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Frete marítimo China-Brasil: por que quintuplicou?

Written by Redação Logcomex | 8.1.2021

Nos últimos meses, os importadores brasileiros têm se assustado com os valores de frete da China para o Brasil. Não é por menos: hoje, a rota apresenta os preços de frete marítimo mais altos do mundo

Em comparação com o período pré-pandemia, o valor representa 5 vezes mais atualmente. Como consequência, é claro, essa realidade acaba encarecendo o preço final de produtos importados para o Brasil. 

Porém, para contornar a situação da melhor maneira possível, é extremamente importante entender o que levou a esse panorama. Assim, é possível traçar o cenário dos próximos meses com muito mais assertividade.

Pensando nisso, o blog da Log entrevistou Leandro Carelli Barreto, especialista em transporte marítimo e Diretor da Solve Shipping Intelligence, para produzir um conteúdo exclusivo sobre esse assunto. Olha só:

Entendendo o cenário: fretes marítimos

Apesar de o Brasil estar vivenciando esse cenário atípico, a alta dos valores de frete marítimo da China não é uma exclusividade para os importadores brasileiros.

De acordo com Barreto, essa realidade está instalada no mundo inteiro. “Enquanto em outras rotas a partir da China os fretes triplicaram, aqui no Brasil eles quintuplicaram se comparados com os níveis pré-pandemia”, conta.

Mas, como o transporte marítimo chegou a essa realidade? De acordo com o especialista da Solve, a demanda é a palavra para explicar esse quadro.

Quando a queda se instaurou, os navios foram estacionados. O problema é que, agora, toda a demanda está vindo de uma vez e fica difícil de absorver”, ilustra. 

Além disso, outros acontecimentos listados por Barreto também contribuíram para que o fenômeno acontecesse: 

  • A formação de estoque tradicional de Natal
  • Os efeitos dos estímulos fiscais do governo
  • A substituição de hábitos de consumo — houve um aumento dos gastos com e-commerces, em geral
  • A falta de contêineres e navios em todo o mundo.

Leia mais: Como o transporte de contêineres pode se reinventar para a era digital

Quais foram as rotas mais afetadas?

Se tratando de valor de frete, o trajeto China-Brasil é, de fato, um dos que mais enfrenta obstáculos em todo o mundo. Barreto explica o porquê: 

O importador brasileiro está tendo que disputar contêineres na Ásia com o importador dos Estados Unidos que, embora pague menos da metade que o importador brasileiro, faz uma rota mais curta, por isso o contêiner volta mais rápido”, elucida.

Ainda assim, outros países também enfrentam grandes dificuldades no comércio com a Ásia — tanto na importação quanto na exportação.

De acordo com o especialista, os exportadores agrícolas dos Estados Unidos lutam com a escassez de contêineres. 

O motivo, segundo Barreto, é de que o frete para a carga ir dos EUA até a Ásia tem um “valor limite”. Além disso, o tempo de giro do contêiner — que precisa ir até o interior do país para exportar os produtos agrícolas, depois voltar para o porto, ir até a China e assim por diante — é muito grande.

Por essa razão, o “valor limite” de frete acaba se mostrando em entrave.  “O exportador agrícola americano está ficando sem contêineres para a exportação e, se formos tomar esse fator como para definir os países mais afetados, talvez os exportadores americanos sejam os que mais estão sofrendo com a falta de contêineres”, explica.

Leia mais: Os principais eventos de importação marítima: da coleta de mercadoria até o embarque de carga

Commodities são as que mais sofrem com a alta do frete

Mesmo para os importadores de produtos com maior valor agregado, os altos valores de frete são prejudiciais. Porém, quando dissolvidos no custo final da mercadoria, não representam uma ameaça.

Em uma carga de televisores de LED, por exemplo, é possível repassar o custo na cadeia sem que haja grandes problemas. Ele não afeta tanto o custo final da mercadoria, porque são produtos de alto valor agregado”, desenvolve Barreto.

Porém, o especialista elucida que, quando se trata de produtos com menor valor agregado — como as commodities — o preço do frete marítimo pode acabar pesando mais: “As commodities agrícolas são as que mais estão sentindo. Com o aumento do frete, muitas acabam ficando economicamente inviáveis. Isso está impactando bastante no custo final de alguns produtos”.

Retomada e a inteligência de mercado

Durante a conversa entre Leandro Barreto e a equipe da Logcomex, uma coisa ficou bem clara: não existe mais espaço para que as empresas baseiem sua estratégia em receitas de bolo.

Tivemos um 2020 absolutamente incomum, imprevisível e cheio de obstáculos. Ninguém conseguia prever o tamanho da queda”, afirma Barreto.

Reiterando sua fala, o especialista ainda comenta que, inclusive, o rombo previsto para o segundo trimestre foi menor do que se esperava — felizmente.

Segundo a previsão do especialista, o prazo para que a cadeia logística comece a se reestruturar novamente não é tão grande. “Acredito que o processo para reordenar os fluxos logísticos possa levar mais 2 ou 3 meses. Mas tudo vai depender, no final, da demanda”, conta.

O importante, conforme afirma Barreto, é olhar de perto o andamento do mercado — assim, é possível ir se adaptando à situação.

A gente precisa, realmente, acompanhar muito de perto essa demanda. Os planos podem mudar de semana para semana, as tendências também”. 

Em frente a essa análise, ficou muito claro que o ano de 2020 veio para comprovar ainda mais a importância da inteligência de mercado.

Afinal, de acordo com o especialista da Solve, “está tudo muito volátil, por isso você precisa estar o tempo todo interpretando e se adaptando às novas realidades”.