Dia do Leite: Consumo, Importação e Exportação no Brasil

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Você sabe qual o panorama da exportação e importação do leite no Brasil?

O Dia Mundial do Leite, 1º de junho, celebra a importância desse alimento na sociedade.

Como as pessoas decidiram começar a tomar leite animal? Como sua indústria foi se expandindo no Brasil e no mundo? Qual o panorama do mercado?

Hoje, além disso, veremos alguns dados sobre a exportação e importação do leite no Brasil.

Dia do leite: origem do consumo 

Antes de tudo, precisamos falar sobre o Dia Mundial do Leite, 1º de junho, e o consumo desse alimento tão nutritivo. 

Foi a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) que instituiu a data, a fim de incentivar o consumo de lácteos no mundo

O 1º de junho foi escolhido, em 2001, pois neste dia o leite já era celebrado em alguns países do mundo, sobretudo na União Europeia. 

Porém, a presença do leite animal na alimentação humana vem de longa data. 

Há registros de que o consumo se iniciou no Oriente Médio no período neolítico, cerca de 9.000 a 8.000 a.C

No entanto, estima-se que a produção tenha começado anos mais tarde, por volta de 5.000 a.C. 

E considerando que durante a Antiguidade e a Idade Média o leite era difícil de se conservar, foi apenas a Revolução Industrial que expandiu e estabilizou seu consumo

Consumo de leite no Brasil 

Em seguida, olharemos para o consumo no Brasil, que teve início com a introdução do gado europeu, ainda no período colonial, por Martin de Souza. 

Contudo, o alimento possuía um caráter secundário em nosso país até meados do século XX. 

Nesse período, por consequência da pouca quantidade de vacas criadas, a pouca oferta de leite impediu que ele se tornasse um alimento popular na sociedade.

Além disso, não havia o tratamento adequado durante a produção e o transporte era feito em condições de pouquíssima qualidade e higiene.

O bioquímico americano, Elmer McCollum, declarou em 1918 que o leite de vaca não deveria faltar na alimentação cotidiana de crianças e adultos. 

Anos mais tarde, o médico Dr. Josué de Castro, com base também nos estudos de McCollum, sugeriu ao governo pernambucano que o leite fizesse parte da dieta alimentar diária. 

A sugestão, primeiramente feita ao governo pernambucano, com o tempo se espalhou por todo o Brasil. 

Rio: capital brasileira pioneira do consumo de leite 

O Rio, capital brasileira entre 1763 e 1960, foi pioneira no consumo de leite em nosso país. 

Só para ilustrar, o consumo recomendado internacionalmente na década de 60 era de 500 ml para adultos e 1000 ml para crianças por dia

Inclusive, o prefeito à época, Pedro Ernesto, chegou a promover a Primeira Semana do Leite, com o intuito de fomentar o consumo.

Porém, apesar da grande população consumidora, a cidade não tinha a oferta necessária para garantir o consumo diário indicado.

Além disso, seu transporte se dava em péssimas condições, pois não havia meios para o armazenamento na temperatura adequada, e o custo era alto.

Nesse sentido, apesar do grande consumo, não havia possibilidade de este ser expandido.

Industrialização do leite

Pois bem, diante dessa necessidade de armazenamento adequado, faz sentido falarmos do começo da industrialização do leite.

Em 1864, temos um marco importante: a invenção tecnológica industrial do cientista francês Louis Pasteur, a pasteurização. É possível dizer até que esse fato histórico contribuiu para a exportação e importação de leite entre nações como conhecemos hoje.

Afinal, a aplicação do método ao leite por Franz Von Soxhlet permitiu a comercialização higiênica, menor incidência de doenças e maior tempo de conservação do produto.

Sem dúvida, isso representou um passo gigantesco na industrialização e conservação dos alimentos. 

No Brasil, a propósito, a indústria de laticínios se iniciou em Barbacena, Minas Gerais, em 1888, com a fábrica “Mantiqueira” de queijos e manteiga. 

Por que o Brasil importa tanto leite? 

Antes que vejamos os dados sobre exportação e importação de leite, vamos entender o motivo pelo qual o Brasil importa tanto o alimento.

Só para exemplificar, o Brasil exporta cerca de 3.000 toneladas de leite em pó e, em contrapartida, importa quase 17.000 toneladas (Canal Rural).

O principal fator para essa diferença entre exportação e importação de leite é o custo Brasil para a produção.

Os produtos de Uruguai e Argentina, uns dos principais exportadores para o Brasil, são tradicionais e possuem custos mais baixos na produção.

Além disso, eles exportam para o Brasil com tarifa zero, devido aos acordos do Mercosul. Nesse sentido, acaba sendo mais vantajoso para esses países exportarem e para o Brasil importar.

Leia mais: Países do Mercosul: conheça mais sobre o bloco econômico

Papel do leite e derivados na tecnologia de desenvolvimento do Brasil 

De fato, o uso de tecnologias permite maior rapidez, eficiência e produtividade aos processos industriais, incluindo no setor lácteo brasileiro. 

Como vimos anteriormente, a primeira indústria do setor no Brasil surgiu em 1888, em Barbacena. Desde então, diversas outras foram surgindo e se instalando.

Como resultado da constante atualização de tecnologias no setor brasileiro, houve uma crescente participação do país entre os exportadores de produtos lácteos.

Aqui, destacamos, por exemplo: queijos, leite em pó e manteiga. 

Atualmente, com o avanço da Indústria 4.0, espera-se que as indústrias lácteas continuem aumentando seu investimento em tecnologia

Leia também: O que é Comex 4.0? Como incorporar?

Seu uso é imprescindível para o acompanhamento de todas as etapas da cadeia com precisão e eficácia. 

Por isso, os produtos entregues ao consumidores são cada vez mais seguros e de alta qualidade. 

Importância do leite na economia brasileira 

Conforme dados da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o leite se encontra entre os seis produtos mais importantes do ramo.

E a indústria tem avançado cada vez mais: atualmente, já representa 24% do valor bruto de produção da pecuária, atrás apenas da carne bovina (Cooperativa).

Nesse sentido, o Brasil produz cerca de 33,6 bilhões de litros anuais, atrás apenas da Índia, que tem um rebanho com aproximadamente 70 milhões de animais.

São mais de um milhão de proprietários e quatro milhões de empregados em propriedades rurais para produção leiteira (Embrapa). 

Outrossim, destacamos que cerca de um terço da produção é utilizado como ingrediente básico de outros produtos.  

Esses produtos são não apenas lácteos, mas também cosméticos, medicamentos e artigos de higiene. 

Como está o mercado do leite? 

O setor brasileiro de leite, que vinha apresentando altas, teve duas quedas em 2021 e 2022.

E a previsão é de que 2023 seja mais um ano de queda: de 4,4%.

Conforme um pesquisador do Núcleo de Cadeia Produtiva do Leite da Embrapa, o aumento dos insumos levou a uma crise da oferta de leite (Canal Rural).

A seguir, veremos alguns dados sobre a balança comercial de lácteos.

Balança comercial de lácteos

Finalmente agora, vamos olhar para a balança comercial de lácteos. Em janeiro, o Brasil fechou o mês com déficit de 6,3 milhões de litros.

Entretanto, esse número é melhor que o registrado em janeiro de 2022, cujo déficit foi de 50,8 milhões de litros na exportação e importação de leite.

No gráfico abaixo, é possível observar o saldo da balança comercial de lácteos nos últimos meses: 

Fonte: MilkPoint, dados ComexStat
Fonte: MilkPoint, dados ComexStat

Certamente, esses preços, por estarem em paridade com o dólar, são reféns da volatilidade do câmbio, o que explica a melhora dos últimos meses.

Para finalizar esse tópico, os produtos mais importados em janeiro foram leite em pó integral, leite em pó desnatado, queijos e soro de leite.

Juntos, esses produtos representam 95% do total importado (MilkPoint).

Tendências do mercado do leite 

E no último tópico antes da exportação e importação de leite, vamos conhecer as tendências para o mercado: 

  • Crise econômica e inflação: a crise econômica enfrentada pelo mundo tem provocado o aumento crescente da inflação, que impacta diretamente o consumidor final
  • Maior volatilidade dos preços: a inflação impacta na volatilidade dos preços, pois mexe com o poder de compra dos consumidores e desequilibra oferta e demanda
  • Maiores custos de produção: a inflação também está refletida nos insumos, aumentando os custos
  • Difícil acesso: o aumento dos preços diminuiu o acesso das pessoas de classes mais baixas
  • Aumento da eficiência do setor como resposta à crise. 

Estatísticas da importação de leite 

Por fim, vamos conhecer as estatísticas da importação de leite (ComexVis). 

Entre janeiro e abril de 2023, foram importadas 69.888 toneladas do alimento, quantidade 230% maior que a registrada no mesmo período em 2022. 

O valor de importações, ademais, foi de US$ 263,26 milhões, 286% a mais em comparação de 2022, a um preço de US$ 3,77 por quilo. 

As principais origens do produto no período são: 

  • Argentina: US$ 124 milhões (47,3% de participação)
  • Uruguai: US$ 110 milhões (41,9% de participação) e 
  • Paraguai: US$ 13 milhões (5,58% de participação). 

E os principais destinos no Brasil foram: 

  • São Paulo: US$ 71,9 milhões (27,3% de participação)
  • Santa Catarina: US$ 51,4 milhões (19,5% de participação) e 
  • Rio Grande do Sul: US$ 48,9 milhões (18,6% de participação). 

Unidades de desembaraço

Analisamos as seguintes NCMs relacionadas ao leite na plataforma da Logcomex para identificar as principais unidades de desembaraço da importação do produto:

  • 0401.20.10 – Leite UHT (Ultra High Temperature), com um teor, em peso, de matérias gordas, superior a 1%, mas não superior a 6%, não concentrados nem adicionado de açúcar ou de outros edulcorantes
  • 0402.10.10 – Leite em pó, grânulos ou outras formas sólidas, com um teor, em peso, de matérias gordas não superior a 1,5%, com um teor de arsênio, chumbo ou cobre, considerados isoladamente, inferior a 5 PPM, concentrados ou adicionados de açúcar/outros edulcorantes
  • 0402.10.90 – Outros leites e cremes, em pó, com um teor, em peso, de matérias gordas, não superior a 1,5%, concentrados ou adicionados de açúcar ou de outros edulcorantes
  • 0402.21.10 – Leite integral, em pó, com um teor, em peso, de matérias gordas, superior a 1,5%, sem adição de açúcar ou de outros edulcorantes
  • 0403.90.00 – Leitelho, leite, creme de leite, coalhados, fermentados, etc
  • 0404.10.00 – Soro de leite, modificado ou não, mesmo concentrado ou adicionado de açúcar ou de outros edulcorantes
  • 0404.90.00 – Outros produtos constituídos do leite, mesmo adocicados, etc.
Principais NCMs da importação de leite
Principais NCMs da importação de leite

Em se tratando de unidades de desembaraço, as principais no período entre janeiro e dezembro de 2022 foram:

  • Porto de Santos
  • Jaguarão
  • Alfândega de Foz do Iguaçu
  • Alfândega de Uruguaiana
  • IRF Santana do Livramento
  • IRF São Borja
  • IRF Chuí
  • Itajaí
  • IRF Porto de Suape.
Principais unidades de desembaraço da importação de leite
Principais unidades de desembaraço da importação de leite

Modais de transporte

Por fim, analisando na plataforma da Logcomex, identificamos que o principal modal de transporte da importação de leite é o rodoviário (o que faz sentido, já que nossos principais parceiros comerciais estão localizados também aqui na América do Sul, permitindo o uso deste modal — que é mais econômico).

Em seguida, temos o modal marítimo, representando pouco mais de 36% e o aéreo, representando 5.217 movimentações.

Principais modais utilizados na importação de leite
Principais modais utilizados na importação de leite