Ao longo da pandemia causada pela COVID-19, a LogComex acompanhou o desenvolvimento das principais vacinas e seus insumos, além de analisar tendências das importações para o Brasil — como se daria o transporte delas.
Finalmente, o momento tão esperado chegou e a vacinação contra o Coronavírus, encabeçada pelo Reino Unido ainda em 2020, já está acontecendo no Brasil e no mundo.
Porém, com um grande desafio, os imunizantes precisam ser distribuídos para um contingente de, pelo menos, 5 bilhões de pessoas ao redor do planeta, numa intervenção logística sem precedentes.
Essa operação já tem tamanho e duração estimados: 10 bilhões de doses devem ser aplicadas até o fim de 2022, segundo o estudo Delivering Pandemic Resilience, feito pela empresa de logística alemã DHL em parceria com a consultoria norte-americana McKinsey.
Assim que o vírus começou a circular no mundo, diversos cientistas e pesquisadores se reuniram com o objetivo de entender a doença (origem, transmissão, mutação, como se dá o processo de infecção e diversos outros fatores).
Compreendendo esses fatores, são realizados testes em animais para buscar uma resposta de imunização e, na sequência, em humanos, dividindo o experimento em 3 fases.
O último passo é a aprovação pelos órgãos reguladores de cada país. Aqui no Brasil as vacinas precisam ser aprovadas e certificadas pela ANVISA para a distribuição em massa.
Atualmente, as vacinas aprovadas para distribuição no Brasil são a Corona Vac-Sinovac (China) e a Fiocruz-Astrazeneca (Reino Unido). A vacina produzida pela Johnson & Johnson (EUA) também deve ser aprovada futuramente. As vacinas Pfizer (EUA) e Sputnik (Rússia), embora ainda não aprovadas, igualmente se destacam.
A Universidade de Oxford está mapeando em seu projeto “Our World in Data” todas as nações que já deram início à vacinação, bem como a quantidade de pessoas imunizadas. Pode-se perceber que muitos países ainda não iniciaram seus processos de vacinação, principalmente na África e Oceania.
Os principais países que possuem população já totalmente imunizada, ou seja, receberam todas as doses necessárias da vacina são:
No Brasil apenas 0,02% da população está totalmente imunizada, no entanto, quando analisamos o ritmo da vacinação percebemos que o Brasil está avançando, atrás apenas de China, Estados Unidos, Reino Unido e Índia.
Segundo levantamento das Secretarias de Saúde de estados e municípios, no Brasil, pelo menos 3,78 milhões de pessoas já receberam pelo menos uma dose da vacina, representando 1,79% da população do país.
A pandemia da COVID-19 exigiu um planejamento e uma execução logística excepcional por parte de países. Pode ser comparada a uma operação de guerra, uma vez que há urgência e demanda extremas sobre um produto que poderá salvar milhares de vidas.
Porém, é importante destacar que além da própria vacina, mesmo que produzida no Brasil, ainda há a necessidade de alguns insumos que a compõe:
Além desses insumos, são necessárias agulhas e seringas, que para a vacina contra a COVID-19 devem ser de 3mL.
Pensando nisso, a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia anunciou em janeiro a redução da alíquota do Imposto de Importação a zero até junho. A medida pode ser prorrogada.
A Índia é conhecida como a farmácia do mundo e, atualmente, é responsável por 60% da produção mundial de vacinas (não apenas contra a COVID-19).
O país indiano e a China com suas enormes indústrias farmacêuticas estão sendo os maiores responsáveis pelas exportações do Ingrediente Farmacêutico Ativo.
O Brasil planeja produzir IFA o quanto antes, mas primeiro requer tecnologia e local adequado para essa produção. Se isso ocorrer, a partir do próximo semestre o país será capaz de produzir uma vacina 100% nacional.
As vacinas que combatem a COVID-19 estão submetidas ao tratamento administrativo dado pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), ou seja, necessitam do registro e deferimento da Licença de Importação realizada pelo importador ou seu representante legal.
Considerando que muitas vacinas ainda não possuem registro de produto, a importação será amparada pela Autorização para Uso Emergencial.
Para solicitar a licença são necessários os seguintes documentos:
Para analisar a Importação de vacinas prontas, podemos considerar 2 nomenclaturas: 3002.20.19 (para as vacinas não acondicionadas para venda) e 3002.20.29 (para vacinas acondicionadas para venda). A análise abaixo se baseou no segundo caso.
Leia mais: Coronavírus: como está a Importação de vacinas no Brasil?
Segundo os dados apurados na plataforma Search, os principais importadores de vacinas para medicina humana nos últimos três meses foram a Fundação Butantan, Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz.
Foram feitos 214 registros de Importação e mais de USD 172 milhões de FOB pago pelo mercado na Importação destes produtos.
O mês de pico para a importação do produto foi dezembro de 2020, conforme mostra o gráfico:
Do grupo de vacinas aprovadas contra a Covid-19, a vacina Astrazeneca/Oxford e Coronavac demandam temperatura entre 2ºC e 8ºC. A mais complexa de distribuir é a da Pfizer/BioNtech, que precisa ser transportada e armazenada a -70ºC.
A maior parte das vacinas que constam do calendário de imunização nacional, como aquelas contra Influenza, Tuberculose e Difteria, Coqueluche e Tétano, devem ser mantidas em temperatura de refrigeração entre 2°C e 8°C.
Já as vacinas para febre amarela e paralisia infantil precisam de armazenagem e transporte entre -15°C e -25°C.
Portanto, será um grande desafio a adequação da estrutura logística brasileira, formada por galpões de armazenamento, caminhões refrigerados e salas de vacinação contendo refrigeradores e freezers para armazenar a vacina da Pfizer — uma vez que o custo de um aparelho de refrigeração apropriado para estas ampolas pode chegar a R$ 120 mil.
Por ser um produto que possui o objetivo de preservar vidas, o tempo é outro grande desafio para os importadores de vacinas.
Isso explica porque quase 100% das importações são realizadas no modal aéreo, segundo a plataforma Product Search da Logcomex.
A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) afirma que para suprir a demanda de 7,8 bilhões de pessoas que hoje vivem no mundo, seriam necessários 8 mil Boeings e 737 navios cargueiros cheios de doses até o final da pandemia.
Para os governantes, o maior desafio é garantir que sua população seja imunizada de maneira equilibrada com a venda para outros países e para que não falte suprimentos e insumos, ao passo que não exista desperdícios enquanto outras nações sofrem necessidades.
Leia mais: Transporte de vacinas: o papel da logística no combate à Covid-19
Um dos grandes medos da população é a possível falta de vacina. Para isso é importante entender como se dá o plano de distribuição nacional.
Após a chegada da mercadoria no Brasil nos principais aeroportos do país, a carga é transportada até armazéns para seu acondicionamento.
Isso é feito pela distribuição para as capitais do país utilizando modal aéreo e rodoviário.
Tanto os aviões quanto os caminhões devem ser certificados pela ANVISA de que possuem condições de transportar a mercadoria.
Cada prefeitura mobiliza os veículos adequados para transporte do produto até os pontos de vacinação, devendo observar os grupos prioritários — começando por profissionais da saúde, idosos e idosos acamados, índios e pessoas com doenças crônicas, pessoas com deficiência, pessoas em situação de rua, forças armadas, trabalhadores portuários e de transporte e trabalhadores industriais.
Por conta da torcida e da expectativa dos brasileiros, a estimativa é que apenas em 2022 o Brasil possua doses suficientes para imunizar a totalidade da população.
Quanto maior o número de dados transformados em informações, melhores são as tomadas de decisão para o planejamento logístico.