Nesse dia mundial do doador de sangue, confira, confira o cenário dos hemoderivados no Brasil, números da importação e perspectivas

Dia do doador de sangue: dados da importação de hemoderivados

Dia 14 de junho é o Dia Mundial do Doador de Sangue. E, nessa data tão importante, o tema da publicação do blog da Log é a importação de hemoderivados.

De fato, é difícil imaginar que um produto proveniente do sangue possa sequer ser transportado de um local para o outro. 

Mas, além de ser transportado, ele é inclusive importado com segurança e de maneira que mantenha total eficácia de suas propriedades com mais frequência do que se imagina.

A saber, “hemoderivado” é um produto que deriva do sangue ou do plasma sanguíneo, que é a parte líquida propriamente dita do sangue.

Já o plasma, uma parte líquida do sangue, é considerado uma matéria-prima rara, cara e difícil de obter. 

Ele é obtido primordialmente através do processo de fracionamento do sangue total, que é doado voluntariamente pelos serviços de hemoterapia.

Além dos concentrados de hemácias e plaquetas, o plasma tem uma finalidade precipuamente transfusional em diversas terapias na assistência à saúde.

A saber, cerca de 20% da produção do hemocomponente nos serviços de hemoterapia é absorvida pela transfusão de plasma.

Os 80% restantes, ou seja, o plasma excedente do uso transfusional, podem ser utilizados para beneficiamento na produção de medicamentos hemoderivados — como albumina, imunoglobulina e fatores de coagulação.

Esses medicamentos possuem inegavelmente um alto valor agregado, sendo essenciais para as ações de saúde. 

É importante ressaltar que, durante o auge da pandemia, o país enfrentou um desabastecimento nesse sentido devido à sua alta dependência da importação.

O que comprometeu o tratamento de milhares de pessoas. Infelizmente, muitas pessoas perderam a vida em decorrência dessa situação.

Vamos saber mais sobre essa realidade e os números da importação de hemoderivados de janeiro a março de 2023!

Importação de hemoderivados: cenário atual e tendências

Atualmente, o Brasil depende da importação de US$ 2,5 bilhões em hemoderivados e produtos para o tratamento de doenças como a hemofilia, que requerem a coagulação sanguínea. 

Em paralelo, o recolhimento do plasma excedente nos serviços de hemoterapia em 2022 foi de aproximadamente 100 mil litros. Sendo que a previsão para este 2023 é ultrapassar 150 mil litros e a expectativa de coleta para 2024 é de mais de 200 mil litros. 

Esses números demonstram o esforço em aumentar a produção nacional e reduzir a dependência de importações.

Segundo o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos, Carlos Gadelha, nos próximos três anos, o país tem a perspectiva de se tornar menos dependente de importações e entrar em uma rota tecnológica. Afinal, os campos da hemoterapia e dos hemoderivados são essenciais para o cuidado das pessoas.

Nesse contexto — de acordo com o secretário — é fundamental estabelecer uma estratégia para fortalecer a indústria nacional e garantir o fornecimento desses insumos aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). 

Nesse sentido, a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) está desempenhando um papel importante, reestruturando suas atividades e negociando contratos para 2024, com o objetivo de ampliar a produção de hemoderivados em todo o país.

Com o fortalecimento da indústria nacional e o estabelecimento de parcerias, o Brasil está caminhando para se tornar autossuficiente na produção de hemoderivados e insumos essenciais para o tratamento de doenças que necessitam da coagulação sanguínea.

Isso representa uma conquista significativa para a saúde pública e para o cuidado dos pacientes do SUS.

PEC 10/22

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do plasma número 10 de 2022 apresentada pelo senador do Mato Grosso do Sul altera o artigo 199 da Constituição, que dispõe sobre as condições e os requisitos para coleta e processamento de plasma para permitir que isso seja feito pela iniciativa privada.

Em outras palavras, a coleta e o processamento de plasma não seria mais restrito ao setor público como acontece no cenário atual. Dessa forma, a Hemobrás deixaria de ser a única farmacêutica a utilizá-lo para produção de medicamentos. 

Com isso, de acordo com a PEC, as empresas privadas poderão ter maior concentração do estoque de sangue disponibilizado para oferta comercial

A saber, o Brasil possui 2.097 estabelecimentos, com cerca de 300 serviços de hemoterapia e produtores de hemocomponentes e recebe mais de três milhões de doações de sangue pelo SUS

A proposta de emenda à Constituição que trata das condições e requisitos para a coleta e o processamento de plasma humano foi debatida pela Comissão de Constituição e Justiça. 

Especialistas e demais convidados expuseram as limitações no país para captação de plasma e acesso a tratamento por meio das imunoglobulinas.

Principal argumento favorável à PEC

A importação brasileira de hemoderivados chega a US$ 2,5 bilhões, pois a Hemobrás não consegue processar todo o plasma e precisa enviá-lo ao exterior para depois recebê-lo na forma de hemoderivados

O senador do Mato Grosso do Sul, autor da PEC do Plasma, usa esse argumento para impulsionar a aprovação da proposta. 

A vice-presidente da Associação Eu Luto Pela Imuno Brasil, Juçaira Giusti — que possui imunodeficiência primária e depende desses medicamentos — reforça essa opinião e alerta para a falta de medicamentos no país.

Para ela, o Brasil depende de importações caras de imunoglobulina, pois não produz o medicamento

Além disso, diferentemente de outros países que incentivam a doação de plasma, a legislação brasileira não permite sua comercialização, lembra ela. 

Juçaira destaca que não há substituto sintético disponível, o que nos coloca em total dependência do plasma.

Por isso, para Juçaira, é urgente a atualização da legislação brasileira baseando-se em parcerias público-privadas, seguindo os modelos internacionais. 

Necessidade de colaboração entre os setores público e privado

O médico e professor Luiz Ribas, da Universidade Federal do Paraná, também apoia a PEC, defendendo a necessidade de revisão da legislação e enfatizando a importância de processar o plasma internamente

Ele ressalta que a tecnologia necessária está disponível e que o setor privado pode contribuir para o processamento do plasma, sem sobrecarregar o setor público.

Paulo Tadeu de Almeida, presidente da Associação Brasileira de Bancos de Sangue (ABBS) também é favorável à PEC — que vê como oportunidade para corrigir o histórico de desperdício de plasma no Brasil

Para ele, com a aprovação da PEC, a iniciativa privada poderia complementar o fornecimento de plasma em vez de descartá-lo, mostrando compromisso ético com a área médica.

Ele crê que a PEC é uma chance para o Brasil ser autossuficiente na produção de medicamentos a partir do plasma, deixando de depender de importações

Em sua visão, é possível aproveitar a expertise e o interesse de grupos econômicos, trazendo economia e salvando vidas de milhares de brasileiros anualmente. 

Ele finaliza afirmando que a aprovação da PEC abrirá portas para um novo cenário no tratamento com plasma, fortalecendo a saúde pública e garantindo o acesso aos medicamentos.

Redução do voluntariado à doação de sangue ao SUS

Apesar disso, o Ministério da Saúde se opõe à PEC 10/2022, argumentando que ela pode prejudicar a Rede de Serviços Hemoterápicos e o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e Hemoderivados. 

O órgão teme que o incentivo financeiro e as campanhas mercadológicas no comércio de plasma reduzam a voluntariedade de doação ao sistema público de saúde. 

Resultando, dessa forma, em procedimentos disponíveis apenas para aqueles que podem pagar por transplantes de sangue e medicamentos à base de plasma — essenciais à vida de milhares de pessoas com hemofilia. Além de pacientes com incapacidades transitórias ou não do sistema imune, queimaduras graves, dentre outras situações clínicas.

Desabastecimento interno

Essa situação pode levar à desestruturação da cadeia de suprimentos na rede pública, impactando o fornecimento de sangue em regiões remotas e até mesmo nos grandes centros — levando ainda ao envio de sangue coletado no Brasil para outros países, esgotando o mercado interno.

O secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos, Carlos Gadelha, também se posiciona contra a PEC, afirmando que ela aprofunda um modelo que se baseia na extração de recursos naturais para comercialização no exterior. No caso, o próprio sangue da população brasileira. 

Evidenciando, com isso, a importância de a Constituição proibir a comercialização de órgãos, tecidos e substâncias humanas.

Reversão do desperdício sem a PEC

Outra opinião contrária à PEC é a do diretor-presidente da Hemobrás, Antonio Edson Lucena. 

Ele afirma que o desperdício de plasma no país já não é um problema, pois a Hemobrás retomou a gestão do plasma. Sendo que a estatal possui infraestrutura adequada para recolher todo o plasma, tanto da rede pública quanto da privada

Segundo ele, a Hemobrás já está coletando plasma e fornecendo produtos para o Sistema Único de Saúde (SUS).

Assim, a estatal acredita que o desperdício de plasma que a ABBS apontou pode ter solução imediata, sem a necessidade de alterar qualquer regulamentação.

Aproveitamento do plasma no Brasil

De acordo com dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Brasil descartou 5,4 milhões de bolsas de plasma (200 ml cada) entre 2018 e 2020.

Por outro lado, 429 mil frascos de hemoderivados foram entregues ao Ministério da Saúde desde a retomada da gestão do plasma pela Hemobrás em 2020, obtidos a partir do fracionamento do plasma brasileiro, segundo a estatal.

Hemobrás

O Ministério da Saúde está elaborando estratégias para o fortalecimento da Hemobrás, que possui uma fábrica no município de Goiana, na Zona da Mata Norte de Pernambuco. 

A Hemobrás tem objetivo de garantir a produção nacional de hemoderivados ou medicamentos obtidos por meio de engenharia genética para o Sistema Único de Saúde (SUS).

A estatal está preparada para a autossuficiência em relação à produção de hemoderivados, pois desde 2007 a empresa tem tratado a transferência de tecnologia de produção, incluindo as etapas prévias de certificação de fornecedores. 

Ampliação

Além disso, ao longo do mesmo período a fábrica vem evoluindo na sua estrutura física e tecnológica a partir de uma parceria de desenvolvimento produtivo. 

Sendo que sua construção está sendo finalizada, com capacidade para processar até 500 mil litros de plasma ao ano, podendo chegar a até 700 mil litros caso haja demanda. Representando, assim, uma etapa fundamental para a autossuficiência do país. 

Com isso, a previsão é que em 2025 a Hemobrás possa operar todas as etapas de produção e, dessa forma, se torne a maior fábrica de medicamentos hemoderivados da América Latina. 

Além disso, o objetivo é de que até 2026 o Brasil não dependa mais de importação de plasmas e faça parte de uma “rota tecnológica, onde o campo da hemoterapia, dos hemoderivados, sejam essenciais para o cuidado com as pessoas e para o desenvolvimento tecnológico”, conforme observação de Gadelha.

Com investimento de cerca de R$1,4 bilhão, o empreendimento terá 17 prédios, distribuídos em 48 mil m² de área construída, em um terreno de 25 hectares. 

Em paralelo à construção da fábrica de hemoderivados, há a implantação de uma fábrica de fator VIII recombinante, medicamento obtido por engenharia genética destinado ao tratamento da hemofilia A no Brasil. 

O Hemo-8r, como é conhecido, já é fornecido para o SUS pela Hemobrás por meio de uma Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP). 

Como funciona a importação de hemoderivados?

Os principais hemoderivados se encontram na classificação 3002.12 da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), em que 3002.12.35 serve para a imunoglobulina e o 3002.12.36 para a albumina.

Ambos precisam de anuência da ANVISA para liberação (por conta do alto risco de contaminação que apresentam) e precisam ser mapeados, pois a maioria é administrada em humanos.

Dessa forma, devem passar obrigatoriamente pela análise de um laboratório terceiro para liberação das vendas destes produtos com segurança e integridade ao mercado interno.

São itens importados com restrição de entrada no país e existe uma lista específica de portos e aeroportos autorizados a receber esse tipo de material.

O grau de controle desses itens é um dos maiores feitos pela ANVISA e o efeito disso é sentido no momento do despacho aduaneiro. Afinal, esses itens precisam ter seus Termos de Guarda liberados pela ANVISA após o embarque.

Para esses casos, defere-se a Licença de Importação e registra-se a Declaração de Importação. A partir disso, a carga vai para o armazém do importador, mas ele ainda não pode comercializá-la.

Após o material chegar, se realiza uma análise interna e emite-se um Certificado de Liberação atestando a real manutenção das propriedades dos materiais durante o processo de importação e envia-se uma quantidade de amostras para um laboratório terceiro, que também deve emitir um laudo atestando a qualidade do material. 

Só então o importador pode fazer o envio da solicitação de liberação do Termo de Guarda para a ANVISA. A partir da liberação do termo, o produto está finalmente apto para comercialização.

Sobre a parte fiscal, o PIS atualmente segue mantido em 2,1%, enquanto que o COFINS gira em torno de 9% . Já o Imposto de Importação e o IPI, hoje estão zerados.

Importação de hemoderivados de janeiro a março de 2023

Desde o auge da pandemia, a necessidade dos hemoderivados importados vem sendo evidenciado. 

Afinal, eles atuam auxiliando no tratamento de pacientes infectados pelo Coronavírus. O que causou um aumento no consumo ao longo dos últimos anos, refletido diretamente nos números de importações.

O volume (em FOB) da importação de hemoderivados só no primeiro trimestre deste ano foi de US$ 75.459.495. Representando 118.450 kg importados dos insumos.

Valores FOB e quantidade em peso da importação de hemoderivados. Fonte: Logcomex
Valores FOB e quantidade em peso da importação de hemoderivados. Fonte: Logcomex

Para chegarmos a este resultado, pesquisamos as seguintes NCMs na plataforma de análise de dados da importação brasileira da Logcomex:

  • 3002.10.35 — Imunoglobulina G, liofilizada ou em solução
  • 3002.10.36 — Soroalbumina humana.
Principais NCMs da importação de hemoderivados. Fonte Logcomex.
Principais NCMs da importação de hemoderivados. Fonte Logcomex

Prováveis países de origem e aquisição

Já sobre a origem dos hemoderivados importados, temos a Espanha atuando hoje como principal exportador. Seguida da Irlanda, da China, da Suíça, da Alemanha e da Coréia do Sul.

Prováveis países de origem e aquisição importação de hemoderivados. Fonte: Logcomex
Prováveis países de origem e aquisição importação de hemoderivados. Fonte: Logcomex

Principais estados brasileiros importadores de hemoderivados

Em relação aos principais estados importadores de hemoderivados, Santa Catarina lidera o ranking. Seguida pelo Distrito Federal, do Paraná, de Pernambuco, de São Paulo, de Goiás e Espírito Santo.  

Principais estados brasileiros importadores de hemoderivados. Fonte Logcomex
Principais estados brasileiros importadores de hemoderivados. Fonte Logcomex

Principais cidades brasileiras importadoras de hemoderivados

Em se tratando das cidades brasileiras importadoras de hemoderivados, Itajaí, em Santa Catarina, lidera a lista. Seguida por Brasília, no Distrito Federal e Campo Largo, no Paraná.

Também estão listadas no ranking Goiana (onde se localiza a sede do Hemobrás); Cotia, Jaguariúna e Bom Jesus dos Perdões em São Paulo. Bem como Goiania, em Goiás.

Principais cidades brasileiras importadoras de hemoderivados. Fonte: Logcomex
Principais cidades brasileiras importadoras de hemoderivados. Fonte: Logcomex

Unidades de desembaraço da importação de hemoderivados

Em termos de desembaraço, o aeroporto internacional de São Paulo (em Guarulhos, SP), o aeroporto internacional de Viracopos (também em SP) e o aeroporto internacional de Brasília (no DF) são os únicos locais que receberam hemoderivados importados.

O porto de Santos também surge no ranking das principais unidades de desembaraço da importação de hemoderivados.

Vale ressaltar que, além desses três locais, apenas mais 7 outros portos/aeroportos no Brasil estão autorizados, pela ANVISA, a receber a importação de hemoderivados.

Ranking das principais unidades de desembaraço da importação de hemoderivados. Fonte: Logcomex
Ranking das principais unidades de desembaraço da importação de hemoderivados. Fonte: Logcomex

Quais são os critérios para doação de sangue?

No dia do doador de sangue, não poderíamos deixar de falar sobre um tema crítico para a saúde de todos em nosso dia a dia: a doação de sangue.

Muitos hospitais e bancos de sangue trabalham com níveis baixíssimos e a doação de sangue é um tópico que precisa de reforço frequente, especialmente no cenário global atual.

Para doar sangue existem alguns pré-requisitos, como:

  • Ter entre 16 e 60 anos (pessoas entre 60 e 69 podem doar desde que já tenha feito alguma doação antes dos 60 anos)
  • Pesar mais de 50 kg
  • Apresentar bom estado de saúde
  • Ter dormido pelo menos 6 horas na última noite
  • Não ter tido gripe ou resfriado nos últimos 7 dias
  • Não estar fazendo uso de antibióticos para infecções nos últimos 15 dias (em caso de infecções infecções mais graves como meningites, pneumonias, pode ser preciso um tempo maior de espera)
  • Caso tenha tomado vacina para febre amarela, fazer a doação após 4 semanas
  • Em casos de vacinas contra a febre amarela ou gripe, doar apenas 48 após a aplicação
  • Não ter tido hepatite B/C  após os 11 anos de idade, nem demais doenças ligadas aos vírus HTLV I e II
  • Não ter doença de chagas nem malária
  • Não ser usuário de drogas ilícitas injetáveis
  • Não estar em período gestacional
  • Não ter ingerido bebida alcoólica nas últimas 12 horas que antecedem a doação
  • Não ter feito tatuagem, procedimentos de micropigmentação e/ou piercings nos últimos 6 meses.

Consulte a lista completa no site do Ministério da Saúde através deste link. Então, se você se encaixa nesse perfil, seja um doador!