Como o transporte marítimo funcionou na pandemia?

Alta do frete, perspectiva de futuro e inovação no transporte marítimo

A questão do transporte marítimo tem sido uma dor de cabeça para muitos importadores e exportadores do Brasil e do mundo.

Com a alta do frete, empresas de comércio exterior quebram a cabeça para pensar na melhor logística, momento de fechar contratos, prazos, períodos e contextos favoráveis e desfavoráveis para os negócios. 

Leandro Barreto, managing director na Solve Shipping Intelligence, falou no primeiro dia do Logcomex Summit 2021 sobre a “montanha russa” que se tornou o mercado de frete marítimo nos últimos anos e os problemas e desafios do setor desde o início da pandemia.

Você pode conferir o papo completo no vídeo abaixo.

Descubra a opinião de um especialista sobre o futuro do transporte marítimo

Ao longo do texto, você irá conferir:



As transformações do mercado de transporte marítimo

Leandro inicia a exposição comentando sobre as dinâmicas do mercado e como ele se estabeleceu durante o tempo.

Para ele, as pessoas podem até considerar o transporte marítimo uma “indústria lenta”, mas defende que o setor marítimo passou por grandes transformações nos últimos 10 anos.

Ele destaca que o período da pandemia atuou como um grande catalisador dessas mudanças, já que o setor soube encontrar oportunidades em meio à crise, a partir de quebras de paradigmas e mudanças estruturais, como a digitalização dos processos e assimilação das novas tecnologias, por exemplo.

O diretor ressalta, porém, que a questão tecnológica não é o único elemento que movimentou o setor nos últimos anos. 

“A gente tem algumas questões estruturais: os navios cresceram de tamanho, os terminais cresceram, houve mais  investimento, novas tecnologias, mudanças na questão do combustível, a indústria vem se preocupando mais com as questões ambientais a com a compensação de carbono. Então eu diria que foram muitas as transformações, apesar de parecer uma indústria lenta”, analisa.

O representante da Solve afirma ainda que “quem acha que a navegação é uma indústria ‘lenta’ e ‘sonolenta’, tem uma memória do início dos anos 2000 e não entendeu ainda para onde este setor está indo”.

Leandro lembra que desde a crise de 2008, quando as empresas tiveram um grande prejuízo, houve um período de consolidação do mercado e as transformações que se observam hoje decorrem daquele período.

“Quem não percebeu a mudança, está atrasado”, afirma. Defensor dos contratos a longo prazo, Barreto acredita que esta é a única forma de prever a demanda e encomendar a construção de novos navios e modais de transporte marítimo. 

Por fim, como perspectiva de futuro frente a tanta instabilidade, o diretor opina: “o mercado agora está estranho. Para pensar em contrato é preciso ser criativo, parceiro, para que se equilibre de forma justa, mas realmente quem não tem contrato tá na hora de observar o que vai acontecer e procurar novos formatos de negócios”.

Congestionamentos nos portos: contexto e perspectivas

Uma das consequências do “vai e vem” de abertura e fechamento da economia no período da pandemia gerou um efeito em cadeia sentido até os dias de hoje nos portos mundiais.

Esse efeito cascata tem reflexos no preço do frete e também na incapacidade de atender toda a demanda, gerando problemas de congestionamento nos portos

Na exposição ao evento, Barreto analisa que logo quando veio o primeiro lockdown na China, seguido pelas medidas de isolamento social na Europa e com a alta mortalidade da Covid, o mundo ficou com medo.

Esse medo se reflete na contenção de gastos, já que a incerteza no futuro leva a poupança de recursos para necessidades básicas, como alimentação. Com isso, os navios ficaram parados e sem mercadorias.

Porém, com o desenrolar dos acontecimentos, os auxílios emergenciais, a injeção de dinheiro dos governos na economia e a adaptação ao home office mudaram rapidamente o cenário e o consumo em casa passou a ser o comum. “Isso é injeção na veia da navegação porque para tudo isso acontecer, os navios são necessários”.

Portanto, a análise é que essa capacidade “perdida”, na verdade, foi apenas reprimida. Quando a economia voltou a funcionar, os navios já não davam mais conta de cumprir toda a demanda, gerando os congestionamentos e demais transtornos. 

“Tem um jargão no setor que fala ‘navio não é de borracha’. Não dá para esticar e colocar um contêiner a mais”, explica. É neste contexto em que há o aumento exponencial do frete marítimo. 

Aumento do frete marítimo

Este contexto advindo com a pandemia fez o Governo do Brasil pensar os duel times para reduzir os free times.

“Em breve, a gente deve ter grandes novidades para melhorar esse duel time, essa liberação e reduzir o tempo”, prevê o diretor. 

Mesmo com o cenário gerado pela pandemia, Leandro afirma que não há falta de contêiner nem de navio para atender as demandas globais.

“O que acontece é que tem muitos navios e muitos contêineres parados nos EUA, na China e na Europa. Esses navios parados são capacidades retiradas do mercado”.

O congestionamento e o tempo de espera reduz significativamente a capacidade de transporte de carga. Isso acaba demandando uma quantidade de 15 a 20% maior para o transporte da mesma carga. E é essa capacidade perdida que faz com que o frete suba de forma exponencial. 

Leia mais: Frete marítimo China-Brasil: por que ele quintuplicou?

“Em 2015, a gente estava vendo a soja, que é um produto de baixo valor agregado, ser economicamente viável no transporte via contêiner. A vocação dela não é o contêiner, são os navios break bulk. Hoje, a gente está vendo o oposto. Antigamente, o frete era tão barato que estava levando soja, hoje em dia tá tão alto que tá servindo como um instrumento regulador de demanda”, expõe.

A análise do diretor da Solve leva em conta que a injeção de dinheiro dos governos nas economias é um dos responsáveis pelo aumento da demanda.

Para ele, acreditava-se que o valor seria investido em alimentação e necessidades básicas, mas observou-se a aquisição de bens de consumo, como eletrônicos, em todo o mundo.

No entanto, ele adverte que essa situação “irá durar para sempre”. Se não houver intercorrência e novas surpresas para os próximos trimestres, ele acredita que o valor do frete irá arrefecer.

No entanto, voltar à situação de 2015, quando a soja era transportada em contêiner, parece fora de cogitação.

A previsão é que até 2023, 2024 fiquem prontos os navios já encomendados pelo mercado e que estão em construção. “Até lá, a melhor forma de acabar com a oferta é acabar com os congestionamentos e reduzir o free time”. 

Além do free time, ele defende a redução do due time: “O free time é maior porque o due time é maior. A gente precisa que cada vez mais o governo melhore esses procedimentos para que possa reduzir o free time sem que paguem demurrage. Eu defendo que o fluxo flua sem que haja desperdício”.

Como contornar o alto custo do frete? Inteligência e inovação

A tecnologia e a inovação são fundamentais para lidar com os novos desafios e problemáticas do transporte marítimo, porém o especialista ressalta que o cenário atual e para um futuro próximo não é muito motivador. A estratégia é avaliar a questão com a inteligência necessária para não gerar outros transtornos.

“Contornar o alto custo do frete é difícil, mas tão importante quanto isso é a questão de não ter contêiner para embarcar. A pessoa até está disposta a pagar mais frete e manter o cliente, mas não tem disponibilidade de embarque. Para contornar os fretes altos é necessário pulverizar os volumes, pois a chance de embarcar é maior e menos contêineres ficarão para trás”.

No entanto, até a minimização dos efeitos do backlog e o descongestionamento, a previsão é que os fretes se mantenham altos.

No entanto, o investimento em tecnologia de inteligência, como o levantamento, sistematização e interpretação de dados para prever o mercado e tomar decisões, é a melhor forma de garantir a logística e a otimização. 

“O dado é a mãe de tudo. Se for possível observar um arrefecimento da demanda, dos congestionamentos, das utilizações dos navios saindo, dos terminais melhorando. Isso é primordial para que se saiba o timing correto de fazer um contrato. Quando abaixar a utilização de terminais e navios, o frete vai cair e o armador vai querer negociar o frete e o contrato. A informação é primordial para saber o timing correto para subir e abaixar o frete”, explica Leandro. 

Perspectiva de futuro: a questão dos portos brasileiros

Em um cenário tão complexo e imprevisível, sai na frente aqueles que investem em inteligência para prever a demanda mundial, o movimento do mercado e a hora de realizar as negociações e contratos.

Um dos contextos preocupantes apontados pelo diretor da Solve é a questão da adaptação dos portos brasileiros frente aos novos navios que estão sendo construídos. 

“Ou o Brasil se adequa para receber os navios de 366 a full capacity ou então a gente vai ser atendido via feeder no caribe, no mediterrâneo, assim como parte da carga excedente da Ásia transborda e vem para cá. Tem muita embarcação que já está vindo via mediterrâneo e caribe”. 

Leia também: Frete marítimo da Ásia: como está o cenário em 2021?

Na visão dele, é preciso pressionar desde já os governantes, prefeitos e responsáveis pelos portos e cidades portuárias. Essa adaptação é fundamental para garantir o Brasil como rota competitiva e viável em outros lugares.

Além disso, é mencionada a necessidade de firmar novas parcerias comerciais para além do eixo China e EUA, de forma a diversificar as relações comerciais e aumentar a competitividade do setor. 

“O mundo está percebendo que está muito dependente da China e talvez o mundo veja uma reorganização dos fluxos internacionais de cargas, menos dependência ou produção mais próxima do nosso país. Essa discussão é bastante importante”, finaliza.

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