchain surgiu?
A blockchain surgiu oficialmente em 31 de outubro de 2008, quando Satoshi Nakamoto escreveu o white paper “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System” (em tradução livre, “Bitcoin: Um Sistema de Dinheiro Eletrônico Peer-to-Peer”).
Na ocasião, a pessoa — ou pessoas — sob este pseudônimo propôs a criação de um tipo de moeda eletrônica que pudesse ser enviada de usuário a usuário, sem a participação de uma instituição financeira intermediando.
O material também apresenta o protocolo do algoritmo “Proof-of-Work” que é seguido, com destaque para a exponencialidade dos blocos e hashs.
Segundo Nakamoto, esse protocolo torna as transações mais seguras contra ataques de hackers, que precisariam invadir e alterar todos os códigos da cadeia, de todas as CPUs envolvidas para decodificá-los.
No entanto, as tecnologias de registro distribuído (DLTs) estão em pauta desde o início dos anos 90.
Os pioneiros e considerados co-criadores dos conceitos iniciais do blockchain, Stuart Haber e W. Scott Stornetta, publicaram artigos especialmente sobre timestamping.
Inclusive, o white paper original de Nakamoto cita diretamente e usa como referência três das publicações da dupla de cientistas.
Os smart contracts
Outro marco importante na história do blockchain foi a criação dos smart contracts, conceito lançado no projeto Ethereum do russo-canadense Vitalik Buterin.
Neste modelo, os contratos são guardados e executados conforme as regras do algoritmo, sem o envolvimento de um intermediário para controlar o processo (como seria uma imobiliária gerenciando um contrato de aluguel).
Como os dados são armazenados no blockchain?
O blockchain, diferente dos bancos, não registra os saldos e sim apenas as transações. A cada transação é gerado um novo bloco de dados, sendo que o anterior é “selado” com um timestamp (que contém a data e a hora da transação).
Cada bloco é individual, mas completamente dependente do outro, sendo ligados pelas hashes.
Basicamente, um novo bloco é gerado a cada 10 minutos, e é aí que os membros que formam a rede passam a atuar e emprestar a sua força computacional para validar as operações.Leia mais: Análise Preditiva com Big Data: utilize dados para previsões
Como é formada a rede no blockchain?
O novo bloco gerado em uma transação pelo blockchain se liga ao anterior por meio de um processo de validação rápido e computadorizado.
Os responsáveis por isso são os mineradores e os nodes (ou nós, em tradução livre), que usam seus computadores potentes para assegurar as transações.
Os mineradores são os responsáveis por encontrar as soluções que interligam cada bloco de transação, as hashes.
Já os nodes são usuários comuns da rede de blockchain, que usam suas máquinas para validar as transações por inteiro.
Em troca das ações, eles recebem normalmente uma compensação no formato de criptomoedas.
Como as transações são validadas no blockchain?
Assim que é feita uma transação, os mineradores entram em ação para encontrar a hash que interligará os dois blocos.
Então, os nodes, que são os usuários comuns da rede de blockchain, fazem a validação da hash, assim como escolhem a sequência mais longa e mais segura de blocos a ser seguida.
Obs.: existe mais de um tipo de node, sendo que os responsáveis por essa validação são os chamados full nodes.
Utilizações do blockchain
O blockchain tem aplicações amplamente conhecidas atualmente, mas podemos dizer que essa é apenas a “ponta do inceberg”.
Por ser uma tecnologia relativamente nova, os diferentes setores e mercados ainda estão estudando como trazê-la às suas realidades.
Até agora temos algumas possibilidades – que se mergulharmos, tomariam boa parte deste artigo.
Confira as principais abaixo:
- Criptomoedas
- Contratos inteligentes
- Pagamentos
- Logística
- IoTs.
Criptomoedas
As criptomoedas são a aplicação mais conhecida — e que mais mencionamos neste texto. A descentralização, imutabilidade e transparência são os pilares dessas moedas digitais.
Desde o surgimento do Bitcoin, muitas outras criptomoedas surgiram, trazendo oportunidades de investimento aos usuários.
Além disso, já existem casos em que empresas e segmentos tradicionais estão aceitando-as em transações por ativos físicos, como a compra de imóveis.
Contratos inteligentes
Outra frente que promete tomar conta dos procedimentos e burocracias no futuro é a utilização dos smart contracts, que permitem agilidade e segurança na validação.
A venda de grãos de soja entre empresas norte-americanas e chinesas — que citamos no início do artigo — utilizou-se dessa tecnologia.
Mas não para por aí, pois ela também se aplica a situações mais corriqueiras.
Pense na infinidade de tipos de contratos existentes, das mais diferentes naturezas e setores.
Agora imagine se a tramitação deles e sua execução ocorresse em cerca de minutos.
Isso é possível graças aos avanços do blockchain e da inteligência artificial.
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Pagamentos
O setor de pagamentos é um dos grandes alvos de fraudes e hackers atualmente. Por mais que existam padrões internacionais de segurança — como o PCI-DSS — ainda é possível aprofundar a proteção de informações e transações.
Instituições financeiras, adquirentes e bandeiras de cartão de crédito já estão incorporando o blockchain em suas realidades.
Chegando nos consumidores finais, essa tecnologia promoverá mais segurança e velocidade nos pagamentos e transferências de quantias.
Logística
Toda a cadeia da logística de suprimentos poderá se beneficiar desta tecnologia – algo que já está em teste pela Walmart, uma das maiores varejistas do mundo.
A ideia é que todas as etapas da cadeia possam ser devidamente rastreadas, registradas e analisadas — o que permitirá aos profissionais enxergarem variabilidades nos processos e, principalmente no transporte de alimentos, permitir que produtos frescos cheguem aos consumidores finais.
IoTs
Aqui está uma das aplicações mais futuristas, que se manifesta principalmente pelos itens smart.
Imagine só: sua geladeira percebe que o clima está quente; além de alterar sua programação para preservar os alimentos, ela também comunica o termostato para que ele se configure na temperatura que você determinou como ideal.
Essa interconexão entre sensores e diferentes aparelhos só será possível por meio de uma tecnologia, que permita registros rápidos, individuais e seguros, em uma cadeia que possa aumentar continuamente e ser auditada desde o seu primeiro registro.
Blockchain no comércio exterior
O comércio exterior, por sua complexidade e diversos processos, tem muitas possibilidades ao aproveitar os avanços da blockchain. Alguns são para daqui a alguns anos, outros já podem ser vistos hoje.
Empresas e organizações que realizam operações complexas e de alto valor já estão buscando meios de evoluir com essa tecnologia.
Por exemplo, a Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi contratou a IBM para criar um sistema baseado no blockchain capaz de rastrear, validar e executar transações de petróleo e gás natural.
Entretanto, a expectativa vai além dos processos comerciais. Há expectativa de que todos os processos possam ser totalmente integrados, da cadeia de suprimentos à liberação da carga e execução de contratos. É verdade que tudo isso vai além, utilizando fundamentos de Inteligência Artificial e Internet of Things, mas é justamente na interdisciplinaridade dessas tecnologias que se espera agilizar e aumentar a segurança no comércio exterior.
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