Gestão de riscos e continuidade operacional no Supply Chain

A cadeia de suprimentos global passou por transformações profundas nas últimas décadas. Como resultado, qualquer interrupção em um elo da cadeia pode gerar efeitos em cascata, afetando prazos, custos e reputações corporativas. Por isso, a gestão de riscos tornou-se uma ferramenta essencial para não apenas evitar perdas, mas também garantir a continuidade operacional.

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Nos últimos anos, a volatilidade do comércio global se intensificou devido a eventos como pandemias, guerras, sanções econômicas e mudanças climáticas. Empresas que antes baseavam sua eficiência apenas em estoques mínimos perceberam que, sem flexibilidade, a fragilidade estrutural do Supply Chain compromete a operação.

Para ilustrar, no final de novembro de 2023, os combatentes do grupo Houthis, apoiados pelo Irã, intensificaram ataques a navios cargueiros em retaliação à guerra entre Israel e Hamas.

Como consequência, cerca de 90% da capacidade dos cargueiros que cruzam o Mar Vermelho e o Canal de Suez foi desviada para o sul da África. Assim, as viagens aumentaram entre 14 e 18 dias, o que elevou o frete em até 121%, segundo a CNN Brasil.

Por outro lado, com uma gestão de riscos eficiente no Supply Chain, é possível antecipar cenários, diversificar rotas e fornecedores e, ainda, fortalecer protocolos de resposta para manter a operação mesmo sob pressão.

Nesse sentido, a Resiliência Logística — ou seja, a capacidade da cadeia de absorver impactos, adaptar-se rapidamente e retomar sua performance — deve ser uma prioridade constante.

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Quais fatores aumentaram os riscos no Supply Chain atual?

A globalização criou redes complexas onde insumos cruzam múltiplas fronteiras. Embora isso aumente a produtividade, também eleva a exposição a riscos externos. Atualmente, classificamos os riscos logísticos em três dimensões principais:

Riscos geopolíticos e macroeconômicos 

Tensões comerciais, mudanças regulatórias e conflitos armados interferem diretamente nas rotas internacionais. A guerra na Ucrânia, por exemplo, alterou corredores marítimos tradicionais e pressionou o custo do frete global e também dos seguros.

Além disso, a dependência de rotas como o Canal de Suez ou o Estreito de Ormuz tornou-se um ponto crítico, pois qualquer bloqueio nesses pontos causa efeitos imediatos em escala mundial.

Riscos ambientais e climáticos

Eventos extremos (tempestades, secas, inundações) deixaram de ser exceções. Portos e centros de distribuição em áreas costeiras enfrentam paralisações frequentes, exigindo que o clima seja uma variável fixa no planejamento.

Riscos tecnológicos e cibernéticos

A digitalização do Supply Chain trouxe ganhos em rastreabilidade e integração, mas também abriu novas vulnerabilidades. Ataques cibernéticos a sistemas de gestão, como ERPs, WMS e TMS, podem paralisar operações logísticas inteiras.

Sem falar que falhas em plataformas de dados compartilhados entre embarcadores, transportadores, operadores logísticos, despachantes aduaneiros e órgãos governamentais, como o Siscomex, podem gerar atrasos e inconsistências com efeitos em cadeia.

Essas dimensões são interconectadas: um conflito geopolítico pode elevar custos e, simultaneamente, desencadear guerras cibernéticas contra infraestruturas críticas.

Isso explica por que a gestão de riscos deixou de ser um tema restrito à área de compliance e passou a integrar o núcleo da estratégia operacional das empresas que atuam no comércio exterior.

Como mapear e analisar riscos na cadeia de suprimentos?

A gestão eficaz começa pela visibilidade. O diagnóstico completo de riscos deve seguir um método estruturado para garantir a continuidade das operações.

Veja na tabela abaixo as quatro etapas fundamentais para um diagnóstico de risco eficiente:

Etapa do Diagnóstico O que fazer Objetivo Principal
1. Identificação Levantar vulnerabilidades físicas, regulatórias, financeiras e reputacionais. Mapear "onde" o problema pode acontecer.
2. Análise de Impacto Avaliar o efeito potencial (tempo de parada, custo financeiro, dano ao cliente). Priorizar esforços e investimentos
3. Avaliação de Probabilidade Cruzar o impacto com a chance de ocorrência para criar uma Matriz de Risco. Priorizar quais riscos exigem ação imediata.
4. Definição de Respostas Estabelecer medidas preventivas (seguros, estoques) e planos de contingência. Criar protocolos claros de reação.

As empresas que tratam a análise de riscos como um processo contínuo, revisado periodicamente e alinhado à realidade de mercado conseguem reagir com mais rapidez e precisão quando o imprevisto ocorre.

Quais ferramentas usar para gestão de riscos logísticos?

Para transformar dados em visibilidade e previsibilidade, é essencial combinar análise quantitativa com monitoramento. Destacam-se duas metodologias principais: a Análise FMEA e os Scorecards.

Dessa forma, torna-se possível compreender onde estão os pontos potenciais de falha e também qual seria o impacto de cada um deles sobre o fluxo logístico.

O que é Análise FMEA e como aplicar na logística?

A FMEA (Failure Mode and Effects Analysis) é uma metodologia estruturada que identifica, avalia e prioriza potenciais modos de falha em um processo antes que eles ocorram.

Tradicionalmente aplicada à engenharia de produto e manufatura, a FMEA vem ganhando relevância também no campo logístico, onde as interrupções ou falhas operacionais podem gerar impactos significativos sobre prazos, custos e confiabilidade.

Na logística, a FMEA é utilizada para avaliar vulnerabilidades em etapas como transporte, armazenagem, gestão documental e desembaraço aduaneiro.

A análise baseia-se em três critérios para calcular o Índice de Prioridade de Risco (RPN):

  1. Gravidade (S): O impacto da falha no cliente final.

  2. Ocorrência (O): A probabilidade do evento acontecer.

  3. Detecção (D): A capacidade de identificar o problema antecipadamente.

Quanto maior o RPN, maior a urgência de ação. Isso permite que as empresas ajam preventivamente, revisando contratos, investindo em automação, para reduzir o impacto de eventos recorrentes e, consequentemente, melhorar o desempenho de toda a cadeia de suprimentos. 

Como funciona o Scorecard de fornecedores?

 O Scorecard de desempenho transforma dados operacionais em indicadores objetivos para avaliar a confiabilidade de parceiros e rotas. Um scorecard robusto deve incluir métricas como:

  • Pontualidade de entrega (On-Time Performance);
  • Taxa de avarias ou perdas de carga;
  • Tempo médio de desembaraço aduaneiro;
  • Índice de incidentes operacionais;
  • Conformidade documental e operacional;
  • Custo por tonelada transportada ou custo médio por embarque; entre outras métricas.

Essa pontuação orienta decisões estratégicas, como a troca de fornecedores,  a revisão de contratos, a redistribuição de volumes e até mesmo a reconfiguração de rotas com base no desempenho histórico.

Integração entre ferramentas digitais e métodos analíticos


Além da FMEA e dos scorecards, a adoção de plataformas digitais de visibilidade em tempo real também fortalece o processo de mapeamento de riscos, pois permite maior controle e integração da cadeia logística.

Nessa perspectiva, os sistemas integrados (TMS, WMS, ERP e Torre de Controle) possibilitam cruzar dados de transporte, armazenagem e compliance aduaneiro, a fim de oferecer uma visão consolidada das vulnerabilidades.

Consequentemente, a combinação entre ferramentas quantitativas (FMEA e scorecards) e sistemas digitais de monitoramento contínuo cria uma base sólida para a resiliência logística. Com isso, o Supply Chain deixa de ser uma estrutura reativa e passa a atuar de forma inteligente, capaz de antecipar falhas, reduzir perdas e, sobretudo, ajustar o fluxo logístico com agilidade.

No entanto, essa combinação de ferramentas por si só não garante eficiência. É necessário combinar o uso de dados com governança e cultura organizacional voltada à prevenção e à adaptação.

Quais as melhores estratégias de continuidade operacional para importadores e exportadores?

Manter a operação ativa diante de crises é um desafio que exige planejamento, coordenação e capacidade de resposta.

As estratégias de continuidade operacional devem ser personalizadas, levando em conta o perfil de risco de cada empresa, o tipo de produto movimentado, os modais de transporte utilizados e os mercados atendidos. As melhores práticas incluem:

Diversificação de Fornecedores e Rotas

 Evite a dependência de um único porto ou parceiro. Ter acesso simultâneo a modais marítimo, aéreo e rodoviário permite rotas alternativas em crises regionais.

Estoques de Segurança e Nearshoring

Embora o modelo Just in Time continue relevante, a experiência nos mostra a importância de manter estoques de segurança estratégicos para produtos críticos.

Além disso, o nearshoring, que é a aproximação geográfica da produção ou armazenagem, tem sido uma alternativa para reduzir a dependência de longas cadeias internacionais.

Planos de continuidade documentados e testados

Um Business Continuity Plan (BCP) ou Plano de Continuidade de Negócios, que é um documento que detalha os procedimentos que uma empresa deve seguir para garantir a continuidade de suas operações durante e após um evento disruptivo, deve contemplar cenários de falhas, definir responsáveis e estabelecer tempo de resposta.

O plano precisa ser revisado e testado periodicamente por meio de simulações, para garantir que todos os envolvidos saibam exatamente como agir em uma crise.

Parcerias e transparência na comunicação

A continuidade operacional depende da cooperação entre embarcadores, operadores logísticos, agentes de carga e autoridades governamentais.

A troca rápida de informações sobre incidentes, atrasos ou restrições é decisiva para reduzir impactos na cadeia de suprimentos.

Segurança e compliance operacional

Seguros de transporte combinados a auditorias periódicas de fornecedores e prestadores de serviços reduzem perdas financeiras e fortalecem a confiança na rede.

A gestão documental integrada também evita penalidades e autuações que podem paralisar as operações de importação e exportação de mercadorias.

Garanta a gestão de riscos e a continuidade operacional no Supply Chain com a Logcomex

A gestão de riscos e a continuidade operacional deixaram de ser temas restritos à prevenção de danos para se tornarem diferenciais competitivos no Supply Chain global.

Afinal, a volatilidade do comércio internacional exige que importadores e exportadores estejam preparados para lidar com rupturas, adaptando-se rapidamente às novas condições de mercado e mantendo a fluidez das operações.

E para que as empresas possam aprimorar continuamente seus processos e fortalecer suas cadeias de valor, a Logcomex desenvolveu o LogOs, ferramenta que:

  • Aumenta a eficiência do Supply Chain;
  • Reduz custos logísticos;
  • Possibilita a tomada de decisões rápidas;
  • Aumenta a satisfação do cliente.

Não se deixe paralisar diante de riscos que podem ser controlados. Entre em contato conosco e garanta uma melhor posição no Comércio Exterior!