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Frete marítimo da Ásia: como está o cenário em 2021?

Written by Redação Logcomex | 2.6.2021

Desde o início da pandemia provocada pelo novo Coronavírus, os valores do frete internacional para a rota China-Brasil dispararam e seguem preocupando os players da área. Por isso, o cenário atual do frete marítimo da Ásia para o Brasil vem sendo muito estudado e discutido.

A China é o principal parceiro comercial do Brasil, tanto na importação quanto na exportação. Em 2020, o gigante asiático representou 33,6% de todas as exportações brasileiras e 21,8% de todas as importações. Neste artigo você vai entender ainda mais sobre o panorama da rota China-Brasil!

Contextualização Ásia-Brasil

Antes de analisarmos o cenário atual, vamos entender um pouco sobre a relação do Brasil com a Ásia e como o alto valor dos fretes pode influenciar a economia brasileira. 

Os principais países asiáticos que importam e exportam produtos para o Brasil são: 

  • China;
  • Japão
  • Coreia do Sul
  • Singapura
  • Malásia
  • Vietnã
  • Indonésia
  • Índia
  • Hong Kong
  • Tailândia.

Se tratando de mercadorias, os principais produtos importados da Ásia para o Brasil são do grupo da indústria da transformação (válvulas e tubos, equipamentos de telecomunicação, partes e acessórios, máquinas e eletrônicos, além de muitos outros). 

Já o Brasil é um grande exportador para a Ásia de produtos agropecuários (soja, milho, tabaco) e da indústria extrativa (minério de ferro e óleos brutos de petróleo ou minerais betuminosos). 

Entende-se que, por se tratar de insumos necessários na economia, as negociações entre Brasil e Ásia são muito importantes para ambas regiões. 

Cenário e histórico da alta de fretes no Brasil 

Desde 2017, o frete saindo da Ásia com destino ao Brasil já era considerado um dos mais caros do mundo: quase o dobro da rota da Ásia para a Costa Leste dos Estados Unidos. 

Uma das justificativas para esse fato foi a baixa demanda de importações da época e a redução dos serviços de navegação. Mas o que nenhum player brasileiro esperava era que o frete pudesse chegar aos USD10 mil por TEU. 

Em janeiro de 2021, isso aconteceu. O frete marítimo para a rota China-Brasil quintuplicou e chegou nos três dígitos.

“É um nível histórico, nunca tinha visto o frete alcançar esse valor”, afirmou Luigi Ferrini, VP Sênior da Hapag-Lloyd no Brasil.

Leia mais: Frete marítimo China-Brasil: por que ele quintuplicou?

A disparada aconteceu não só na rota para o Brasil, mas também para os Estados Unidos e Europa.

Por que o frete internacional saindo da Ásia ficou tão alto?

A China é considerada a fábrica do mundo. Quando — com as medidas de isolamento social provocadas pelo Coronavírus — todo o mundo parou, empresas deram férias coletivas, suspenderam a produção e deixaram de importar. 

Como estratégia, utilizaram seus estoques para não faltar produtos no mercado. Nesse período crítico, armadores também optaram por realizar blank sailings, ou seja, omitir rotas e parar apenas em alguns portos

Com a recuperação da economia global, países de todos os continentes voltaram a demandar produtos provenientes do gigante asiático.

Como a lei da procura e oferta sugere, com o aumento da demanda por produtos chineses para repor estoques, houve a tentativa de controle por parte de armadores, que aumentaram o preço do frete internacional e até declinaram BIDs. 

Muitos players também se viram no “efeito substituição” (o frete aéreo também sofreu um aumento de 200% fazendo com que a estratégia de modais migrasse para o modal marítimo, aumentando ainda mais a demanda neste). 

Com Europa, Estados Unidos e Brasil disputando os fretes internacionais, mais um problema surgiu: a falta de contêineres.

Situação que já não era novidade, mas que após o encalhe do navio Ever Given no Canal de Suez, passou a preocupar ainda mais. 

Leia mais: Bloqueio no Canal do Suez congestiona o comércio exterior

Tim Huxley, presidente do conselho de administração da Mandarin Shipping Ltd. de Hong Kong, disse que “em termos de comparação, se você colocar todos os 20 mil contêineres do “Ever Given” [em aviões], você precisaria de 2,5 mil aviões de carga [Boeing] 747s”.

E não podemos ignorar a real situação do Coronavírus que ainda preocupa o mundo, suspendendo operações, cancelando voos e deixando navios em quarentena ainda hoje.

Perspectivas de normalização do frete marítimo internacional 

Para falarmos sobre as perspectivas de normalização dos preços de frete internacional Ásia-China, o blog da Log entrevistou Jociano Motta, CEO da Cheap2Ship, plataforma de negociação de fretes internacionais. Confira a entrevista:

CEO da Cheap2Ship, Jociano Motta

Jociano, você acompanhou de perto o aumento drástico no valor do frete marítimo (China-Brasil). Na sua experiência, já tinha visto algo parecido?

“Desde que atuo no Comex e por conversas com outras pessoas que já estão há mais tempo no ramo, nunca presenciamos um valor tão alto de frete como o que aconteceu recentemente. 

Realmente foi algo que pegou muita gente de surpresa e desestabilizou toda a logística internacional como nunca antes.”

Quais foram os maiores desafios nesse período para os players do comércio exterior?

“Além do fator ‘preço’, que em algumas rotas quadruplicou, ocorreram também falta de espaço em aeronaves, falta de equipamentos (contêineres) em diversas rotas, falta de espaço em navios, problemas operacionais (pois diversos navios com casos de tripulação contaminada pela Covid-19 ficaram em quarentena), entre outros desafios que pouco eram vistos antes da pandemia.”

Quais as maiores dificuldades em transmitir o aumento do frete internacional a importadores e exportadores?

“Muitas pessoas não entendem que, no frete internacional, a dinâmica de valores é totalmente diferente de um frete nacional rodoviário, por exemplo. 

Para esse último, calcula-se o valor do combustível, depreciação do caminhão, desgaste dos pneus, pedágios e outros custos para se determinar o valor do frete rodoviário

No internacional, além da questão combustível, equipamento e outros custos, também existe a questão da falta de espaço, da pouca disponibilidade de equipamento (que acontece automaticamente com aumento de demanda) e da falta de oferta: os valores sobem e são atualizados de forma quinzenal. 

E quando os importadores e exportadores demoram muito a tomar uma decisão, acabam pagando mais caro em seus fretes e terminal por achar que o prestador de serviço agente de carga, por exemplo, é o culpado pelo custo elevado.”

Como a tecnologia pode ajudar os players nos próximos anos?

“Principalmente para tomar decisões de forma mais rápida e assertiva. A tecnologia veio para, acima de tudo, trazer agilidade e praticidade no dia a dia das empresas. 

Cotar um frete por meios tecnológicos, auxiliar as empresas a, por exemplo, reduzir custos ao mesmo tempo em que encontra um fornecedor com espaço disponível para aquele embarque urgente, a conseguir negociar os fretes com fornecedores e encontrar aqueles valores que, mesmo altos, garantem que seja o melhor negócio possível dentro das condições que o momento impõe.”

Existe perspectiva de normalização do frete internacional Ásia-Brasil via modal marítimo?

“É difícil prever. Infelizmente, o mais provável é que apenas para meados de 2022. A pandemia ainda se estenderá por 2021 em diversas localidades até que a maioria dos países tenha sua população vacinada, então teremos que conviver com essa oscilação de valores de forma constante. 

Lembrando que são apenas previsões de mercado. As chances são remotas, mas não seria impossível a situação melhorar antes disso num cenário extremamente favorável.”

Como superar altos valores do frete internacional?

Existem algumas estratégias que podem ajudar as empresas que atuam no comércio exterior e estão enfrentando os desafios citados neste aqui:

  • Planejamento antecipado das importações. Entender oferta e demanda, para ser possível calcular o investimento do frete internacional e, assim, garantir uma logística antecipada;
  • Acompanhamento semanal dos valores de frete
  • Revisão de custos logísticos para buscar soluções de redução de custos
  • Estudar diferentes opções de rotas
  • Uso da tecnologia.