A pandemia de Covid-19 foi responsável por muitos “tipos” de crises ao redor do mundo e vários setores sofreram baques em suas receitas e operações. Entretanto, uma das menos conhecidas e que afeta a vida da maior parte dos cidadãos é a crise dos semicondutores.
A proliferação do vírus e suas consequências na rotina dos centros urbanos não foi o único influenciador direto. A priorização de novas tecnologias e até mesmo uma dose de azar contribuíram para o cenário atual.
Acontece que esses itens são fundamentais para a produção de uma série de equipamentos, de computadores a automóveis. Com a escassez na produção de chips, especialmente drivers de vídeo, e a capacidade reduzida da indústria, muitos produtos acabaram ficando mais caros ou sem estoque disponível.
Neste artigo, vamos explicar mais profundamente a crise dos semicondutores, os agentes que a potencializaram e as expectativas para sua resolução.
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Semicondutores são componentes sólidos com capacidade intermediária de conduzir eletricidade. Eles são matéria-prima fundamental para a construção de chips, sendo colocados entre isolantes e semicondutores.
Trata-se de um setor de US$ 450 bilhões em escala global e que alimenta a produção das principais tecnologias mundiais, tanto aos produtos para consumidores finais quanto aos equipamentos para fomentar a indústria.
A escassez de semicondutores impossibilita que os fabricantes de microprocessadores acompanhem a demanda do mercado. Consequentemente, esse mercado é inflacionado, tornando não só o produto final mais caro, como até os usados que seguem tabelas fixas de preço – como a tabela FIPE para carros.
Imediatamente, podemos apontar o responsável principal: a pandemia de coronavírus. No entanto, existe uma série de eventos que precisa ser detalhada para entender a crise chegou no seu patamar mais crítico.
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Em primeiro lugar, podemos dizer que houve um erro na previsão das fabricantes de diversos setores.
Com a iminente necessidade de distanciamento social e lockdowns nos centros urbanos, a expectativa era de que os consumidores comprassem menos. A conclusão era de que eles reduziriam despesas para se precaver dos tempos difíceis a vir.
Acontece que, com o passar do tempo, a demanda por itens de tecnologia começou a aumentar substancialmente. As pessoas passaram a comprar computadores, tablets, eletrodomésticos e outros itens para auxiliar suas vidas em casa.
Mesmo a indústria automotiva que não esperava um aumento na demanda por veículos novos foi surpreendida. Essencialmente, os consumidores queriam se locomover na medida do possível, mas o transporte público não era mais tão viável.
“Eu cortei todas minhas projeções. Estava usando a crise financeira como modelo. Mas a demanda foi realmente resiliente.”, disse Stacy Rasgon, que cobre essa indústria na Sanford C. Bernstein & Co., em entrevista a Exame.
Como a alta não foi projetada e os pedidos foram feitos de última hora, os fabricantes de semicondutores e chips não conseguiram atender a todos. Aumentar a capacidade seria muito caro e exigiria pressionar ainda mais a força de trabalho, o que não é viável, de acordo com Jordan Wu, cofundador e CEO da Himax Technologies, em entrevista à Bloomberg.
O que a tecnologia 5G tem a ver com a crise? Mais do que imagina!
Ainda antes de começar a crise, as fabricantes de microprocessadores priorizaram a produção de chips mais robustos para alimentar aparelhos com essa tecnologia e servidores. Afinal, é um segmento muito mais lucrativo.
No entanto, com a pandemia e as projeções equivocadas houve um desequilíbrio, justamente, na produção de chips mais simples.
Drivers de vídeo, microcontroladores e reguladores de energia, por exemplo, são fundamentais para a fabricação de diversos equipamentos. Ironicamente, essas peças são essenciais para a construção dos smartphones que carregam a tecnologia 5G.
Os atritos nas relações comerciais entre China e Estados Unidos, principais fabricantes e distribuidores de microprocessadores, também afetou muito o balanço do mercado. O ex-presidente Donald Trump aplicou restrições à venda de chips para empresas chinesas.
Isso fez muitas empresas daquele território estocarem sua mercadoria. O acúmulo de estoque por meses interrompeu o fluxo comercial da peça, declarou Eric Xu, vice-presidente da Huawei.
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Se já não bastasse a situação crítica da crise dos semicondutores, algumas fábricas tiveram que interromper sua produção por conta de fenômenos climáticos. No Japão, houve um incêndio; nos EUA o frio intenso; e em Taiwan uma forte seca que obrigou a redução da capacidade produtiva para poupar água.
Qualquer empresa que lide com a fabricação, distribuição e venda de equipamentos tecnológicos foi afetada. Isso porque o preço da maioria dos produtos que têm chips viu aumentos ou redução do estoque disponível.
Porém, alguns mercados podem ser destacados!
O primeiro que deve ser mencionado é o automotivo. Basicamente, há chips distribuídos por um automóvel inteiro. Não apenas carros populares, como caminhões, aviões, barcos e vários tipos de veículos e modais.
Para se ter ideia do impacto da crise dos microchips, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), 2021 foi o pior ano na produção industrial de caminhões em 5 anos. Durante 2021, estimaram mais de 60 bilhões de dólares em receita perdida para a indústria, de acordo com a reportagem da Exame.
Mas não para por aí. Computadores, laptops, tablets, eletrodomésticos de última geração e vários outros itens que registraram altas na procura tiveram seu preço e estoque afetado. Consoles de videogame, como o Playstation 5 e o XBox Series S e X, “sumiram” das prateleiras em 2021.
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A expectativa de muitos especialistas para 2022 é positiva. Por exemplo, Elon Musk, CEO da Tesla, revelou que tem expectativa de que a crise se resolva em 2022, com a construção de novas fábricas.
Milad Kalume Neto, diretor de desenvolvimento de negócios da JATO Dynamics, em entrevista à CNN, tem a mesma expectativa. E lembra que o setor-chave a ser atendido é o automotivo, que corresponde a 10% da demanda de microprocessadores no mundo.
De modo geral, importadores devem manter-se atentos aos comportamentos do mercado. Afinal, novas variáveis podem atrasar a recuperação do segmento, como novos surtos em centros urbanos e variantes do vírus.
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O Brasil foi fortemente afetado pela crise dos semicondutores. Pense no mais básico, existem vários parques industriais em território nacional, principalmente montadoras. Essas empresas tiveram sua linha de produção diretamente afetada pela falta de chips.
A Logcomex juntou dados de importação desse ativo no Brasil para entender como a crise dos semicondutores impactou as importações no Brasil.
Entre 2019 e 2021, considerando os recortes de janeiro a outubro, o valor transacionado na importação de semicondutores manteve-se num patamar semelhante. Porém, o peso (em kg) de mercadoria caiu consideravelmente de 2019 para 2020, e em 2021 ainda ficou bastante abaixo da necessidade.
Valor transacionado | Peso em kg | |
2019 | $1.194.710,85 | 77.514,86 |
2020 | $1.028.645,36 | 9.659,23 |
2021 | $1.054.766,74 | 17.841,68 |
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