No início do isolamento social causado pela pandemia de COVID-19, no final do primeiro trimestre de 2020, as pessoas começaram a ficar muito mais atentas aos noticiários.
Dada a crescente circulação do vírus, a queda das operações de comércio exterior se destacava. Dessa forma, o mercado internacional enfrentou baixas operacionais e quarentenas prolongadas.
Esse cenário atípico se estende e, por isso, as consequências ainda estão sendo sentidas em diversas áreas da economia mundial — inclusive no comex.
Como resultado, em 2021 foi possível observar um aumento e oscilação significativos nos valores de fretes internacionais, congestionamento nos portos e falta de contêineres.
Ao mesmo tempo, mesmo antes da realidade da pandemia, acidentes já eram passíveis de vivenciar nas operações de importação e exportação.
O grande diferencial é que, na realidade atual, players operam com uma margem muito pequena para imprevistos.
E, exatamente por esse motivo, é importante entender as consequências que um acidente no navio ou no porto pode trazer.
Com as circunstâncias estando tão à flor da pele, acidentes chocam mais do que normalmente chocariam.
Episódios recentes afetaram severamente o comércio internacional e, consequentemente, o comércio exterior brasileiro.
Se já ouviu a expressão “efeito dominó” conseguirá visualizar as consequências da pandemia somadas aos impactos dos principais acidentes que aconteceram de 2020 para cá.
É sobre eles que falaremos a seguir.
O primeiro dos casos ocorreu no dia 04 de agosto de 2020. Uma grande explosão de cargas ocorreu no Porto de Beirute, no Líbano.
O episódio resultou em mais de 100 vítimas fatais e ainda milhares de pessoas feridas.
Por não ser um porto de cargas tão movimentado quanto os outros que veremos, o impacto dentro do comércio internacional não foi tão grande.
Mas os estragos causados pelo armazenamento equivocado de produtos químicos nunca serão esquecidos.
O segundo caso ocorreu praticamente um ano após o início da pandemia no Brasil.
Na madrugada do dia 23 de março saiu a notícia de que um navio teria sido atingido por fortes ventos enquanto estava atravessando o Canal de Suez.
O canal é um dos caminhos mais importantes da navegação mundial, pois conecta o Mar Mediterrâneo com o Mar Vermelho, fazendo uma ligação mais curta entre a Ásia e a Europa.
Para mensurar a importância deste canal, no ano de 2020 aproximadamente 19 mil navios fizeram essa travessia — uma média de 50 navios por dia.
Em torno de 12% de todo o comércio global passa por ele.
O Canal ficou parado por 6 dias e o impacto gerado foi enorme, causando atrasos de navios em suas escalas e de entregas de mercadorias aos seus destinos, sem esquecer do impacto financeiro estimado em mais de US$9 bilhões de dólares por conta das mercadorias que deixaram de passar por este acesso.
Leia mais: Bloqueio no Canal do Suez congestiona o comércio exterior
Mais recentemente, na virada do mês de maio para junho de 2021, um novo surto de Covid-19 acometeu boa parte da equipe operacional que cuida do Porto de Yantian, na China.
Este episódio fez com que durante todo o mês de junho o porto não operasse em plena capacidade, o que se prolonga até hoje.
O caso, em números e cifras, já ultrapassa o impacto do bloqueio do Canal de Suez. Com 80km de comprimento, o Porto de Yantian movimenta anualmente 13,5 milhões de TEUs (capacidade em containers de 20 pés), cerca de 36.400 TEUs por dia, sendo, portanto, um porto chave em escala global.
As operações estão sendo retomadas aos poucos, mas a consequência maior já aconteceu. Esse congestionamento atingiu outros portos na região de Guangdong, são os casos de Nansha, Shekou e Chiwan, que estão localizados em Shenzhen e Ghuanzhou, cidades portuárias que figuram entre o “Top 5 maiores portos do mundo”.
Com o congestionamento, as companhias marítimas foram forçadas a alterar rotas de atendimento, destinos de navios, cargas já em fluxo e, claro, aumentar as taxas para cobertura dos prejuízos.
O que já era caro, ficou ainda mais. Algumas rotas chegaram a sofrer aumento de mais de 500%.
A tendência do mercado é que estes valores se mantenham pelo menos até o final do ano, pois os impactos causados serão sentidos a longo prazo até total recuperação.
O caso mais recente, e que aconteceu no Brasil, foi o acidente no Navio Cap San Antonio, um navio da companhia Hamburg Sud, que colidiu com uma estação de balsas no Guarujá (São Paulo) quando estava saindo do canal de acesso da margem esquerda do porto de Santos.
O acidente no navio não deixou feridos, mas o impacto da batida abriu um rasgo na lateral do navio.
Com o auxílio de 4 rebocadores o navio retornou ao berço de atracação BTP para que cerca de 900 contêineres fossem descarregados e, posteriormente, se iniciasse o reparo da embarcação.
A descarga dos contêineres, o atraso da rota do navio e a ocupação do espaço de atracação que não estava previsto foram os maiores impactos deste caso do acidente no navio.
O atraso gera um impacto para quem estava envolvido diretamente com aquela embarcação, mas é absurdamente menor se compararmos com os outros casos citados anteriormente.
Para todos os casos citados, nota-se que um dos reflexos é sempre o atraso para atendimento de rotas e impacto financeiro, mas isso é comum em qualquer situação e em qualquer área profissional.
Especificamente durante a pandemia (agravante para qualquer problema “ordinário”) e com a grande paralisação operacional do Porto de Yantian, o que se vê, além dos mencionados atrasos, é um leilão de contêineres e espaços.
Como boa parte dos equipamentos estão parados aguardando andamento, acaba havendo um atraso em toda a cadeia.
A cada aumento de demanda, a oferta consequentemente será menor.
Isso resulta em dois problemas principais e que é de grande interesse de todo importador/exportador brasileiro:
Como vimos, há fretes que aumentaram mais de 500% do seu preço de mercado na virada de um mês para outro e, como se não bastasse, as companhias marítimas estão tendo que optar por atender a rota X em detrimento da Y.
Leia mais: Frete marítimo China-Brasil: por que ele quintuplicou?
O cobertor é curto e a decisão não é fácil. Infelizmente, nas atuais circunstâncias, para um ganhar, outro vai acabar perdendo.
Evitar problemas deste porte (acidente no navio ou no porto) acaba sendo uma missão praticamente impossível, pois requer um elemento que, infelizmente, o ser humano ainda não desenvolveu: nós ainda não conseguimos prever o futuro.
No entanto, atualmente se pode contar com muitos métodos de análise histórica para que as empresas, sejam elas fornecedoras de serviço ou de produto, dentro das possibilidades, tomem a melhor decisão possível para aquele momento.
No caso do comércio exterior, há a possibilidade de se fazer um estudo mais detalhado de rotas mundiais e das possibilidades de abertura de novos mercados.
Além disso, também é possível melhorar o desempenho da sua equipe com a automatização de muitas ferramentas.
O follow-up de cargas automatizado é um ótimo exemplo. Quanto mais preparada e bem informada a empresa estiver sobre a operação que ela quer realizar, menor risco correrá.