Você sabe qual é a importância da indústria têxtil para o nosso país, bem como seus desafios e tendências?
O setor têxtil brasileiro é reconhecido internacionalmente, sobretudo nos ramos de moda praia, jeanswear e homewear. E, assim como outros setores relevantes da indústria brasileira, foi bastante impactado pela pandemia.
Nesse sentido, diante do experienciado ao longo dos últimos meses, 2023 vem sendo colocado como o ano da recuperação da moda brasileira por especialistas do setor.
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Só para ilustrar, segundo o Instituto IEMI, a produção esperada para 2023 é de 5,99 bilhões de peças, maior que os 5,94 bilhões de 2019.
Por isso, hoje vamos conhecer alguns dados sobre a indústria têxtil: seu histórico e importância no Brasil, suas tendências e seus desafios.
A produção têxtil industrializada surgiu no Brasil em 1854. Contudo, sua presença e relevância mundial data de séculos antes.
Só para ilustrar, com o avanço das navegações e, por conseguinte, do comércio exterior, a produção têxtil foi crescendo e evoluindo no mundo todo.
Não à toa, a primeira revolução industrial teve como marco inovações nessa manufatura, com o surgimento da máquina à vapor e mudanças nas relações trabalhistas.
Neste primeiro momento de industrialização, foi a indústria têxtil que forneceu progresso e renda à Europa.
Olhando para o Brasil, estima-se o século XIX como surgimento dessas indústrias. Entretanto, o manuseio de fibras vegetais já era uma prática indígena.
Além disso, antes de conhecermos mais sobre essa indústria relevante para a humanidade, precisamos entender seu conceito.
Indústria têxtil, a saber, é a cadeia que transforma fibras em tecidos e em moda, passando pelo processo de fiação, tecelagem, costuma e muitos outros.
Esse processo é complexo e envolve diversas empresas especializadas em partes específicas, até que roupas, toalhas, lençóis, cortinas e tapetes, por exemplo, cheguem até você.
A indústria têxtil tem grande relevância em nosso país, sendo considerada atividade principal de quase 10 mil empresas, que empregam 250 mil pessoas diretamente (FIEMG).
Como vimos anteriormente, o Brasil é destaque mundial em vários ramos da moda, o que reflete a relevância e o investimento interno.
Na indústria de transformação, ademais, ela é a segunda maior empregadora, atrás apenas do ramo de alimentos e bebidas.
Sem dúvida, esses números são resultados da grande utilização de têxteis em nossa rotina: seja para dormir, vestir, decorar ou limpar, eles estão sempre presentes.
Analisemos, portanto, o panorama da indústria têxtil no ano de 2022 e vejamos algumas das expectativas para 2023.
Conforme Rogério Mascarenhas (presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem de Minas Gerais / SIFT-MG), o último ano foi especialmente fraco para o setor.
Na produção, só para exemplificar, houve uma queda de 12% em comparação com 2021 (Diário do Comércio).
Esse número mostra como foi um ano complicado, principalmente se levarmos em conta que desde o segundo semestre de 2020 o setor vinha se recuperando.
Para Mascarenhas, a principal dificuldade no primeiro semestre de 2022 foi a alta do preço do algodão.
Por consequência, os preços das peças aumentaram e as vendas diminuíram, pois o consumidor procurava opções mais baratas disponíveis ou deixava de ir às compras.
O segundo semestre também não foi animador, mesmo que o preço do algodão tenha diminuído.
Analogamente a outros setores econômicos, o período eleitoral e o envolvimento da população brasileira com a Copa do Mundo afastaram o consumidor da indústria têxtil.
Para o ano de 2023, porém, Mascarenhas teme que as expectativas altas não se concretizem.
De acordo com o presidente do SIFT-MG, o setor vem enfrentando dificuldades relacionadas à gestão e governança, com um mercado mais atento sobre os temas.
Além disso, o famoso custo Brasil também causa preocupação, pois ele dificulta a competitividade dos produtos nacionais frente aos importados.
Vamos entender, a seguir, com mais detalhes esses desafios.
Depois que já conhecemos a importância da indústria têxtil para o Brasil e um pouco de seu contexto nos últimos anos, olharemos para seus desafios.
Em 2022, muitos dos fabricantes esperaram que a recuperação iniciada no fim de 2020 caminhasse a passos mais rápidos.
Contudo, a Guerra da Ucrânia e a alta volatilidade dos preços das matérias-primas trouxeram novos desafios e frustraram as expectativas.
Logo abaixo, veremos alguns desses desafios.
Como já é sabido, a invasão da Rússia na Ucrânia provocou uma volatidade preocupante nos preços das matérias-primas.
Desde a crise do algodão de 2010 e 2011, a saber, as fibras sintéticas passaram a deter a maior parte da produção de fibras têxteis. Atualmente, elas representam quase dois terços dessa produção.
Após o início da guerra, os preços subiram rapidamente e, mesmo que tenham caído, não voltaram aos níveis anteriores à invasão.
Para além desse cenário geopolítico incerto, os fabricantes enfrentam dificuldade em utilizar mais substâncias naturais, uma crescente demanda dos consumidores, como veremos posteriormente.
Em segundo lugar, temos mudanças significativas no sourcing (ou abastecimento) global.
Como resultado das condições trabalhistas denunciadas e das oscilações da política de COVID-zero, a China vem perdendo espaço de fornecimento de materiais para seus vizinhos.
Além disso, os produtores estão indecisos entre comprar de fornecedores mais próximos geograficamente e minimizar os custos das transações.
Esses fatores, somados à estagnação do volume de pedidos, têm causado incertezas quanto à lucratividade da indústria têxtil.
Em terceiro lugar, temos uma grande preocupação do varejo como um todo: a constante alta da inflação.
Os desafios enfrentados não apenas pela indústria têxtil, mas também por outros setores da economia, ocasionam alta dos preços, que afeta diretamente os consumidores.
Dessa forma, vestuários deixam de ser prioridades e o desconsumo como consequência da inflação se alia ao desconsumo como escolha, como resposta ao consumismo desenfreado.
Finalmente agora, chegou o momento de olharmos para as expectativas e tendências que vêm acompanhando a indústria têxtil.
Primeiramente temos a automação, que surgiu no setor com as primeiras máquinas do período da revolução industrial.
Atualmente, no contexto da indústria 4.0 e do avanço da inteligência artificial, as empresas devem investir cada vez mais na automação.
Aliada a um bom planejamento, ela garante não apenas aumento de produtividade e qualidade, mas também redução de desperdícios, gargalos e mão de obra.
Logo após, temos o ESG, sigla para práticas empresariais que envolvem meio ambiente, responsabilidade social e governança, uma preocupação cada vez maior da indústria têxtil.
Essa preocupação é resultado não só da demanda dos consumidores e do mercado, como também da busca de investidores por empresas que adequam suas práticas.
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Em outras palavras, quanto mais a empresa se preocupa com o ESG, mais facilmente ela atrairá consumidores e investimentos.
Por fim, seguindo a tendência ESG e do desenvolvimento sustentável, aquele que não compromete a qualidade de vida das gerações futuras, há demanda por novas matérias-primas.
O mercado e os consumidores têm buscado peças feitas a partir de matérias-primas com menores impactos ambientais, sobretudo tecidos cultivados de maneira orgânica.
Essa tendência reflete a preocupação mundial com a perpetuidade da vida humana no planeta terra.
Nesse sentido, veremos uma mobilização da indústria têxtil brasileira para aumentar a fabricação de roupas a partir de novas fibras e novos materiais.
Para obter os dados da importação da indústria têxtil, segmentamos nossa pesquisa por fios, tecidos e também as máquinas utilizadas neste segmento. Confira a seguir os resultados.
Para esta análise, pesquisamos as NCMs iniciadas em 5402, exceto as classificadas como multifilamento com efeito antiestático permanente de título superior a 110 tex.
Sendo que as NCMs mais importadas pela indústria têxtil brasileira são:
Juntas, estas NCMs representam mais da metade (54%) dos fios importados pela indústria têxtil brasileira.
Segundo os dados da plataforma, foram importados US$ +830 milhões em fios, totalizando um peso de +382 toneladas.
O principal fornecedor destes fios para a indústria têxtil foi a China, com uma representatividade de 56% do valor FOB das importações.
No top 3 também figuram a Índia (13%) e os EUA (7%). Em peso, os principais fornecedores se mantêm os mesmos, com exceção da 3ª posição que, nesse caso, é ocupada por Taiwan (com 2% do total importado).
Em relação às principais unidades de desembaraço, o top 10 é composto por Itajaí (39%), Porto de Santos (29%), Porto de São Francisco do Sul (6%), Alfândega de Salvador (6%), IRF Porto de Suape (4%), Porto de Paranaguá (3%), Porto do Rio de Janeiro (2%), Alfândega de Uruguaiana (2%), Alfândega de Fortaleza (2%) e Aeroporto Internacional de Viracopos (1%).
Já os principais estados importadores da indústria têxtil são liderados, sem surpresa, por Santa Catarina — que, sozinha, representa quase metade das importações de fios para a indústria têxtil (43%).
Na sequência, surgem São Paulo (18%), Minas Gerais (9%), Bahia (8%), Mato Grosso do Sul (6%), Pernambuco (5%), Paraná (3%), Rio de Janeiro (3%), Ceará (2%) e Sergipe (1%).
Em se tratando de modais de transporte da importação de fios para indústria têxtil brasileira, o principal é o marítimo, representando quase 100% (98,66%) das importações:
Finalmente, as tendências da importação de fios da indústria têxtil brasileira apresentou pico em agosto, seguido de quedas consecutivas até dezembro de 2022:
Analisamos na plataforma da Logcomex o período de janeiro a dezembro de 2022 as NCMc iniciadas nas posições:
Com isso, descobrimos que a indústria têxtil importou US$ +859 milhões em tecidos, com um peso total de 275 mil toneladas.
Sendo que, entre essas importações, a maioria teve como origem a China (86%). No top 3 também estão Paraguai (4%) e Taiwan (3%).
Já no top 10 estados importadores, figuram Santa Catarina (onde está localizado o maior polo têxtil do Brasil), com 36% das importações.
Os demais listados são Espírito Santo (22% das importações), Mato Grosso do Sul (11% das importações), Ceará, Pernambuco e São Paulo (empatados com 6% das importações ), Minas Gerais e Rondônia (ambos com 3% das importações), Alagoas (2% das importações) e, na lanterna, Rio de Janeiro (1% das importações).
Já em se tratando de unidades de desembaraço, Itajaí lidera o ranking, seguido do Porto de Santos, Porto de Vitória, Porto de São Francisco do Sul, Porto de Suape, Porto do Rio de Janeiro, Alfândega de Fortaleza, Alfândega de Foz do Iguaçu, Porto de Paranaguá, São Paulo e Porto de Manaus.
Por fim, entre os tecidos importados pela indústria têxtil, as principais foram 5407.52.10 e 6001.92.00 — que, juntas, representam 43% das importações.
Para analisar a importação de maquinários para a indústria têxtil, pesquisamos todas as NCMs iniciadas em 8445 no período de janeiro a dezembro de 2022.
Como resultado, obtivemos a informação de que foram importados US$ +55 milhões dessas máquinas, totalizando o equivalente a +3 mil toneladas.
O destaque entre as NCMs importadas foi a 8445.20.00 — Máquinas para fiação de matérias têxteis — que, sozinha, representa mais da metade das importações (59%).
Sendo que o principal fornecedor desse maquinário foi a Alemanha, origem de mais de 37% do valor total das importações. No top 3 também estão listadas a China (com 13%) e a Índia (12%).
Novamente, Santa Catarina domina o top 10 dos estados importadores dos maquinários para a indústria têxtil, responsável por 20% do total em valor FOB das importações.
No ranking, figuram também São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Paraíba, Bahia, Minas Gerais, Pernambuco e Ceará.
Analisando as tendências da importação de máquinas para a indústria têxtil, o mês que apresentou destaque tanto em peso como em valor FOB importado foi novembro de 2022. Apresentando, aliás, uma recuperação após uma queda em outubro — voltando a cair em dezembro.
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