A COVID-19 desorganizou a cadeia de suprimentos e intensificou ainda mais a desaceleração econômica já esperada para 2020. Embora a recuperação econômica de muitos países tenha se mostrado mais palpável este ano, desde julho a China vem alertando para um novo surto provocado pela variante Delta, mais transmissível. Com a política de “zero tolerância” do país, não demorou para que as medidas de isolamento fossem implementadas e todos os modais da cadeia logística chinesa e do mundo fossem impactados. Neste artigo vamos entender esta situação da paralisação em Ningbo e como isso afeta o Brasil e o mundo.
Como as medidas de isolamento na China influenciam a economia brasileira?
No ano passado, antes mesmo do novo coronavírus chegar ao Brasil, o país já sentia as primeiras consequências para sua economia. Com essa variante agora não está sendo diferente:
- Frete marítimo ultrapassou US$ 10 mil por contêiner
- Rotas marítimas omitidas (Blank Sailing)
- Voos cancelados
- Falta de produtos importados da China
- Fábricas suspenderam suas operações.
Essa pequena amostra de consequências citadas acima gera prejuízos. Na macroeconomia costuma-se estudar ciclos econômicos que afetam positivamente ou negativamente uma economia até impactar o consumidor final do produto.
Neste cenário, sabendo que a China é o principal parceiro comercial do Brasil, quando o gigante asiático desacelera sua produção e enfrenta entraves logísticos, as consequências são logo sentidas no Brasil, e a falta de produtos pode levar a interrupções na produção, fábricas e intermediários fechando, desemprego, menos renda, mais inflação, menos investimento externo, resultando em um ciclo vicioso.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizou um estudo em julho de 2021 que apontou que mais de 70% das empresas e indústrias brasileiras apresentaram problemas logísticos como falta de equipamento (contêineres), cancelamento ou suspensão de escalas regulares e congestionamento em diferentes portos.
Ainda, 96% sentiram aumento no valor do frete internacional na importação.
Atualmente, existe uma competição a nível global por serviços de transportes e obviamente (como sugere o mercado) empresas do ramo dão preferência para países que possuem maior participação no Comércio Internacional.
Mesmo com grande capacidade, o Brasil corresponde apenas a 1% dos contêineres movimentados no mundo e está fora das principais rotas de navegação, o que causa uma enorme dificuldade em obter ganhos logísticos nesse período.
Paralisação em Ningbo: cenário atual da China e consequências para o mundo
A nova variante Delta preocupa a população chinesa e o governo do país busca formas de conter a proliferação do vírus em seu extenso território e no mundo. A nova variante está presente no sul e leste do país, onde estão localizados os principais portos e polos industriais.
Milhões de pessoas já estão em isolamento, empresas estão paralisadas, não há transporte e locomoção em regiões mais afetadas e a testagem em massa está sendo conduzida.
Essa situação já preocupa diversos países que dependem de matéria-prima chinesa para finalização de sua produção, principalmente para o planejamento do segundo semestre em que se inicia a temporada de compras em muitos países do ocidente.
Indústria
Chamada de “fábrica do mundo”, a China é responsável pelo abastecimento de muitos países e, por isso, suas atividades de importação e exportação são um importante índice para a economia global.
No entanto, em julho deste ano as exportações e importações da China cresceram abaixo do esperado, indicando o enfraquecimento de sua produção industrial. Com o novo surto e o fechamento de muitas dessas indústrias é provável que isso se estenda pelos próximos meses.
Polos logísticos
A situação dos portos chineses preocupa imensamente os players que participam do Comércio Exterior.
Afinal, o marítimo é o principal modal utilizado no mundo e o efeito dominó que sobrecarrega outros portos, desequilibra novamente a cadeia logística, gera congestionamentos e aumenta ainda mais o preço do frete internacional.
Isso não apenas para o Brasil, mas para muitos destinos, inclusive para os Estados Unidos, por exemplo — em que a rota para Los Angeles bateu um recorde histórico, aumentando 220% nos últimos meses (US$20,000 por contêiner de 40 pés).
Ningbo-Zhoushan – Terminal de Meidong
Ningbo-Zhoushan é um dos portos mais movimentados do mundo e é muito importante para as cargas com destino à América Latina.
O Terminal de Meidong teve suas operações suspensas depois de um trabalhador do porto ter sido infectado pela nova variante.
Em comunicado, o porto afirmou que está em negociação com companhias de transporte marítimo, direcionando-as para outros terminais, como o terminal de Beilun e de Xangai, por exemplo. Porém, outros terminais também estão congestionados e com suas operações atrasadas.
YangShan
Yangshan é um importante porto localizado em Shanghai e muitos navios foram redirecionados para lá em razão do fechamento do Terminal de Meidong, gerando um congestionamento intenso: estima-se que pelo menos 30 navios estejam aguardando atracação.
Terminal Yantian
Mais ao sul, Yantian é uma cidade em Shenzhen que enfrenta congestionamento de caminhões que tentam entrar no pátio de contêineres.
São registradas filas que podem levar dias ou até semanas de espera, uma vez que o porto não está operando com toda a sua capacidade. Esse gargalo também gera um efeito dominó na logística, ocasionando atrasos na programação de navios e mais congestionamentos.
Pequim
Na capital Pequim, toda população está avisada para não deixarem suas casas e permanecer em isolamento e as linhas ferroviárias estão suspensas.
Guangdong
Desde junho Guangdong, porto no sul da China, se preocupava novamente com o vírus, cancelava voos e mantinha a população em lockdown.
Mais uma vez é possível testemunhar outros portos sobrecarregados (dentro de sua capacidade) e o efeito dominó inevitável.
Aeroportos
Além de toda a situação do modal marítimo, a China ainda está cancelando diversos voos, inclusive domésticos, como é o caso dos voos de Ningbo para a capital Pequim. A saída do país fica exclusiva para casos de emergência.
Também é importante mencionar que a capacidade do modal aéreo ainda está reduzida, graças à redução da demanda por voos a nível global.
Adversidades climáticas na China
Como se não bastasse, não é apenas a COVID-19 que está desestabilizando as atividades logísticas da China.
Em julho o país enfrentou adversidades climáticas que suspenderam também operações logísticas em todos os modais: foram registrados mais de 4500 cancelamentos de voos em apenas uma semana.
O Tufão In-fa provocou inundações nunca vistas antes no país e especialistas alertam que tais adversidades se tornarão ainda mais frequentes em razão das mudanças climáticas.
Feriado Golden Week
Outro fator que os players devem estar atentos é para a chegada do feriado Golden Week na China, que vai de 1 a 7 de outubro.
Nesse momento as empresas fecham totalmente suas atividades e, dependendo de como se desenrolar a nova situação da COVID-19, este período ainda pode ser estendido — assim como foi no Ano Novo Lunar em 2020.
Por isso, é importante o planejamento antecipado e a boa coordenação dos embarques.
Perspectivas & Planejamento
Com esse período tão caótico para o Comércio Exterior e a alta demanda do modal marítimo, as previsões para os próximos meses são taxas ainda mais altas e maior dificuldade em conseguir reservas, o que pode até mesmo prejudicar as compras de Black Friday e Natal. Portanto, é necessário que empresas e profissionais da área foquem no planejamento, na criação de estratégias e muita resiliência.
Estudo de rotas e frete
Entender as principais rotas, tarifas aplicadas e criar um plano de inteligência logística é muito importante para mitigar riscos e encontrar uma estratégia em caso de voos cancelados e terminais suspendendo suas operações.
Leia mais: Por que o estudo de fretes é importante?
Uso da tecnologia
Com tantas adversidades acontecendo, profissionais e empresas não podem trabalhar com margem muito alta para erros. Um erro simples pode causar ainda mais atrasos e prejuízos para a operação. A tecnologia de automatização ajuda a reduzir erros manuais e a otimizar o tempo e a operação como um todo.
Leia mais: Multas na importação: entenda quais são e como evitá-las
Planejamento antecipado
A coordenação e planejamento antecipado do embarque é essencial para que a operação saia conforme desejado e com tempo útil caso algum imprevisto aconteça. Ignorar esta etapa pode gerar atrasos, prejuízos e surpresas indesejadas.
Leia mais: Como ter processos inteligentes?
Comunicação com clientes, fornecedores e equipe
A boa comunicação se torna indispensável com todos os stakeholders, portanto, é muito importante que toda a equipe esteja atualizada para entender o que está acontecendo e, assim, seja possível justificar para o cliente possíveis aumentos de preços.
É importante que fornecedores também tenham esse entendimento sobre o que está acontecendo no seu mercado e, assim, obter as melhores negociações.
Leia mais: Planilha de Follow-Up de embarque: por que é importante?
Um bom relacionamento com nossos clientes e parceiros é nosso principal objetivo, por isso a Locomex busca atualizar e trazer soluções para os desafios dessa nova fase do Comércio Exterior e Logística.