Como o setor automotivo vai se ajustar com o novo mercado, mudança no consumo e a questão ambiental

Nos últimos anos, a relação entre as pessoas e os automóveis mudou muito. Estamos vivenciando uma queda no interesse dos brasileiros (principalmente, os mais novos) por carros, aumento do compartilhamento de veículos e mudança na matriz energética. Dessa maneira, é possível perceber que é essencial conversar sobre as transformações do setor automotivo

Por isso, durante o Logcomex Summit 2021, o tema “Logística automotiva no Brasil” foi discutido. Rodrigo Teixeira, diretor comercial na Comexport, falou sobre o papel e o valor que o automóvel possui na vida dos brasileiros. “A indústria sempre trabalhou para enquadrar a demanda, mas a demanda vai enquadrar a indústria”, afirmou Rodrigo, durante o evento.  

Abaixo, você pode conferir a palestra na íntegra. Ao longo do texto, vamos trazer os principais pontos do conteúdo. 

Queda no setor automotivo e novo perfil de consumo

A relação de compra e consumo está mudando em diversos setores, sobretudo com o surgimento de serviços temporários, aluguéis e aplicativos. Um desses fatores, a economia compartilhada, vem transformando de vez o setor.

Há 125 anos, houve o primeiro registro de patente de um automóvel autopropulsionado. De lá para cá, muitas mudanças ocorreram: os carros se tornaram mais modernos e velozes, passaram a ser produzidos em larga escala e se tornaram objeto de desejo das pessoas.

Entretanto, isso vem mudando e, cada vez mais, o status dele vem diminuindo, principalmente para as gerações mais novas. A prova de que a relação do consumidor com essa indústria está mudando está na adesão dos jovens à Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Segundo um estudo do Detran-SP, nos últimos 6 anos houve uma queda de 10,5% no número de pessoas de 18 a 30 anos que solicitaram o documento. Em junho de 2015, 4,8 milhões de jovens nessa faixa etária tinham CNH, contra 4,3 milhões, em 2021.

“A relação do automóvel está virando cada vez mais de experiência”, declarou Rodrigo Teixeira. “Hoje, vemos mais o automóvel sendo destinado ao uso, mesmo que momentâneo, do que para propriedade e status”. 

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A finalidade do produto está sendo transformada, passa a ser utilizado por mais pessoas e gera mais eficiência de transporte. “As pessoas desejam mais o banco de trás do que o banco do motorista, como acontecia antes”, explica.

Como o setor automotivo está lidando com a questão ambiental?

Além da mudança do perfil de consumo, nas últimas décadas cresceu uma preocupação perante a questão ambiental. “Em São Paulo, o automóvel já chegou a representar cerca de 70% da poluição ambiental da cidade, a partir da emissão de gás carbônico”, lembrou Rodrigo.

Com o automóvel a combustão sendo destaque na cultura ocidental e os veículos movidos a combustíveis fósseis sendo um dos grandes responsáveis pela situação ambiental atual, existe um desafio muito grande da indústria em mudar a matriz energética mundial. 

Existem diversas empresas buscando alternativas assim. Por exemplo:

  • Volvo: a fabricante já tem todos os carros elétricos ou híbridos (funcionado a combustão e eletricidade). O objetivo é que, até 2030, todos os veículos sejam elétricos, eliminando assim completamente a mobilidade a partir de combustíveis fósseis;
  • Tesla: atingindo recentemente US$ 1 tri de valor de mercado, a fabricante produz carros elétricos e, consequentemente, vem impulsionando o crescimento dessa modalidade em outras empresas.

Além disso, outras empresas também ficam de olho na mudança e buscam se adequar. Por exemplo, o iFood anunciou que 100% dos seus pedidos serão neutros em emissão de carbono

Setor automotivo: mudanças e desafios da logística automotiva

Além da mudança de consumo e na matriz energética, outra parte dessa cadeia vai ser bastante afetada: a logística automotiva.

Uma vez que a indústria está sendo pressionada a mudar sua base energética, aumentando o número de veículos híbridos e elétricos, a cadeia de abastecimento também está na mesma situação.

Hoje, o desafio da indústria é como se comunicar melhor diretamente com o consumidor  e como entregar o produto com o menor impacto ambiental possível, afetando toda a cadeia logística. Qual sentido faria comprar um carro elétrico que tenha passado por um processo de entrega com alta emissão de carbono? Não é coerente.

“O automóvel deve chegar cada vez mais direto para o consumidor, cada vez mais de forma eficiente e não poluente”, explica Rodrigo Teixeira.

O que fazer com carros usados?

Além de saber como o carro elétrico vai chegar até a casa das pessoas, é essencial saber como será feita a distribuição de energia até lá. Não adianta o veículo ser movido à energia elétrica se aquela energia vem de uma fonte poluente, como uma usina termelétrica.

Os veículos elétricos têm um desafio quanto a bateria do carro, que tem vida útil curta. Nesse ponto, temos uma grande questão de logística: o que fazer com todos aqueles outros componentes que estão no automóvel quando sua vida útil termina?

“Os desafios da indústria logística vêm de todos os lados, desde a transformação do produto e chegar com mais eficiência para quem vai utilizar, até o quando é necessário  fazer a reciclagem dele, a logística reversa”, lembra Rodrigo Teixeira. O grande dilema é que todas essas mudanças e transformações, sobretudo na cadeia de fornecimento, possuem custo alto. Não há dúvidas de que seja um investimento que valha a pena, entretanto a relação entre a vontade e a capacidade de pagar por esse custo é desigual.

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“Muitos já se convenceram do apelo do carro elétrico, mas quantos estão podem pagar 50% a mais por um?”, questiona Rodrigo Teixeira. “Para haver mudanças significativas na questão ambiental, a troca da matriz energética precisa ser feita. Entretanto, ela necessita de incentivos à importação e à estrutura e de incentivo à instalação dos postos de abastecimento”.

A situação da importação de carros no Brasil

Você sabia que é possível acessar mais informações sobre a situação da importação de automóveis no Brasil? Assim, você consegue entender melhor o setor automotivo.

Por meio da plataforma Logcomex, podemos acessar um panorama geral sobre a NCM 8703 que trata de “Automóveis de passageiros e outros veículos automóveis principalmente concebidos para transporte de pessoas”.

Entre novembro de 2020 e outubro de 2021, foram importadas mais de 176 mil toneladas, em um valor de mais de US$ 2 bilhões. Esses valores podem ser encontrados detalhadamente na plataforma, além de outros dados como o país de origem e aquisição.

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Podemos ver uma importação grande vinda da Argentina, México, Alemanha e Hungria. Informações como as unidades de desembaraço aduaneiro aqui em nosso país também podem ser encontradas.

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Principalmente, vemos uma entrada a partir do Porto de Vitória e do Rio de Janeiro. Comece a ter maior previsibilidade da sua estratégia de importação.